terça-feira, 3 de setembro de 2019

BACURAU: UM LONGA PLETÓRICO DE FIGURAS DE LINGUAGEM!

    


 
                                              Bacurau: Brazil in a nutshell - Cine Suffragette - Medium
                                                                       Fonte: Google

Sempre que escrevo um comentário sobre um filme ou um documentário neste blog é porque fiquei impressionada e tive algum tipo de fruição estética, após o espetáculo. Não leio críticas especializadas antes de assistir a um filme, tampouco antes de me reportar ao meu blog. Portanto, esta é expressão escrita de uma visão muito particular de "Bacurau", sem pretensão alguma e sem comprometimento com qualquer escola crítica. O longa dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles arrebatou o prêmio do júri no Festival de Cinema de Cannes neste ano, foi projetado em vários outros festivais e, em agosto, entrou em cartaz nas salas brasileiras. Arrebatou-me também, devo assumir!

   Passei a me interessar pela música produzida em Pernambuco há muitos anos atrás e, com o filme "O som ao redor", dirigido por Kleber Mendonça Filho e lançado no país em 2013, tive uma verdadeira vontade de conhecer Recife e Olinda, em Pernambuco.

    Três anos após, com "Aquarius", de 2016, e sua narrativa sofisticada, coproduzido por Walter Salles e também apresentado em Cannes, comecei a entender um pouco a urdidura cinematográfica do diretor pernambucano.

   Feito o prólogo, vamos ao filme. Eu o assisti no dia 2 de setembro. Não me interessa aqui se é uma distopia, um conto sociopolítico, se tem nuanças político-partidárias etc. Meu ponto inicial é o título, que guarda simetria com o nome do pássaro bacurau (Nyctidromus albicolis. In: www.wikiaves.com.br). Esse pássaro é típico do cerrado e seu nome indígena é "A-ku-ku". Também conhecido por "Amanhã-eu-vou", em Minas Gerais, é possuidor de grandes asas, o que lhe permite caçar insetos, voando. O nome bacurau é uma onomatopeia, ou seja, é a própria vocalização que o pássaro emite. Temos aí a primeira figura de linguagem que encontrei em "Bacurau". O pássaro voa à noite para se alimentar e, durante o dia, fica camuflado na vegetação rasteira. Os locais só o veem se ele se assusta e se muda de lugar, em um voo curto.

    O sentido de bacurau como "amanhã-eu-vou" também tem simetria, por sua vez, com o subtítulo do filme, que indica que o tempo da ação será localizado no futuro. A partir dessa informação, parece que só se fala em distopia no tratamento narrativo de "Bacurau". O filme é muito mais; está repleto de intertextualidades e as tais figuras de linguagem, que indiquei no título!

     Após conhecermos Teresa  (Barbara Colen), que retorna ao povoado para o funeral de Dona Carmelita, falecida aos 94 anos, matriarca emblemática do povoado, vamos conhecendo os outros personagens como o professor Plínio  (Wilson Rabello), a médica Domingas (Sônia Braga está poderosa!) e Pacote/Acácio (Thomas Aquino). Percebemos os laços, as tensões e a identidade comunitária entre os habitantes no ritual fúnebre, além das tessituras individuais. Mais adiante, após uma série de assassinatos misteriosos, que abalam a comunidade (sem falar no caminhão-pipa, que chega à vila cravejado de tiros, o que coloca o abastecimento de água em risco), um outro personagem, não menos relevante, descortina a narrativa. Trata-se de um foragido que atende por Lunga (brilhantemente desenvolvido por Silvero Pereira, que enseja a reencarnação de Lampião),  um criminoso para a Polícia, porém um protetor para os menos assistidos de Bacurau. Lungo vive escondido, com mais dois capangas fortemente armados, numa torre de uma usina desativada, próxima ao povoado. Ele é convocado a retornar a Bacurau para organizar a contra-ofensiva dos habitantes em relação a pessoas que eles sequer sabem quem são e o que desejam. 

