Neste final de semana, fomos a Porto Alegre obsessivos para assistir ao premiado no Festival de Cannes 2011, "A árvore da vida", de Terrence Malick, e ao "Melancolia", do polêmico diretor dinamarquês Lars von Trier, através do qual a atriz norte-americana Kirsten Dunst foi laureada com o prêmio de Melhor Atriz na mesma competição.
Assistimos primeiro, para otimizar nosso tempo dentro do Bourbon Country, ao "Melancolia", do diretor dinamarquês já mencionado. Duas horas e meia após o final do primeiro longa, entramos na sessão do "A árvore da vida", do diretor norte-americano.
Bem, eles têm uma fotografia exuberante, truques de "slow motion", uma trilha focada na música erudita e, não raras vezes, as mesmas imagens da Mãe Terra e do Sistema Solar; por isso, tive uma impressão estranha, quando estava na segunda sessão, de ainda estar assistindo ao filme da primeira.
O "Melancolia" é o nome de batismo de um planeta que está na rota de colisão com a Terra. Portanto, parece um filme 'catastrófico' e poderia também ter iniciado com uma epígrafe retirada da Bíblia, como, por exemplo, do Livro das Lamentações. O segundo longa, "A árvore da vida, tem como epígrafe o Livro de Jó: 38-4: "Onde estavas quando lancei os fundamentos da Terra?". Quem já leu a Bíblia como poesia sabe que no Livro de Jó prova-se que Deus não é o causador do sofrimento da humanidade, nem das doenças e das mortes. Mesmo os fieis que foram assolados com provações precisam continuar a orar, precisam continuar em conexão com Jeová, para que Satanás seja destruído, segundo a essência desse texto bíblico.
Assim, as constantes indagações que o primogênito faz (Sean Penn, na vida adulta), como se fossem pensamentos elevados, enunciados em voz alta ("Por quê?") constroem a atmosfera do filme; no Livro de Jó, Satanás é personagem coadjuvante, mas tem dimensão ontológica. No "Árvore da Vida", vemos o filho primogênito em conflitos internos por ser mau com o irmãozinho mais novo e rezar todas as noites para o Deus salvador afastá-lo da mentira e das más atitudes.
Se eu pudesse indicar dois filósofos para uma melhor compreensão desses dois filmes, eu associaria "Melancolia" ao adágio schopenhaueriano de que "a vida não passa de um oscilar entre a dor e o tédio"; ao segundo filme, a leitura da obra de Nietzsche lhe seria compatível, na medida em que a essência do longa é a afirmação do sublime, do querer-viver e da perseverança: a capitulação do Mal.
Para quem os degustou, talvez, impropriamente em uma mesma tarde, como eu e Rafael, não resta nada mais que encerrar este humilde comentário com a conclusão de que um "déja vu" acometeu-me na sessão de um e de outro. O inexorável dualismo representado pelos binômios da negação/afirmação da vida, do Bem/Mal e do pessimismo/otimismo também se fizeram presentes na degustação dos mesmos. Não posso deixar de mencionar também que me lembrei do 'osso', que voa em "slow motion" na cena inicial do "2001, uma Odisseia do Espaço", de Stanley Kubrick, além dos documentários da década de 80, "Koyaanisqatsi" e "Powaqqatsi", que revelaram a "vida em transição",no planeta Terra, ambos do diretor Godfrey Reggio.
Oi, Rô. Gostei dos comentários, que me deixaram com ainda mais vontade de assistir aos longas, especialmente o novo trabalho do Malick. No futuro DVD, o cineasta prometeu um "corte" conforme seu gosto, com cerca de seis horas. Certamente irá para a prateleira.
ResponderExcluirConversamos mais pessoalmente. No geral, o cinema de Malick me parece uma oração sobre a consciência. O cinema de Von Trier me parece um experimento com a consciência. Sua indicação, tanto de Schopenhauer para Von Trier quanto de Nietzsche para Malick, está ótima.
Que bom que pudeste ler! Amanhã, estarei no Colóquio te ouvindo. Espero que a Aninha não se chateie comigo, mas o teu tema me interessa muito mais. Grande abraço e obrigada!
ResponderExcluirEntão tu és a namorada do Rafael...
ResponderExcluirÓtimo, assim aproveito para me desculpar pela vez em que ele nos apresentou. Estava emocionado, pois fiquei entregue ao espírito do Kairós (da ocasião)...
Tratando agora de seu texto: achei lindo a forma como expressou os elementos das obras, confesso que não sou um grande entendedor de cinema como certamente o é o Fabiano, mas senti verdade e emoção em seus relato. Isso me contagiou!!!
Um abraço para você e para o amigo de sempre, Rafael. Adorei o casal, ambos têm bom gosto!
Obrigada, Dilso! É muita delicadeza de tua parte entrar em meu blog para postar um recado que denota sensibilidade. O Rafael vai gostar de saber que leste o meu comentário e sempre leio os teus no blog conjunto de vocês. Sou fã incondicional do Fabiano e leio tudo o que há no blog de vocês! Abraços!
ResponderExcluirA mi me gustaron las dos películas. Las dos son totalmente distintas pero me atraparon.
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