Fui assistir no feriadão (de 7 de setembro), em Porto Alegre, a dois expoentes do cinema nacional, que estão sendo incensados pela crítica e pela impressa cultural: "Que horas ela chega?" [Depois de deixar a filha no interior de Pernambuco e passar 13 anos como babá do menino Fabinho em São Paulo, Val tem estabilidade financeira mas convive com a culpa por não ter criado sua filha Jéssica.Às vésperas do vestibular do menino, no entanto, ela recebe um telefonema da filha que parece ser sua segunda chance. Jéssica quer apoio para vir a São Paulo prestar vestibular. Com alegria e ao mesmo tempo apreensão, Val prepara a tão sonhada vinda da filha, apoiada por seus patrões. Mas quando Jéssica chega, a convivência é difícil. Ela não age dentro do protocolo esperado para ela, o que gera tensão dentro da casa. Todos serão atingidos pela autenticidade de sua personalidade. No meio deles, dividida entre a sala e a cozinha, Val terá que achar um novo modo de vida - do site do Guia da Semana], de Anna Muylaert, e "Obra" [Às vésperas do nascimento de seu primeiro filho, um arquiteto, João Carlos (Irandhir Santos), encontra uma ossada na obra que está prestes a iniciar. A descoberta desestabiliza sua vida, fazendo com que ele questione sua profissão, a cidade em que vive e até mesmo o relacionamento com sua esposa (Lola Peploe)], de Gregório Graziosi. Na verdade, referindo-me primeiro ao trabalho de Anna Muylaert, só conferi o longa "Durval Discos", de 2002, sob sua direção, mas assisti ao "O ano em que meus pais saíram de férias", de 2006, e ao "Xingu", de 2012, cujos roteiros ela assina. Suponho que Graziosi esteja iniciando no cinema, porque não encontrei artigo algum sobre sua filmografia. Ele acertou ao convidar o grande ator Irandhir Santos para fazer o papel do protagonista de "Obra". Irandhir já foi visto em "Cinema, aspirinas e urubus", em 2004/2005, de Marcelo Gomes. Depois, no belíssimo "Viajo porque preciso, volto porque te amo", de Marcelo Gomes novamente em parceria com Karim Ainouz. Em 2010, reaparece em "Tropa de Elite 2" e, em 2011, no maravilhoso "A febre do rato", de Cláudio Assis. Em 2012, protagoniza o longa de Kleber Mendonça Filho, "O som ao redor", que lhe dá fama internacional. "Tatuagem", em 2013, "A história da eternidade" e "Permanência", ambos de 2014, atestam a profusão de personagens que Irandhir vem encarnando no atual cinema nacional. Não consegui assistir ao "A história da eternidade", mas uma vez disponível em DVD, o conferirei. Sobre o longa "Que horas ela chega?", sem maiores comentários. Fiquei emocionada com a abordagem social do longa e as ambiguidades das diferenças de classes no Brasil. Regina Casé, mesmo para os que a detratam, está perfeita em seu personagem. Eu que a vi pela primeira vez em um palco, no grupo "Asdrúbal trouxe o trombone", no início dos anos 80 em Porto Alegre, tenho apreço por seu nome e trabalho no cinema. Prestigiem o nosso cinema, pessoal!