     Até esse ponto do longa, o prefeito da cidade já esteve junto aos habitantes, fazendo campanha para uma possível reeleição. Deixa donativos e caixões fúnebres para os habitantes, que são ignorados. É a segunda vez que caixões são vistos em cena. No início do filme, Teresa vai chegando em Bacurau e a uns 17 quilômetros de distância encontra um caminhão de esquifes virado na estrada. Cartografando o povoado, esse estaria localizado, de modo fictício, no interior de uma cidadezinha no sertão pernambucano.  No entanto, simultaneamente aos assassinatos ocorridos, inclusive de uma criança, a cidade desaparece do mapa digital, monitorado por satélite, e o sinal de celular é cortado, por ocasião da visita de dois forasteiros que chegam de moto dissimulados de trilheiros. Ela, a forasteira,  coloca sob uma mesa de bar um inibidor de sinal de telefonia móvel. Todos os cidadãos ficam sem poder se comunicar entre si e são mantidos isolados, em relação ao centro da cidade. Um drone, em forma de OVNI, é visto, no mesmo período, por um dos moradores sobrevoando a região, o que causa alerta e apreensão. 

     A configuração espacial do povoado de Bacurau lembra a de uma aldeia indígena, aos moldes daquelas que existiram no litoral e no interior de Pernambuco, antes da chegada dos europeus. As etnias de língua tupi eram os Tupiniquins, os Tabajaras e os Caetés, esses extremamente violentos com seus inimigos. Os de língua não tupi, que adentraram o interior do estado, eram os Tapuias. Quando o prefeito de Bacurau aparece na comunidade, a atitude daquele que detém o poder político remonta aos representantes da Coroa, que concediam benefícios aos indígenas aldeados e aliados aos portugueses. Felipe Camarão foi um eminente colaborador desse tipo.

    Na primeira parte do filme, pontuado por antíteses, pode-se reconhecer um certo realismo narrativo, exceto a cena de alucinação em que Teresa vê água saindo do caixão de Dona Carmelita. Na segunda metade do longa, prevalece o que poderíamos intitular de um "quase realismo mágico", um toque muito especial à carga estética do projeto. Para que a narrativa se enquadrasse, verdadeiramente, no realismo mágico, seria necessário que a percepção de tempo dos habitantes fosse cíclica, o que não ocorre em "Bacurau", uma vez que  a dimensão temporal é linear.

     Um último aspecto interessante, e que poderia legitimar a alegoria do conflito entre etnias indígenas e os europeus, ou entre o sistema de poder e o cangaço, é o uso de alucinógenos. No início do filme, Teresa, quando chega a Bacurau, recebe uma semente na boca, o que resulta em sua alucinação no cemitério. No momento da contra-ofensiva dos habitantes de Bacurau, todos os adultos recebem uma semente em suas bocas. Por ilação, percebe-se depois que as armas utilizadas no conflito são retiradas do Museu de Bacurau, um território simbólico que irmana os habitantes e mantém sua identidade cultural. Para a batalha hiperbólica, todos se encontram armados e sob efeito alucinógeno!

      A droga, de efeito cinestésico, utilizada pelos cidadãos, no momento pré-ofensivo, pode ser a Jurema negra (Mimosa hostilis). Inicialmente, essa droga era, nas etnias da América, reservada a indivíduos com funções religiosas ou mágicas dentro de uma comunidade (no filme, não vemos uma figura religiosa ou mesmo um padre). Entretanto, o uso se disseminou, em especial,  quando da chegada de europeus no litoral brasileiro (WASSÉN, 1993). Em 1946, o químico pernambucano Gonçalves de Lima descobriu a presença do DMT (N, N-dimetiltriptamina) na planta Jurema, possuidora de um alcaloide chamado de 'nigerina'. Sua utilização está inserida em uma ampla tradição de consumo de plantas psicoativas. A Jurema e a Ayahuasca compartilham da mesma homologia química, pois ambas contêm o DMT (CARNEIRO, 2004).

     Após o embate entre bacurauenses [sic] e inimigos (não falarei deles para não dar um spoiler!), tem-se a última hipérbole do filme. Não me causaria estranheza se os inimigos fossem devorados pelos habitantes em um ritual de antropofagia, muito comum entre os Caetés, também conhecidos no Nordeste por "papa-bispos".

