Cheguei de viagem hoje, sábado, e fiquei em Porto Alegre para conferir, finalmente, o último longa de Margarethe von Trotta, o "Hannah Arendt" (com Elena Sukowa no papel principal e como co-roteirista Pamela Katz, uma jovem talentosa, de origem judaica, que, pela terceira vez, trabalhou com von Trotta). Quem me conhece sabe que sou da área da Filosofia há mais de 30 anos. Meus amigos íntimos também sabem que tenho uma relação ontológica com o judaísmo, uma vez que meus primeiros companheiros/vizinhos em Porto Alegre, vinda de São Paulo em 1975, eram de origem judaica, um detalhe que teve uma repercussão imensa em meu imaginário, cultura e reflexões éticas. Talvez, por isso, eu não tenha estudado Alemão quando jovem (estudo apenas há dois anos). Até hoje, minha querida amiga judia, com quem tomei um café hoje, em uma feira da capital, conta-me de sua militância na Wizo, organização judaica feminina internacional, de suas atividades sionistas, de suas viagens a Israel e de suas leituras. Já são 19 anos de amizade e do saudoso trabalho conjunto que desenvolvemos, quando ambas trabalhávamos no Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, que, lamentavelmente, deixou de existir no final dos anos 90. Não foi à toa que deixei para assistir ao filme sobre a filósofa alemã, de origem judaica, Hannah Arendt. Saí de um grande e importante congresso de Bioética/Bioética Clínica, na sexta, dia 27 de setembro. A Bioética, enquanto campo de estudo, surgiu justamente nos anos 70, após as atrocidades cometidas em nome da ciência, de parte dos nazis. Participei de um debate com filósofos, ex-colegas meus da UFRGS, que hoje estão espalhados por universidades privadas e públicas no Brasil, sobre a neuroética e o melhoramento cognitivo e moral da espécie humana. Um dos resultados desse debate foi que se a ciência não desenvolver pesquisas para o melhoramento cognitivo e moral da humanidade, o planeta sofrerá danos muito mais graves e irreversíveis, a partir de 2040. Retomando o longa alemão, filósofa e docente Hannah Arendt acompanhou de perto o julgamento de Eichmann, ocorrido em 1960, em Jerusalém. Ela esteve lá para cobrir o episódio, como enviada especial da revista 'New Yorker', de Nova York, onde residiu e lecionou por mais de 20 anos. Após muitos meses de reflexão, finalmente Arendt produziu cinco artigos para a tal revista, que os publicou com várias ressalvas e receios, pelo fato de que a filósofa não encontrou na pessoa e na atitude de Eichmann, então oficial da SS no Terceiro Reich, um perfil monstruoso e desumano, o qual ela fantasiara e pelo qual aguardara. Arendt concluiu que a experiência do genocídio da Segunda Grande Guerra permitiu-nos a revelação da natureza do Mal. Ela afirmara, então, que o Bem é profundo e radical, mas que o Mal pode ser banalizado, como ocorreu entre os oficiais nazistas que, paulatinamente, foram caçados e levados a longos julgamentos, pós-Nuremberg. Para Arendt, Eichmann era um 'burocrata', incapaz de pensar, que não produzia 'conhecimento', na medida em que as ordens de Hitler jamais eram questionadas por ele e seus subordinados. Em outras palavras, sua tese era a de que a consciência pessoal dos oficiais fora subtraída por um código de honra e instruções normativas, construindo uma face amoral nos alemães envolvidos diretamente com a 'solução final' (segue na parte acima deste post).
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