Neste final de semana, li um pequeno escrito de Sêneca (4 d. C.- 65d. C.), “Da tranquilidade da alma”, e as “Meditações “ de Marco Aurélio (121 d. C. - 180 d. C). De um modo geral, a ideia de que todas as coisas ruins são exteriores à alma e basta a virtude para o homem ser, verdadeiramente, feliz, tem sua origem na filosofia socrática. O estoicismo também herdou seu germe da moral socrática e preconizou que viver de acordo com a alma, o princípio universal ou a reta razão, é viver feliz.
Como esses homens citados viveram sob os auspícios do Império Romano, o estoicismo desenvolveu uma faceta diferenciada da dos gregos: criou uma doutrina política e interferiu, decisivamente, no curso do principado de Nero, que reinou de 54 d. C. até 68 d. C. A rigor, os historiadores da Roma Antiga são unânimes ao afirmar que a ascensão de Nero ao poder foi resultado de um jogo planejado pela nobreza senatorial, de orientação estoicista. Essa era a chance de colocarem no poder alguém que poderia realizar o ideário da concepção política dos estoicos romanos: um rei-filósofo, aos moldes da “República” de Platão.
Assim, Sêneca foi convocado por Agripina, a mãe ambiciosa de Nero, para ser seu preceptor. Durante seis anos, Sêneca orientou o espírito de Nero em busca da realização de uma determinada paideia(formação ético-política), de origem platônica. Após os “anos de ouro” iniciais de Nero no governo de Roma, os patrícios assistiriam aos maiores desmandos e infortúnios da história, culminando com o assassinato de Agripina pelo próprio filho, em 62 d. C.
Obcecado com a oposição de parte do Senado, perseguiu e obrigou a todos, do grupo dos estoicos, inclusive Sêneca, a cometerem suicídio. Foi assim que a utopia de Platão manifestou-se pela última vez no governo dos homens.