    Por fim, sem detalhar a ação dos inimigos e sua estratégia, a conivência do prefeito e o final apoteótico do conflito, eu consideraria o roteiro muito mais rico, historicamente, se um ator holandês tivesse sido escalado para o longa, ainda que, do ponto de vista histórico, um alemão judeu, Jacob Rabbi, tenha vivido com os Cariris no Nordeste, no período de conquista de território brasileiro pelos Países Baixos (aludi ao ator alemão Udo Kier, que atua no filme). 

      "Bacurau" é uma obra de arte e merece ser conferida por brasileiros preocupados com a crise econômica e moral que assola o nosso país, com a precariedade da arte e da cultura brasileiras e com o futuro da Amazônia! Vida longa a "Bacurau"! Pela democratização do cinema no Brasil!

Referências:

CARNEIRO, H. As plantas sagradas na história da América. Varia Historia, Belo Horizonte, n. 32, 2004.
WASSEN, S. H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial, o rapé e a parafernália pertinente. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 3, 1993.



domingo, 14 de julho de 2019

OS 50 ANOS DA MISSÃO APOLO 11 (CELEBRATE THE APOLLO 50TH ANNIVERSARY)


No dia 21 de julho de 1969, eu vivia em São Paulo e tinha oito anos completos. Meu pai, jornalista gráfico do Jornal da Tarde (do Estadão), estava empolgado. Ligou a TV, quando chegou do trabalho, e juntos acompanhamos a reportagem sobre a conquista da Lua pelos  dois primeiros astronautas estadunidenses, Armstrong e Aldrin (até a missão Apolo 17, mais dez astronautas também pisaram em solo lunar e coletaram muito material do satélite. Você sabia disso?). O Apolo 11 havia sido lançado no dia 16 de julho, propulsionado pelo foguete Saturn V. Os primeiros passos sobre o solo lunar foram vistos pelo mundo somente no dia 21 (EFE: http://www.efe.com), no auge da Guerra Fria. Meu pai fotografou as imagens dos astronautas no solo da Lua diretamente do monitor da TV - eu guardo estas fotos com carinho há meio século... 

Há várias mostras e atividades pelo mundo, que integram as comemorações dos 50 anos da missão Apolo 11. No Brasil, tenho tentado identificá-las, mas não as encontrei, com exceção de um evento do Planetário da UFRGS, aqui em Porto Alegre. Na terça, 16 de julho, telescópios foram instalados na praça do planetário para a observação do eclipse parcial da Lua. Essa atividade foi aberta aos interessados e marcou a semana da chegada do homem à Lua. Abaixo, segue uma foto minha feita pelo celular:

Para quem viajar a Nova York nos próximos meses, o Metropolitan está celebrando a missão Apolo 11 com uma mostra fotográfico-documental, desde o início de julho, intitulada Apollo's Muse: The Moon in the Age of Photografy, que reúne 170 fotografias do satélite, pinturas, desenhos, filmes, objetos e aparelhos astronômicos. A curadoria é de Mia Fineman e a mostra pode ser visitada até 22 de setembro (In: http://www.gothamtogo.com).

Enquanto isso, teremos de aguardar até o final do ano para conferir um documentário muito comentado nos EUA, o When we were Apollo, de Zachary Weil (que estará disponível no streaming da Amazon Prime), sobre os milhares de desconhecidos que fizeram parte da missão Apolo 11, representados por 19 ex-funcionários, selecionados para as entrevistas.

Figuram duas mulheres, entre os demais. Uma delas é Heidi Collier, filha do cientista alemão Fritz Weber, que trabalhava com a fabricação de foguetes durante a Segunda Guerra Mundial. Depois, foi acolhido nos EUA pelo seu  vasto conhecimento sobre o tema (In: http://www.newbeezer.com). O teaser do documentário está disponível no You Tube e os comentaristas afirmam que se trata de um trabalho diferenciado, que destaca o orgulho e o envolvimento da equipe multidisciplinar, tornando possível a missão e seu desfecho bem-sucedido. 

