No início de março de 2020, antes da pandemia e das normativas para o isolamento social, italianos e estrangeiros que estavam em Roma tiveram o privilégio de visitar a grande mostra dos 500 anos de morte de Raffaello ou Rafael Sanzio, como o conhecemos em língua portuguesa. Acompanhei as matérias na imprensa italiana e fiz um percurso virtual pela mostra. Já testemunhei, ao vivo, o esplendor da produção pictórica da Renascença, uma vez que passei por alguns museus italianos que albergam as telas do artista.
Uma espécie de gozo estético arrebatou-me quando deparei-me, na Galleria degli Uffizi (estive lá, pela segunda vez, em 2017), com as telas Retrato do Papa Leão X com dois cardeais (1517-1518), Retrato do Papa Júlio II (1512) e Autorretrato (1505-1506). Esses dois papas, dentre outros, incentivaram e financiaram a produção artística renascentista, especialmente a partir de 1506, quando a Basílica de São Pedro começou a ser construída sobre a de Constantino, que precisou ser demolida. Na Galeria Borghese, contemplei a tela A dama do unicórnio (1505-1506) e, em Nápoles, no Museu Nacional Capodimonte, o Retrato do Cardeal Alessandro Farnese (1512).
Rafael fez parte do Triunvirato da Alta Renascença, constituído também por Miguelangelo (1475-1564) e Leonardo Da Vinci (1452-1519). Com apenas 21 anos, ainda estava perscrutando seu caminho na pintura, uma escolha entre o Classicismo e a Arte Acadêmica. Logo, Rafael caiu nas graças do Papado e foi contratado para criar vários afrescos para uma das salas do Palácio Apostólico, local em que o Papa Júlio II fazia seus despachos. Denomina-se Stanza della Segnatura e é nela que se encontra o afresco que eu mais desejava ver e dele desfrutar: Escola de Atenas (1510-1511), medindo 5 metros por 7,7 metros.
A obra impressionou-se muito pela dimensão. Eu não imaginava que era monumental! O que eu buscava na tela eram os sábios, que tinham relação direta com a minha vida acadêmica na área filosófica. Estavam lá Sócrates, Heráclito, Parmênides, Platão, Aristóteles e outros. O núcleo do afresco está pontuado por Platão e Aristóteles. O primeiro segura a obra Timeu, que aborda a origem do universo. Platão aponta uma mão para o alto, em busca de seu mundo das ideias, no qual se localiza, segundo ele, o verdadeiro conhecimento. Aristóteles, não concordando com o mestre, alonga seu braço e sua mão em direção do chão, no qual estão dispostos os objetos sensíveis. Ele carrega na outra mão sua Ética a Nicômaco. Há uma tensão entre as duas figuras, espraiada pelos outros sábios que se encontram à direita e à esquerda do centro. Não é possível fotografar na sala de Rafael; assim, abaixo, deixo a vocês um pequeno vídeo de uma professora portuguesa:
Scuola di Atene, Raffaello (Fonte: You Tube)
Na mesma sala da Stanza, estão outros afrescos. Dois deles são especialmente belos para mim: A Filosofia (1509-1511) e A Poesia (1509-1511). A visita aos Museus do Vaticano levou horas. Passei quase dois turnos lá dentro até a finalização do percurso na Capela Sistina, uma emoção indescritível!
Na segunda-feira, 6 de abril, o mundo das Artes comemorará a efeméride dos 500 anos de morte desse grande artista. A megaexposição está acontecendo no Palácio Le Scuderie del Quirinale. É uma promoção conjunta com a Galleria degli Uffizi, de Florença. Tem o apoio da Galleria Borghese, Musei Vaticano e Parco Archeologico del Colosseo. A mostra seguirá, inicialmente, até o dia 2 de junho, mas espera-se que seja prorrogada por força do momento que todos vivenciamos. A curadoria é de Marzia Faietti e Matteo Lafranconi.