terça-feira, 3 de dezembro de 2024

OS 250 ANOS DE "OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER", DE GOETHE, E MINHAS VIAGENS AO ENCONTRO DO AUTOR


   

                                        Fonte: Youtube


      Em Porto Alegre, está em cartaz uma peça inspirada na obra de Goethe, "Os sofrimentos do jovem Werther". São comemorados os 250 anos da publicação dessa obra em 2024. A USP realizou um seminário no dia 06 de novembro passado, devidamente divulgado pela newsletter da ANPOF, e a Revista Contingentia, do setor de Alemão da UFRGS, publicou um número especial sobre o livro de Goethe no início deste ano. Não fiquei ciente de outro evento celebrando a efeméride...

      O livro em questão, de 1774,  relata, em forma de cartas e em tom confessional, a paixão não correspondida do jovem Werther, que se suicida ao final. Na vida real, Goethe apaixonou-se, perdidamente, por Charlotte Buff, já comprometida, que se casou logo em seguida com Christian Kestner. Com ele, teve sete gestações, mas apenas três vingaram. O livro narra um amor arrebatador e impossível, o que tornou Goethe muito popular e encarado como um grande best seller na época. Conheço mais de dez traduções dessa obra, mas existem mais de 20 para o Português no Brasil. Tenho a tradução de Erlon José Paschoal, que foi lançada pela Estação Liberdade, em 1999.

       Tornei-me tradutora do Alemão em 2016, quando lancei a primeira tradução bilíngue. De lá para cá, foram três livros de traduções de A. Schopenhauer publicados. Saí da universidade em 2017 e fui morar na Itália para obter a minha cidadania, não sem problemas, dificuldades no inverno e maus-tratos sofridos no serviço público italiano. Superado o passado, cá estou hoje, nostálgica, relembrando minhas viagens à procura de Goethe e revendo algumas fotos. A cada viagem, uma inspiração. Em 2015, inverno europeu, fui à Sicília e a Malta: 'Ao Encontro de Caravaggio'. Nesse ano, eu estava estudando, como autodidata, a pintura do mestre italiano. Nessa viagem, chegando em Palermo, conheci um motorista siciliano, que fazia traslados e servia de guia. Paguei-o para passear comigo por três dias inteiros. Até hoje somos amigos e pretendo retornar à Sicília em 2025, dez anos depois de conhecê-lo.

    Na ocasião, Camillo Guarneri levou-me a locais preciosos na antiga Palermo e em igrejas e templos emblemáticos no entorno da capital siciliana. Foram dias de erudição, eu diria, de parte de alguém modesto. A tela "Natividade com São Francisco e São Lourenço", de Caravaggio, avaliada em 20 milhões de dólares, que estava em uma igreja de Palermo, foi furtada pela Máfia em 1969. Camillo comentou-me toda a 'novela' ouvida de familiares. Não encontrei Caravaggio em Palermo; no entanto, aproximei-me de Goethe pelos olhos e narrativas de meu amigo.

      Foi ele quem me mostrou onde Goethe teria se hospedado  na capital siciliana, por onde teria passado, montado em um burrico. Fiquei pasmada com as estórias que ele me relatou e somente no ano subsequente, 2016, li "Viagem à Itália", de Goethe, publicada entre 1813 e 1817. Daí, apoderei-me de uma série de informações sobre a trajetória de Goethe na Itália e na Sicília, "a rainha das ilhas", como o alemão a chamava. Na Sicília, Goethe terminou de escrever a peça "Torcato Tasso".

     Conferi telas de Caravaggio em Siracusa e em La Valetta, Malta, mas voltei dessa viagem hiperfocada no trajeto que Goethe havia realizado na Itália, chegando em Roma, descendo a Nápoles, visitando os templos greco-romanos de Paestum, indo de barco até a Sicília e viajando pelo interior da ilha em um burrico.

     Tenho duas gravuras das casas em que Goethe viveu em Weimar; fui ao Museu Goethe e ao Museu Schiller; visitei sua casa em sua cidade natal,  Frankfurt, em 2011. O ponto alto desta busca pelos caminhos de Goethe foi visitar Roma, em uma outra viagem, em 2016, e conhecer a "Casa di Goethe", um palacete localizado na Via del Corso, 18, defronte à Piazza del Popolo, fácil de encontrá-la. É o único museu alemão fora da Alemanha. O patrimônio passou por várias mãos, abriu, fechou e reabriu restaurado como um museu. Ali Goethe teria vivido por 20 meses (foram dois anos viajando, de 1786 a 1788). Chegando lá, conheceu o pintor com quem já trocava epístolas há um bom tempo, Johann W. Tischbein. Em Roma, Goethe terminou a peça "Ifigênia na Táurida". 

   Na entrada da "Casa di Goethe", no salão principal, encontra-se a tela que Tischbein pintou de escritor, usando um enorme chapéu e uma capa. No site do museu, aparecem os detalhes das instalações e da tela.