Vamos aguardar!

segunda-feira, 6 de maio de 2019

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DA SÉRIE NAPOLITANA, DE ELENA FERRANTE

                                                                     
       Resenha do livro A AMIGA GENIAL – Elena Ferrante (Primeiro volume da S
                               Fonte: Google                                                  
                                                    

                          Primeira parte: sobre “A amiga Genial” (vol. I) 

Terminei de ler a “série napolitana”, de Elena Ferrante. Eu imaginei que pararia no primeiro volume, mas não foi o que ocorreu. A tetralogia inicia-se com A amiga genial, publicada na Itália em 2011; a série apareceu entre 2011 e 2014 na Europa. Não se sabe quem é Elena Ferrante. Há anos, o pseudônimo encobre uma personalidade cuidadosa, que preza a segurança e o anonimato. Os quatro romances foram publicados no Brasil pela Editora Biblioteca Azul, um selo da Editora Globo, a partir de 2015, com a eficiente tradução de Maurício Santana Dias.
Levei 29 dias para ler os quatro volumes, o primeiro em papel, os outros três em e-book. Terminei a leitura de mais de 1200 páginas exatamente no dia 25 de abril, uma data muito emblemática para os italianos, o Dia da Libertação, que celebra o término do fascismo de Mussolini e da ocupação nazista na Segunda Grande Guerra.
A partir disso, iniciarei minhas reflexões e impressões acerca da série, considerando, inicialmente, alguns elementos políticos e, em um segundo momento, a intertextualidade presente na obra e as ressonâncias que ecoam ao fundo, em meu ponto de vista bem particular.
Para uma maior compreensão do que segue, Raffaela Cerullo é chamada de Lina por todos e de 'Lila' apenas por Elena Greco (Lenuccia ou Lenu). Para quem não leu os quatro romances, já aviso que haverá spoilers pelo caminho.

Prólogo – Quando se ouve falar em Nápoles, a maior parte das pessoas tem como referência a gastronomia e a lembrança da famosa pizza napolitana. Sou cidadã italiana e já passei uma semana inteira em Nápoles, em janeiro de 2017. Estive no maravilhoso Museu Arqueológico napolitano; depois, visitei as ruínas de Pompeia. Viajei até Salerno, a parte final da costa amalfitana, e também fui conhecer os templos greco-romanos de Pesto, tão deliciosamente comentados por Goethe, em sua “Viagem à Itália”. Todavia, senti-me insegura em Nápoles, viajando sozinha. Achei a cidade suja e muito barulhenta, ainda que sua riqueza artístico-cultural tenha me arrebatado. Mesmo com todos os cuidados tomados, fui assaltada por um jovem africano na Praça Garibaldi. Tive um significativo prejuízo, mudei de hotel e passei um dia abalada. Fiz um esforço enorme para racionalizar o meu revés e segui viagem – sem celular. Eu vinha acompanhando a RAE, todas as noites no hotel, e soube que mais barcos haviam atracado no Porto de Nápoles e que dezenas de africanos haviam chegado à cidade (da Eritreia, de Gana e da Gâmbia). Houve uma onda de frio justamente naquela semana e a Diocese tentava aplacar o frio dessa população, angariando fundos para agasalhos e alimentação. Os africanos estavam todos perfilados na rua, no chão, que margeia a Praça Garibaldi, a uns 200 metros da entrada principal da estação de trem, da Napoli Centrale, vendendo produtos chineses. Exatamente ao meio-dia de um domingo, resolvi abandonar o hotel para o qual eu já havia pago todas as diárias e me trasladar para um outro, em uma região mais segura. Fui abordada por um africano de uns dois metros de altura. Ele puxou a minha mochila de minhas costas com muita força. Quase caí. Segurei a mala de viagem em um rápido impulso. Daí, a mochila se abriu e ele retirou, com sua enorme mão, tudo o que conseguiu carregar. Virei-me para trás e o vi correndo. Ninguém fez nada. Outros turistas passavam pelo trecho, rumo à estação. Fiquei muito chateada! Sem o celular - todas as minhas fotos se perderam -, segui viagem para a Grécia sem poder documentá-la. Esses africanos tinham sido aliciados pela máfia local.

