Lendo Cícero (106 a. C. – 43 a. C.), neste feriadão, imaginei-o nesta Semana Farroupilha montado a cavalo, desfilando cheio de garbo e com uma postura altaneira em uma das manifestações cívicas gauchescas.
Embora Cícero tenha estudado durante dois anos com mestres gregos, em Atenas (79 a. C. – 77. A. C), ele, ainda assim, estando na Cúria ou no Foro romanos, sempre exortava o civismo da elite republicana, coisa que, segundo ele, faltou aos povos da Hélade. Por isso, acabaram dominados pelos macedônios e, depois, pelos romanos.
Ao contrário do espírito epicureu e estoico, próprio dos gregos do período Helenístico, que preconizava a retirada e o afastamento da cidade, uma vez que a estrutura da pólis não mais existia - desde a campanha de Felipe da Macedônia e, depois, de Alexandre, o Grande -, Cícero apregoou uma ética ‘ativa’ em Roma. Mesmo no exílio compulsório, ele produziu intelectualmente de modo invejável. Foram quase 900 cartas e dezenas de discursos, além de alguns textos políticos em que se vê um estilo dialético no formato de ‘diálogos’, lembrando o gênero platônico.
Defendeu a República romana e criticou duramente as experiências tirânicas de seu tempo. Foi desafeto de Sila, de Júlio César e acabou nas mãos de Otávio Augusto, integrante do Segundo Triunvirato, que não lhe poupou a vida, por ser inimigo de Marco Antônio. Foi perseguido até uma cidadezinha da Grécia; morto, teve sua cabeça decapitada e uma das mãos decepadas. Otávio ordenou que seus restos ficassem exibidos, em exposição pública, no Rostrum, um local próximo ao Foro romano, no qual os oradores se reuniam e exibiam seus dotes retóricos.
Cícero, que não tinha ‘papas na língua’, afirma no início de “Da República”, Livro I, tópico I, que ”o homem veemente prefere arrostar as tempestades públicas entre suas ondas, até sucumbir decrépito, a viver no ócio prazenteiro e na tranquilidade”, remissão inequívoca ao epicurismo e ao estoicismo, reinantes em sua época.
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