Há 40 anos atrás, eu cantava na escola e em casa o hit da Copa: "Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil, salve a seleção!" e o outro também: "Noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração...". Eu pequena, com oito anos de idade, lembro-me de alguns fatos marcantes: meu pai era jornalista gráfico do Jornal da Tarde, pertencente ao Estado de São Paulo, o Estadão! Estive umas duas vezes lá no jornal com o pai. Recordo-me da preocupação dele, naqueles idos que inspiravam desconfiança e tensão. Uma noite, meu pai demorou muito a voltar do jornal. Quando chegou muito tarde, o ouvi contar para minha mãe que havia explodido uma bomba em um segmento do jornal. O comentário, baixinho, de soslaio, deixou uma forte impressão em meu imaginário. A ditadura do medo tomava conta de todos, dos vizinhos, dos familiares, dos amigos próximos. O hit da Copa do Mundo de 70 era a trilha sonora para as mais memoráveis violações de direitos humanos contra cidadãos brasileiros. A perseguição aos espíritos livres e emancipados tomou proporção de Santo Ofício. Ditadura? O futebol é meio parecido com isso. Até os que não apreciam o esporte são obrigados a conviver com a sua manifestação e a de seus adeptos. A ditadura do futebol nivela por baixo e se esconde sob a mais inocente expressão de patriotismo. Vamos combinar que patriotismo exacerbado não é compatível com cultura da paz! Que o Brasil vença a Copa, então, mas que se garanta que os não-torcedores sejam apenas admoestados, não torturados! Allea jacta est!
Meu texto no jornal Gazeta do Sul de hoje
Há 2 semanas