Contexto político-cultural dos romances – Todas as informações que possuo foram garimpadas de um livro fantástico, o Gomorra, que retrata as máfias italianas. Foi publicado há mais de 10 anos na Itália pelo jornalista Roberto Saviano. Desde lá, ele vive sob escolta policial. Aqui no Brasil, faz dez anos que a Bertrand Brasil o editou.
No dia 25 de abril, li na imprensa italiana que o líder ultradireitista Matteo Salvini, Ministro do Interior do atual governo, negou-se a participar das comemorações do Dia da Libertação, ao visitar a cidade de Corleone. Salvini comentou à imprensa que, para ele, a data não passa de uma disputa clássica entre fascistas e comunistas. Silvio Berlusconi, que ocupou o cargo de Primeiro Ministro da Itália por nove anos no total, já questionava essa efeméride em sua época. Esse dérbi entre duas facções políticas assombra os quatro romances de Elena Ferrante. Ora alguns personagens são perseguidos pelos fascistas, ora outros se rendem ao apelo comunista e aos embates do proletariado napolitano.
No percurso da infância até a velhice dos personagens, levando em conta os mais militantes, não constatei referência alguma ao 25 de Abril nas páginas de Ferrante.
O que me deixou mais intrigada foi o fato de que os personagens principais, e suas respectivas famílias, não frequentam a igreja aos domingos (nos quatro romances). Não há menção à missa dominical tampouco às práticas católicas como a catequese, a primeira comunhão, a crisma e as confissões periódicas. A autora (ou autor?) da tetralogia certamente é agnóstica ou ateia. Entretanto, não considerar o exercício do catolicismo entre napolitanos da classe operária - na infância de Lenu e de Lila, as protagonistas -, parece-me um problema de verossimilhança. Procurei textos de resenhistas e de comentadores sobre a obra de Ferrante, mas não encontrei nada aprofundado sobre esse tema. A missa aos domingos, para os italianos, é uma prática profundamente arraigada à sua cultura religiosa e é a base de sua educação familiar. Não consigo imaginar a família de um humilde sapateiro (família de Lila) e a de um contínuo (família de Lenu) não frequentarem a igreja, ao menos, aos domingos, vestindo seus melhores trajes. É assim que percebi a obra como um todo, sem referências ao papado, sem beatices, sem dogmas religiosos! O filho que Lila tem com Stefano chama-se Gennaro (depois, apelidado de Rinu), nome do santo padroeiro de Nápoles. Vai entender!
Com relação à máfia napolitana, muito eu teria a comentar, mas tentarei não ser prolixa. A Camorra, como é conhecida a máfia de Nápoles, atua em toda a região da Campânia, mas hoje tem fortes laços com o crime internacional. É denominada, atualmente, de “sistema”, formada de um aglomerado de famílias, os clãs, com, aproximadamente, 250 gangues operando somente nessa cidade. A Camorra teria surgido em Nápoles nos séculos XVI e XVII. O porto napolitano recebe toneladas de produtos legais e ilegais diariamente, que são distribuídos por todo o país. O fato de ser uma cidade portuária foi decisivo para a implementação do crime organizado, desde a falsificação de artigos de luxo de grifes internacionais até a indústria de vários tipos de resíduos. Em dialeto napolitano, “ca + morra” significa “com a morra”, ou seja, com o jogo, nome de um jogo muito popular na Itália, que é a morra. O sentido seria de a organização criminosa atuar 'à maneira da morra'. Esse jogo pode se tornar violento e machucar os dedos dos jogadores no embate. Foi levado do Vêneto para o Brasil pelos imigrantes.
Nos romances de Ferrante, da série napolitana, a família Solara, que atua na periferia - na qual Lenu, Lila e demais personagens vivem -, envolve-se com a corrupção, com o crime, com a lavagem de dinheiro e, mais adiante, com o tráfico de drogas. A violência é a tessitura da narrativa, desde a primeira infância até a velhice dos personagens, como o Vesúvio é o pano de fundo das mazelas vividas pelas famílias.
Quanto ao patrimônio histórico-artístico de Nápoles, não há menção alguma nos quatro livros às ruínas das cidades romanas, que ressurgiram das cinzas do Vesúvio. Somente no quarto livro, que será comentado por mim, na quarta parte desta resenha, Lila retoma a leitura e passa a frequentar o arquivo histórico e a biblioteca, esmerando-se no estudo da arquitetura e da arte napolitanas. A partir de suas manifestações, é possível traçar um roteiro, ir a Nápoles e fazer “o percurso de Elena Ferrante”.

