No início de fevereiro deste ano, estreou na plataforma da Netflix uma série documental, "Who killed Malcolm X", direção de Rachel Dretzine e Phil Bertelsen, de 2020, produzida pela própria Netflix. Assisti a todos os capítulos em apenas um dia porque fiquei muito tocada com as imagens de arquivo e com as novas provas encontradas, que poderão elucidar, de vez, quem foram os muçulmanos que executaram o ativista Malcolm-X na tarde de 21 de fevereiro de 1965, aos 39 anos. Foi um homem consciente de sua negritude e de sua pobreza, bem como da violência policial a que a população afro-americana era submetida todos os dias nos EUA, nas décadas de 50 e 60.
Batizado Malcolm Little, em 1925, em Nebrasca, ironicamente, de 'pequeno', não tinha nada: era alto, magro, bonito e um altivo orador, que se expressava muito bem, de modo articulado, embora não tenha tido a oportunidade de ingressar em uma universidade. Perdeu seu pai aos seis anos de idade, assassinado por representantes da supremacia branca, possivelmente, ligados à seita paramilitar racista, a Klu Klux Klan, fundada em 1865. Ainda muito jovem, apaixonou-se pelo Harlem em uma visita a Nova York e para lá se mudou. Estive no Harlem duas vezes e pude caminhar pela Boulevard Malcolm-X.
Segundo o The Washington Post, em uma reportagem assinada por Meagan Flynn, a Procuradoria Pública do distrito de Manhattan, comunicou o jornal por e-mail que estaria providenciando uma "revisão" no processo de Malcolm-X, no sentido de decidir ou não por uma reinvestigação, considerando-se que, nos EUA, assassinatos não prescrevem. Parece que o New York Times já havia noticiado a possível revisão do caso, antes de a série da Netflix estar disponível na plataforma. Não consegui localizar tal matéria no site do jornal.
Malcolm, chegando ao Harlem, tornou-se um "fora da lei": foi traficante e cafetão, até ser preso em 1946. Na prisão, teve a chance de ler muito. Fiz uma pesquisa em alguns blogs e encontrei várias listagens de obras. De forma resumida, Malcolm leu textos selecionados de Kant, Schopenhauer e Nietzsche, perscrutou a obra do geneticista Mendel e mergulhou em Sex and Race, de J. A. Rogers, e Negro History, de Carter G. Woodson. Esse último autor foi um historiador negro, fundador da 'Associação para os Estudos da Vida e da História Negra' nos EUA e precursor da semana da história negra, transformada depois no Mês da História Negra, comemorado todos os anos em fevereiro, nos EUA.
Ainda no período de encarceramento, aproximadamente seis anos cumprindo pena por roubo, Malcolm-X converteu-se ao Islamismo e aderiu à Nação Islã, presidida por Elijah Muhammad, um líder "muçulmano preto", expressão cunhada pelo grupo para diferenciar o "negro", remanescente da escravidão, do muçulmano preto, que era exortado a retornar à sua origem livre africana e muçulmana (dado do blog de Arthur Andrade, de 29 de fevereiro de 2016). Começou a se corresponder por cartas com Ellijah e, em 1952, sai da prisão e passa a "recrutar" jovens para as mesquitas dele, assinando seu nome com um X, porque Little, o pequeno, era entendido por ele como uma herança escravocrata.
Daí em diante, trabalhou durante 11 anos para Ellijah, ampliou, significativamente, o número de integrantes da Nação Islã, consolidou sua militância separatista e sua estratégia radical de se opor à igualdade racial e ao pacifismo de outros movimentos negros, viajou pelo país como representante do líder, fundou mesquitas e tornou-se um ministro assistente, com mais poder que os próprios filhos do fundador do grupo. A recepção e o destaque que Malcolm foi alcançando no país gerou atritos entre os membros da cúpula da Nação Islã, entre ele e um dos filhos de Ellijah, que não simpatizava com ele, e, aos poucos, Malcolm foi tomando ciência da corrupção disseminada no grupo, dos filhos bastardos de Ellijah e da fortuna acumulada da família.
Quando o presidente John F. Kennedy foi assassinado em 1963, Malcolm manifestou-se de um modo comprometedor aos olhos da Nação Islã. Dado o fato de que adquirira fama e respeito junto à imprensa, a outros líderes negros, como M. L. King Jr., e à população negra em geral, tornou-se uma ameaça ao líder Ellijah Muhammad. Na época, Malcolm foi para a Flórida e aproximou-se do pugilista Cassius Clay, que também se converteu ao Islamismo, imaginando que a iniciativa lhe traria prestígio junto à Nação Islã. Todavia, Malcolm foi silenciado, humilhado publicamente e afastado do grupo, além de proibido de falar em nome dos representantes da mesquita a qual frequentava.
Rompendo, então, definitivamente com Ellijah em 1964, Malcolm aproveita para fazer uma viagem à Meca, na Arábia Saudita, e compreende o quanto o Islamismo havia sido deturpado em seu país. Em seu retorno aos EUA, funda seu próprio movimento, a Organização da Unidade Afro-Americana, de natureza laica e não sectária, manifestando um tom mais brando em seu ativismo. A Nação Islã reagiu brutalmente e, na tarde de 21 de fevereiro de 1965, Malcolm foi palestrar para algumas dezenas de pessoas em um auditório em Manhattan. Não havia policiamento, somente um segurança no local. Quatro homens apareceram armados e o executaram com tiros de calibres 38 e 45 e de uma espingarda; ninguém sabia quem eles eram.
Três homens foram presos; dois deles sempre se autoproclamaram inocentes. Descobriu-se há pouco tempo, revelação chocante feita pela série da Netflix, que o segurança pessoal de Malcolm era do FBI, que a Polícia nova-iorquina foi conivente com a injusta prisão de dois deles, que os assassinos eram negros muçulmanos de uma mesquita de Newark e que o próprio FBI esteve infiltrado na comunidade de Ellijah Muhammad o tempo todo, através de vários agentes.
Malcolm-X, ou Al Hajj Malik Al-Shabazz, deixou uma esposa grávida e quatro meninas, que presenciaram o assassinato do pai. Recomendo que vocês assistam à série e que tirem suas conclusões. Há muitos mais detalhes a serem descortinados neste ano, se houver uma séria reinvestigação sobre a trágica morte de Malcolm-X.
Três homens foram presos; dois deles sempre se autoproclamaram inocentes. Descobriu-se há pouco tempo, revelação chocante feita pela série da Netflix, que o segurança pessoal de Malcolm era do FBI, que a Polícia nova-iorquina foi conivente com a injusta prisão de dois deles, que os assassinos eram negros muçulmanos de uma mesquita de Newark e que o próprio FBI esteve infiltrado na comunidade de Ellijah Muhammad o tempo todo, através de vários agentes.
Malcolm-X, ou Al Hajj Malik Al-Shabazz, deixou uma esposa grávida e quatro meninas, que presenciaram o assassinato do pai. Recomendo que vocês assistam à série e que tirem suas conclusões. Há muitos mais detalhes a serem descortinados neste ano, se houver uma séria reinvestigação sobre a trágica morte de Malcolm-X.
R.I.P., Malcolm-X (1925-1965)!