   Como Goethe saíra escondido da Alemanha, sem comunicar a ninguém que iria para a Itália, pois deixara para trás suas obrigações administrativas como conselheiro e ministro no ducado de Weimar, viajou com um nome falso: Johan Philipp Möller. Na volta, em 1788, Charlotte não se dirigiu mais a ele. Em 1806, Goethe casou-se com Christiane Vulpius e teve um único filho, que, ao falecer, foi enterrado na 'cidade eterna', a pedido do pai.

       Fui a Paestum (ou Pesto) também, na Campânia. Saí de Nápoles de trem em uma segunda-feira de manhã e fiz um percurso de mais de duas horas. Parei na Estação de Paestum, em pleno inverno, sem câmera fotográfica (fui furtada em Nápoles e levaram o meu celular. Não tenho registros fotográficos dessa viagem, lamentavelmente). Não havia uma viva alma por perto. Fiquei com um certo receio, mas saí caminhando em direção à entrada do parque arqueológico, famoso pelas ruínas de templos greco-romanos imortalizados por Goethe no livro "Viagem à Itália" e pelos desenhos feitos por Tischbein.

    Foi uma grande emoção vislumbrar ao vivo o que eu já havia memorizado na imaginação, através dos desenhos. Havia mais cinco turistas caminhando pela área. Fiquei menos de 60 minutos no parque. Estava muito frio e eu queria retornar a Nápoles antes do anoitecer.

      Foram várias viagens para dar conta do que eu planejara. Viajar é sempre maravilhoso e memorável, além do conhecimento e cultura agregados. Há quem não suporte, como Nelson Rodrigues, que dizia que "viajar é a mais empobrecedora e burra das experiências humanas"!

OS 40 ANOS DE FALECIMENTO DE MICHEL FOUCAULT EM 2024

    

                                             Fonte: Youtube

   Sou uma usuária atenta do Substack, desde o início de 2024. Desativei minhas contas no Instagram após dez anos. O processo de divórcio foi semelhante ao do falecido Orkut e ao do Facebook. Dez anos é um período longo; cheguei à conclusão de que perdia o meu precioso tempo com o Instagram e suas frações.

       No Substack, encontrei poucos escritores do mainstream literário atual, mas vários escritores jovens e promissores, poetas, docentes, pesquisadores e psicanalistas. Tenho dedicado duas horas por dia para ler as newsletters dos substackers dessa plataforma, que, na verdade, agrega escritores e leitores, de um modo geral. Nessa rede, encontrei uma postagem sobre Foucault assinada pelo Prof. Márcio Tavares d'Amaral, da Escola de Comunicação da UFRJ. Pude me deliciar com um relato que revelava seu encontro auspicioso com Michel Foucault, quando de sua estada no Rio de Janeiro em 1973. Nesse ano, eu tinha 12 anos ainda, mas, no decorrer de minha vida intelectual, degustei algumas publicações que saíram após a fértil estada do intelectual francês por lá. Em 1984, Foucault desaparece devido às complicações desencadeadas pela AIDS. São 40 anos de sua morte! Ele deixou não apenas no Rio de Janeiro, mas em outras escolas e cursos de Filosofia e Psicologia do país, um exército de seguidores, admiradores e pesquisadores que ressoam suas abordagens publicadas ao longo de sua brilhante carreira  docente na Sorbonne, em Paris. Tenho um especial apreço pela sua crítica da verdade e pelas aulas sobre o cuidado de si, cujo ponto de partida são os diálogos platônicos "Alcibíades" (que revela o ser da alma) e o "Laques" (que prega a maneira de viver). Tenho uma tatuagem em grego na parte posterior de meu braço esquerdo, que sinaliza a minha admiração por esses textos foucaultianos: "Epimeleia Heautou",  cuidar de si mesmo ou a ética do cuidado de si.

      Nos dias 28 e 29 de novembro, na semana passado, realizou-se um seminário internacional por conta da efeméride dos 40 anos de morte de Michel Foucault no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, intitulado "Foucault em Transe". Para os interessados, a íntegra das comunicações estará disponível no Youtube, no canal do próprio fórum.

       

terça-feira, 16 de abril de 2024

UMA DÉCADA SEM GABO, GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ




        
                               Fonte: Youtube


O  rico e multifacetado legado da literatura de García Márquez não pertence apenas aos colombianos. Pertence também a todos os latinos-americanos, que compartilham de um modo de existir tão similar, de uma imagética povoada de heróis, de cavaleiros, de manobras na Cordilheira dos Andes e de deuses estabelecidos pelos povos originários.

Gabo tinha uma estreita relação com Cuba. Faleceu no México, capital,  e nasceu em Aracataca, na Colômbia. Amanhã, 17 de abril de 2024, a Feira Internacional do Livro da Colômbia abrirá uma série de eventos para celebrar os dez anos de falecimento de Gabo, que completaria 100 anos em 2027, uma outra efeméride a ser amplamente festejada.

Cedo, li alguns de seus livros, que estão inscritos dentro da perspectiva denominada de realismo mágico na América Latina. Quem não se emocionou com a família Buendía na fictícia cidade de Macondo, em "Cem anos de solidão"?

Na medida em que sua obra é atemporal, vou começar a reler alguns livros dele como forma de homenagear sua memória e honrar o seu legado de escritor, jornalista, ativista político e apaixonado pelo cinema.

Salve, García Márquez, para sempre entre nós!

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