Contexto mítico: Eneias e Dido – Dido significa, em fenício, “a errante” (é o leitmotiv de Eneida, de Virgílio). Esse é o mito que hidrata o primeiro livro de Ferrante e é o tema de uma das redações que Lenu escreve em sala de aula. Eneias é filho de Anquises e Afrodite. É um príncipe troiano mencionado na Ilíada, de Homero. A tradição concorda com o fato de que Eneias foi poupado pelos deuses na Guerra de Troia, de lá partiu para a região do Láscio na qual se estabeleceu, com a missão divina de fundar Roma. Casou-se com Lavínia e teve um filho chamado de Ascânio ou Lulo. Rômulo, mais tarde, descenderia dessa linhagem que, séculos depois, fundaria Roma. Antes de chegar ao Láscio, porém, Eneias atraca em Cartago (na Tunísia atual), cidade comandada pela Rainha Dido, com quem tem uma aventura amorosa. Virgílio narra as errâncias de Eneias, aos moldes de Homero, que decide retomar o plano inicial delegado por um deus, logo após chegar a Cartago. Vai embora não conseguindo se desvencilhar de seu destino. Dido, que era viúva e foragida de sua cidade natal, desesperadamente apaixonada por Eneias, suicida-se.
No primeiro volume, A amiga genial, no capítulo 25, Lenu escreve uma redação intitulada “As várias fases do drama de Dido”, a rainha cartaginesa de Eneida. Esse texto cai nas graças de sua professora, que faz com que ele circule entre os docentes da escola, até que chega às mãos da Prof. Galiani, que era a responsável pelas aulas de Grego e Latim na instituição. Essa era a professora de Nino Serratore, o garoto com quem Lenu sonhava. O argumento da redação foi elogiado por Galiani, “uma cidade sem amor”, que poderia ser equiparada à própria Itália daqueles idos sob o fascismo de Mussolini. Galiani ficou, então, impressionada com a maestria da menina. Era tudo o que Lenu precisava, contando que os elogios chegassem aos ouvidos de Nino.
Nesse momento da narrativa, Lenu colhe seus louros; todavia, Lina para de ler e deixa de frequentar a biblioteca, alegando que os livros fazem “mal à sua cabeça”. Possivelmente, alguns elementos da construção da personagem de Dido, no poema virgiliano, serviram de inspiração para as idiossincrasias de Lila. É indubitável que Elena Ferrante tenha bons conhecimentos da área de estudos clássicos, na medida em que nuanças míticas floreiam sua tetralogia. A inteligência de Lila (sua méthis) nos remete ao uso da mesma astúcia por Dido, em Eneida. Dido suicida-se ao saber que Eneias não ficará em Cartago. Não obstante o influxo trágico de sua vida, Lila não se suicida e Lenu, no prólogo do primeiro volume, sob o efeito da notícia do desaparecimento de Lila, já com 60 anos, assevera que a amiga jamais comentara a possibilidade de acabar com sua própria vida. O drama da trajetória de Dido e Lila enseja marcas intertextuais como: o caráter hostil das heroínas em relação ao irmão; a discórdia e a ganância dos familiares; o fato de que Eneias abandona Dido e Nino, Lila; a beleza e a sensualidade de ambas; e a transgressão da imagem clássica feminina, de fraca e passiva, passando à atuante e à líder local.
Não tive mais dúvidas, ao terminar a leitura de A amiga genial, que estava a me deliciar com uma tragédia moderna, que ressignifica o mito de Dido e amplifica a luz sobre o poema de Virgílio. 
                                                                

domingo, 21 de abril de 2019

O CENTENÁRIO DA BAUHAUS (1919-1933)

