Fonte: Youtube
Estive em São Paulo por seis dias em outubro de 2025. Assisti a seis filmes na 49. Mostra Internacional de Cinema de SP, fui à 36. Bienal de Arte de SP, visitei o prédio novo do MASP, fui a mais meia dúzia de mostras, assisti a três peças teatrais, conheci as instalações do Museu de Diversidade Sexual - que fica na estação de metrô República, pela entrada do extremo oposto à Av. Ipiranga -, e visitei, finalmente, a Biblioteca Mário de Andrade, que está completando neste mês 100 anos de fundação, com eventos e celebrações. Deem uma olhada em meu canal do Youtube no final de outubro, "Rocandel do outro lado do mundo", para verem as imagens dessa biblioteca e da livraria que visitei, a aconchegante Gato sem rabo (menção a uma passagem de uma narrativa de V. Woolf), especializada apenas em publicações de autoras mulheres.
Esta postagem é para destacar a mostra fotográfica de Gordon Parks, no IMS de SP (Av. Paulista, 2424). Ela ficará em cartaz até 1º de março de 2026. Vai lá visitá-la. É algo especial e relevante, estética e politicamente. As 200 fotografias dessa exposição vieram da Fundação Gordon Parks, nos EUA, além de seus filmes e documentários. Ele também foi um homem do cinema. É a maior mostra e a mais completa já apresentada na América Latina. Eu ouvi falar no Parks nos anos 80, quando era universitária. Vi uma foto sua em uma revista antiga. Ele esteve no Rio de Janeiro nos anos 60 e fotografou a Favela da Catacumba. As fotos gerada foram publicadas na forma de ensaio em uma edição da revista Life em 1961 com o título Freedoms's Fearful Foe: Poverty, dando ênfase a uma família favelada negra de sobrenome Silva. O ensaio gerou uma série de manifestações. No Brasil, o governo e a imprensa da época consideraram a matéria extremamente estereotipada. Nos EUA, muitas pessoas se comoveram com a pobreza da família Silva estampada nas fotos e na reportagem de Parks e enviaram doações em espécie para que os Silva se mudassem para uma casa adequada e para o tratamento do menino Flávio, o caçula da família, que sofria de uma asma ostensiva.
Gordon Parks era negro e, como tal, registrou e testemunhou a pobreza, a exclusão e a busca incessante de direitos civis dos negros estadunidenses, notadamente, nos 60. As imagens são fortes e emblemáticas. Há registros de manifestações e atos públicos, de Malcolm-X no palanque, de M. Luther King e de Cassius Clay (depois de convertido, Muhammad Ali). As fotos que retratam a pobreza no Harlem, em NY, e em Chicago são chocantes, porém belas. A luz e a essência que ele capturou fizeram dele um artista requisitado. Ele foi o primeiro fotógrafo negro a ser contratado por uma revista, a prestigiosa Life, em 1948.
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