O segundo filme a que assisti (o primeiro foi o do Polanski, no comentário anterior a este!), na mesma tarde e na mesma sala do Bourbon Country, em 17 de junho, foi a produção anglo-polaco-germânica, "Am Ende kommem", do diretor Robert Thalheim.
O roteiro é muito interessante e deveria ser assistido e discutido por professores e acadêmicos das áreas da História e das Ciências Sociais, uma vez que trata de um período da história ocidental do século XX, que deixou trágicas cicatrizes na natureza humana. Sven (Alexander Fehling) é um cara de Berlin que está na idade de cumprir o serviço militar. Como na Alemanha é possível optar por trabalho comunitário, Sven candidata-se a uma vaga na cidadezinha de Oswiecin, a antiga Auschwitz, Sul da Polônia, para trabalhar no Hostel que fica localizado junto ao antigo campo de concentração da Alemanha nazista. Chegando lá, Sven, na verdade, tem de fazer o papel de tutor de um polonês de quase 90 anos, Krzeminski (Ryszard Ronczewski), que vive no alojamento junto ao campo. Ele não é bem-acolhido pelo idoso, que apresenta dificuldades para caminhar, para se deslocar e para manter a sua rotina diária, tarefas desempenhadas ao longo de oito horas diárias pelo rapaz alemão. Além de Sven ser motivo de chacota e discriminação, por ser alemão, em um pub da cidade, logo em seus primeiros dias, ele se sente oprimido pelo idoso a quem tem de se submeter. Em uma tarde, acompanhando-o a uma palestra em outra localidade, Sven descobre que se trata de um judeu sobrevivente do campo de Auschwitz. A partir de alguns meses, a relação deles começa a se constituir e o idoso torna-se dependente das tarefas de Sven, especialmente para fazer sessões de fisioterapia, bem como passa a demonstrar um certo afeto pelo rapaz. Nesse ínterim, Sven envolve-se com uma jovem polonesa, que é guia turística na cidade, e passa a alugar um quarto em seu pequeno apartamento. O relacionamento do alemão, que partiria no final daquele ano de volta a Berlin, com Anya, que está em busca de uma vida melhor fora da Polônia, cria uma antítese entre os universos que os dois representam e o peso da História implicada em suas vidas. Além de uma narrativa que denota o quanto os mais antigos não conseguem falar sobre os horrores da Segunda Guerra, destacadamente sobre a 'solução final', os mais jovens parece que tentam se expressar sobre o tema e, de algum modo, exorcizar da memória e do imaginário o genocídio. Não havia apenas um campo de concentração denominado Auschwitz e o filme colabora, didaticamente, para que aprendamos mais sobre a dimensão geopolítica dos campos de extermínio do Sul da Polônia. Havia três campos: Auschwitz I - em que morreram, aproximadamente, 70 mil intelectuais poloneses e prisioneiros soviéticos; Auschwitz II /Birkenau - em que, aproximadamente, morreram um milhão de judeus e quase 20 mil ciganos; e Auschwitz III/Monowitz - campo de trabalho escravo para a empresa IG Farben. Os campos da Polônia eram controlados pela SS e comandados por Himmler. O filme de Robert Thalheim tem cenas justamente em Monowitz, cidadezinha próxima a Oswiecin, que o protagonista e a guia visitam de bicicleta. Ali seria construído por voluntários um pequeno memorial aos mortos nos campos, cuja cerimônia contaria com a presença e o discurso do judeu sobrevivente, o polonês Krzeminski. O fato é que tudo acontece em uma tarde chuvosa e Krzeminski mal começa a discursar e é cortado pela chefe do cerimonial, que não suporta mais, pelo que se supõe, ouvir falar sobre os horrores dos campos. O idoso polonês fica muito indignado e se sente preterido pela comunidade. Decide, então, ir embora e viver na casa de sua irmã. Sven também está se preparando para voltar à Alemanha, mas, dada a reflexão que sua experiência suscita, ele altera seus planos e o longa termina de uma forma surpreendente. É um bom filme, de menos de 90 minutos, propício para ser trabalhado em sala de aula com alunos de ensino médio e acadêmicos do ensino superior. Confiram em Porto Alegre!
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