          Desde o início de abril, venho assistindo a vídeos e lendo artigos sobre os 100 anos da Bauhaus. Senti-me compelida a escrever algo reflexivo sobre essa escola e, especialmente, sobre o modo como os professores ensinavam seus alunos - e, por fim, o mais importante para mim, o que mais me sensibiliza enquanto sua herança cultural.
    O mote emblemático da Bauhaus, "Die Form folgt der Funktion" ("A forma segue a função") persegue-me há muitos anos, desde que comecei a estudar e dar aulas de Estética no curso de Filosofia em uma universidade. Estive no primeiro prédio da Bauhaus em Weimar, em um arquivo da Bauhaus em Munique e na Bauhaus em Berlim, último momento da escola antes de seu fechamento. Kandinsky e Klee foram professores de seu quadro, dentre muitos outros artistas, arquitetos, escultores e dramaturgos. De lá para cá, só aumentou o meu interesse sobre a dimensão pedagógica da Bauhaus e sua influência, enquanto escola programática, em várias expressões da Arte, da Arquitetura e do Design. Indico-lhes o programa semanal 'Camarote 21', da Deutsch Welle, especial sobre o centenário da Bauhaus, para os interessados. 
       Sabe-se, após significativas produções acadêmicas, que não há uma relação determinante da função de um objeto sobre sua forma. A massificação do consumo, o status e as diferenças sociais acabaram por transmutar dezenas de objetos (o exemplo clássico é o talher/talheres, que passaram por inúmeras remodelações para diferenciar os talheres do burguês dos talheres do empregado), desenvolvidos e sofisticados não apenas sob a ótica de seu performance.
       Etimologicamente, Bauhaus tem o sentido de "uma casa para ser concebida/arquitetada"; portanto, a dimensão pedagógica da própria denominação da escola faz alusão ao  seu conteúdo programático, que evoca uma visão integradora entre o aporte teórico e a práxis, entre Artes Plásticas e artesanato, teorização e experimentação. Esse apelo funcionou muito bem como marketing para chamar a atenção de alemães de todas as regiões do país e também de estrangeiros. No pós-guerra, era necessário galvanizar uma nova visão de mundo, condensar esforços para reconstruir o país e diversificar seu modo produtivo. Isso foi inspirador para uma geração inteira e para muitos outros países.
    Em 25 de abril de 1919, foi inaugurada a Staaliches-Bauhaus, em Weimar, mantida, então, pelo governo alemão, até 1931, quando foi transferida para Berlim. Com a Segunda Guerra Mundial, a escola foi fechada pelo terceiro Reich. Kandinsky e Klee foram professores da Bauhaus e tiveram de fugir da Alemanha nazista. Suas obras foram expostas em 1937 como "arte degenerada".
    Do ponto de vista filosófico, a Bauhaus encerrava no entre-guerras (1919-1933) uma concepção de "arte total" (Gesamtkunstwerk), que implicava uma 'virada  estética' na infraestrutura produtiva (funcionalidade, versatilidade, luminosidade, praticidade, novas texturas e baixo custo), provocando, com isso, uma transformação nos vetores da superestrutura social, sua visão de mundo e sua cultura, uma força que remodelaria a criação artística como um todo e os rumos da própria Arte Moderna.
   Chancelada por Walter Gropius, o corpo docente da Bauhaus tinha uma formação multidisciplinar e seus alunos aprendiam segundo um modelo integrador e metodológico: primeiro, frequentavam as oficinas nas quais tinham contato com os materiais e maquinaria; em um segundo momento,  aprendiam as teorias estéticas, a História da Arte e da Arquitetura; por fim, faziam suas escolhas e partiam para a experimentação.
     No Brasil, o Centro Cultural Banco do Brasil SP apresenta uma mostra única sobre os '100 Anos da Bauhaus', até o dia 29 de abril. Para quem tem interesse e reside em São Paulo, é uma oportunidade preciosa!

                        Bauhaus de Weimar (Google):


     Telas de Klee e Kandinsky (Google):





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