Fonte: Youtube.
Selecionei um pequeno poema de Ricardo Reis, o heterônimo que mais aprecio, para prestar minha reverência a um dos grandes poetas do século XX. A Editora Tinta da China, de SP, publicou há um mês um belo volume com a poesia completa desse heterônimo, com o estabelecimento de texto, novas percepções, paratextos e versos inéditos, inclusive, por Jerónimo Pizarro e Jorge Uribe. O volume tem capa dura e 500 páginas. Uma preciosidade, que pretendo adquirir no início de 2026.
SÁBIO É O QUE SE CONTENTA
Ricardo Reis em 16.06.1914
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.