domingo, 28 de julho de 2013

SOBRE O ÚLTIMO LONGA DE TERRENCE MALICK, O "AMOR PLENO"

(ultrapassando os 25 mil acessos!!!!!!)

Fabiano Felten, Naira Moraes e Tuta Santos, então, fui assistir ao último longa do Terrence Malick, "Amor Pleno" ('To the Wonder', 2013), na manhã de 27 de julho, sábado, em uma sala do Itaú, na sessão do Clube do Professor, às 11h. Como sempre faço, não leio crítica alguma antes de postar o meu próprio comentário, com exceção de alguns dados da ficha técnica do filme. O roteiro é assinado por Malick e, em meu entender, que já assisti a todos os seus longas, é o mais enfadonho e angustiante deles. Esse filme já havia causado polêmica em sua exibição no Festival de Veneza em 2012 e, atualmente, o diretor está sendo acionado na Justiça por seus financiadores, que exigem seus investimentos de volta. Muitas pessoas saíram da sala de cinema em que eu me encontrava, algo comparável apenas à projeção de "Melancolia", de Lars von Trier, em 2011. Após o desfrute do premiado "Árvore da Vida" (2011), de Malick, em que a profusão de imagens dá sentido ao questionamento filosófico sobre a própria existência, nesse "Amor Pleno" vemos um casal que está junto, mas não se comunica, na verdade. Ela falante de língua francesa (Olga Kurylenko) e ele, de língua inglesa (Ben Affleck), protagonizam uma espécie de uma 'Torre de Babel', mediada por um padre (nada convincente!), encarnado por Javier Barden, hispano hablante. No terceiro bloco do filme, do nada, aparece uma personagem secundária (falante de italiano), em uma rápida cena meio esquizóide, na rua, interagindo com a protagonista. Se Malick efetivamente conhece e internalizou a essência da obra de Martin Heidegger, no sentido de a linguagem ser a morada do ser, percebe-se que os três personagens, que se entrecruzam e ruminam sua insegurança e suas dúvidas, estão questionando o sentido de sua própria existência e tentando operar com um tipo de linguagem/comunicação que o vislumbre e o instaure. Se a relação de amor entre a estrangeira (sem carreira, sem metas, sem ânimo) e o estadunidense (frio, machista e moralista) não fosse permeada por um tratamento cristianizado, eu até enalteceria "To the Wonder". Se Malick quis afirmar que, segundo Heidegger, a experiência autêntica é própria e incomunicável, tonalizada pelo estado de angústia, seu elenco não soube expressar com intensidade e profundidade tal premissa. A estrangeira é estrangeira para si mesma e para a filha, que viaja junto aos EUA com a mãe. O estadunidense, que as acolhe, não consegue sair de si e, assim, ambos os personagens, que deveriam representar um casal, não se conectam; definitivamente, não se comunicam. Há uma traição de um lado, uma traição de outro, que não cumprem um papel terapêutico de racionalizar o rol de emoções. Ao contrário, ambas as traições funcionam como uma 'purga', em que emoções são vomitadas e exorcizadas, em um ritual agressivo, moralizante e estéril. O filme termina com a separação do casal, que sequer um dia viveu em completa harmonia. Eu teria trabalhado no roteiro o problema do conceito de "Sorge", do cuidado, e constituiria um outro tipo de atmosfera, de angústia também, mas de uma angústia metamorfoseada pela celebração da vida e do 'aqui e agora', que é capaz de vencer o passado, as dores do mundo e reverter a incomunicabilidade entre os seres, parece que a pedra de toque da sociedade contemporânea!

6 comentários:

  1. Adorei suas observações, Rô, publicáveis em qualquer veículo de crítica de cinema deste país. Adorei especialmente as relações que você buscou estabelecer entre conceitos heideggerianos e a cinematografia de "Amor pleno", uma vez que Malick foi (talvez ainda seja) um emérito estudioso e tradutor de Heidegger. Quando assistir, vamos combinar um café ou jantinha e conversar tudo o que pudermos sobre Malick, Heidegger e o "estar aí" neste mundo profuso. Grande abraço!!!

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  2. Obrigada, Fabiano querido, meu amigo admirável! Tu conheces muito mais o Malick que eu. Passei a observar com mais apuro a sua cinematografia por tua causa e conheci o cinema do Gray pelas tuas mãos. Sou grata por isso! Vamos, sim! Sabes que não posso ficar muito tempo sem ver ao vivo vocês dois e a Anjinha. Agora, tenho um convite para ir conhecer a Maria Cecília, afilhadinha de vocês. Então, logo estaremos juntos novamente! Abraço carinhoso!

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  3. Vamos nos situar no tempo e espaço, Malick está prevendo uma tendência. Não é de hoje que a aridez do coração humano é tema para peças, livros ou filmes. Acho que o Malick está pasmo com o ser desumano que somos, com o pouco que temos dentro de nós, com a nossa preguiça de mudar as coisas, e está tentando esfregar isso na nossa cara.

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  4. Resumindo: Estamos nos desligando das emoções.

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  5. Resumindo, não estamos mais nos comunicando, verdadeiramente, e da forma para a qual fomos forjados!

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  6. Obrigada, Tuta, querido! É sempre te ouvir!

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