(O Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel, o Velho. Fonte: Google)
No site da Live Science, em colaboração com All About History (www.livescience.com), encontrei um artigo muito interessante sobre as pestes, epidemias e pandemias, que devastaram a população mundial ao longo da História, assinado por Owen Jarus, jornalista científico com formação na Universidade de Toronto. Verti para o Português alguns trechos, em tradução livre, e as costurei com informações que obtive em outras leituras, na perspectiva diacrônica, para tentar compreender que possíveis mudanças (ou não) podem ser detectadas nas sociedades no período pós-epidêmico.
Foram encontrados esqueletos humanos de, aproximadamente, cinco mil anos no Nordeste da China. Esse sítio arqueológico bem-conservado chama-se Hamin Mangha e sugere que uma epidemia tenha feito muitas vítimas - homens, mulheres, crianças, jovens e idosos -, em um povoado "pré-histórico", considerando que o material humano estava confinado em uma espécie de casa, que sofreu um incêndio no mesmo período da datação.
Tucídides (460 a. C - 400 a. C.), um dos grandes historiadores da Grécia Antiga, relata em sua obra A História da Guerra do Peloponeso, que, por volta de 430 a. C., uma epidemia assolou Atenas por cinco anos, vitimando 100 mil pessoas, ocorrida durante a vigência da guerra contra Esparta. Os doentes apresentavam calores violentos na cabeça, segundo o historiador, e suas gargantas e línguas sangravam, provocando uma respiração ofegante e um odor fétido. Os estudiosos não chegaram a uma conclusão definitiva por falta de evidências; todavia, aludem à Febre Tifóide ou mesmo ao Ebola. Atenas foi enfraquecendo suas defesas e acabou perdendo a guerra para Esparta.
A Peste Antonina matou mais de cinco milhões de pessoas no Império Romano (entre 27 a. C e 180 d. C), no retorno das legiões romanas para casa, conforme pesquisa acadêmica conduzida pela Prof. April Pudsay, da Universidade Metropolitana de Manchester. As perdas e mortes causaram uma profunda instabilidade ao império, que viu crescer as invasões de povos "bárbaros" e a consolidação do Cristianismo em seu território.
O Império Bizantino foi quase aniquilado por uma epidemia, que vitimou cerca de 10% da população mundial à época. A doença recebeu o nome do Imperador Justiniano I (527 d. C. - 565 d. C.), a Praga de Justiniano, que governava Constantinopla no auge de sua expansão geopolítica. Foi Justiniano quem mandou construir a catedral Hagia Sophia, para se ter uma ideia da dimensão de suas realizações. Ele acabou contaminado pela peste, porém, recuperou-se. O momento pós-doença no império marcou o declínio paulatino do poder de Bizâncio e a consequente perda de seus territórios, nos séculos subsequentes, até sua derrocada definitiva no século XV.
A Peste Negra ou Peste Bubônica (1346 - 1353) deslocou-se da Ásia para a Europa, deixando destruição em seu rastro. Foi causada por uma cepa da bactéria Yersinia Pestis, espalhada por pulgas de roedores contaminados. Estima-se que 25 milhões de europeus tenham morrido em um período que varia de cinco a sete anos. A Peste Negra mudou o rumo da história europeia, uma vez que, com uma mão de obra escassa, o Feudalismo foi entrando em ruína, o sistema de servidão foi colapsando e uma inovação tecnológica instalou-se entre os trabalhadores, que passaram a ter uma remuneração maior, o que garantiu que se alimentassem melhor.
Por fim, a Gripe Espanhola (1918-1920), que não se originou na Espanha, surgiu no último ano da Primeira Guerra Mundial (a Espanha não participou do confronto) e alastrou-se, rapidamente, pelo planeta. Seu alto grau de contágio e letalidade infectou 500 milhões de pessoas, aproximadamente, através de três ondas de proliferação, e matou quase 50 milhões no mundo. O nome da gripe, talvez, tenha se difundido porque a imprensa espanhola foi muito atuante na divulgação da doença e não esteve sob a censura dos países em guerra. Fake News da década de 20 comprometeram o país, batizando a peste com o seu nome. Essa pandemia é considerada a "mãe das pandemias"; lamentavelmente, a primeira vacina contra essa doença foi produzida somente em 1944.
Em dezembro de 2019, surgem os primeiros indícios de um surto na China, que viria a se tornar uma pandemia global batizada de Covid-19, alarmando o mundo e exigindo os esforços conjuntos dos governos de países ricos e em desenvolvimento. O tom surrealístico, derivado das medidas de confinamento social, que o coronavírus desencadeou no planeta, será, futuramente, explorado pelo cinema e pela literatura.
Que mudanças o capitalismo vigente apresentará (ou não), após o enfraquecimento da pandemia? Haverá um fortalecimento do sistema bancário e das megacorporações, como preveem alguns analistas? O momento é de reflexão e cautela.
Que mudanças o capitalismo vigente apresentará (ou não), após o enfraquecimento da pandemia? Haverá um fortalecimento do sistema bancário e das megacorporações, como preveem alguns analistas? O momento é de reflexão e cautela.
Fiquem em casa, fiquem bem e aproveitem para LER!
Go home and stay home! Enjoy reading a Book!