Na segunda à noite, dia 20 de agosto de 2012, cheguei rapidamente em casa, vinda da universidade. Eu havia terminado de ministrar uma aula sobre a religião Jaina, na Índia, e o sentido profundo que os jainistas concedem ao termo em sânscrito "maya", ilusão. Ao final da aula, solicitei aos meus alunos do curso de Relações Internacionais que fizessem uma reflexão e escrevessem como a sabedoria jaina, de um modo geral, a hindu, permeou alguns relevantes episódios históricos, inclusive, da política internacional. O mais notório, para mim, foi a assinatura do tratado de não-agressão entre União Soviética e Alemanha, antes do irromper da Segunda Guerra, além do golpe que Hitler deu na Polônia. A vida fenomênica, esta vida terrena em que vivemos e sofremos, é a expressão do "véu de Maya". Schopenhauer já sabia muito bem disso no primeiro quartel do século XIX, na Alemanha. 'Maya' é o que vivemos em relação a muitas pessoas, quando imaginamos que elas aprenderão conosco, em um lapso de tempo, ou que nossos exemplos, mais que palavras, serão um paradigma para as suas existências. Retomando, minha pressa, na segunda à noite, devia-se ao fato de que eu queria ouvir e ver o Diogo Mainardi, no "Roda Viva" da TV Cultura, ao vivo. Apreciei suas ácidas reflexões, remontando à época de sua coluna na revista "Veja" (quando eu ainda lia esse veículo!), que lhe renderam muitos desafetos e ações judiciais. Apadrinhado por Ivan Lessa, na verdade, falecido neste ano em Londres, lembrou-me as falas despudoradas e a atitude conservadora de Paulo Francis, que completaria 80 anos em 2 de setembro, se tivesse mantido uma vida saudável. Quando Francis faleceu, ele ainda assinava uma coluna semanal no 'Estadão' e em um outro jornal, do qual não me recordo agora. Ouvi algumas das maledicências resgatadas pelo Mainardi e a descrição do que foi a malograda vinda de Gore Vidal ao Brasil, em 1987, também recentemente falecido, repleta de amadorismos. O jornalista contou alguns episódios, sobre as ações judiciais impetradas contra si, comentou a mudança da família para Veneza e falou no filho Tito, portador de necessidades especiais. O livro sobre o caso, intitulado "A queda", já foi lançado no Brasil. O que me surpreendeu foi que, de posse de uma atitude de descaso com a política nacional, e seus séquitos, incrédulo em relação à esquerda e à direita no cenário brasileiro e com o desfecho do julgamento dos réus do "mensalão", desvelou uma postura doce e humanista, considerando a vivência com seu filho Tito, portador de paralisia cerebral, decorrente de erro médico. Quanto às arbitrariedades, que eu gostaria de comentar, há alguns dias ocorreram a declaração formal de concessão de asilo político a Julian Assange, confinado na Embaixada Geral do Equador, em Londres, a pena de dois anos para as três integrantes da banda punk russa "Pussy Riot" e a migração de todos os perfis do Facebook para o formato "Timeline". Primeiramente, o presidente de um governo democrático sulamericano, do Equador, concede asilo político ao fundador do Wikileaks, que se encontra nas dependências da Embaixada Geral do Equador, localizada em Londres. O governo britânico já ameaçou invadir área, que, a rigor, está protegida pelos tratados internacionais como zona imune a qualquer tipo de ação arbitrária de parte do governo que a abriga geopoliticamente. Assange não pode ser extraditado, para os EUA, porque pode morrer, todos sabem disso, em função de ter protagonizado o vazamento de documentos ultrassecretos. Basta ler um excerto do relatório da Anistia Internacional do ano passado, reportando-se às ações contra os direitos humanos em solo americano, para se entender que as coisas por lá não andam bem já há muito tempo. Se algo ocorrer com Assange, certamente haverá uma enorme represália em rede, de parte de países democráticos contra o Reino Unido. Vamos ver o que vai rolar até o final do mês de agosto. Em relação à pena que as integrantes da banda "Pussy Riot" receberam, em 17 de agosto último, após cinco meses de prisão, por conta de sua manifestação musical anárquica no altar da grande Catedral da Igreja Ortodoxa em Moscou, contra Vladimir Putin, ocorrida em 21 de fevereiro deste ano, não há mais muito o que dizer. É óbvio que houve muitas manifestações na Rússia, das quais sequer ouvimos falar, naquele mês, uma vez que o patriarca ortodoxo de Moscou e da Rússia pediu votos para Putin, às vésperas das eleições, em março deste ano. Um escândalo! Assim, a pena divulgada pelo tribunal russo não condiz com a ação das garotas punk e o resultado fala muito mais do governo de Putin, e a falta de liberdade de expressão no país, que propriamente da banda, que alçou muito mais que 15 minutos de sucesso na mídia internacional e nas redes sociais. O 'casamento' entre Estado e Igreja na Rússia está rendendo rica matéria-prima para os analistas de política internacional. Por fim, o sistema operacional do Facebook, na quinta passada, dia 16 de agosto, transformou, automaticamente, meu perfil (e acredito que mais alguns milhares), dispondo-o de um modo diferenciado graficamente, com textos entrecortados à direita e à esquerda, com meus dados sumários no cabeçalho superior e um papel de parede, também na margem superior, no qual eu deveria lançar uma foto ou uma ilustração. Acredito que, pelo texto do box automático, gerado pelo sistema, quando da transformação, até o final de agosto, todos os milhões de perfis terão o mesmo fim. Para registrar a minha indignação, pela ação arbitrária da administração do Facebook, que não concedeu aos seus usuários a chance de ainda permanecerem com o lay-out antigo, gostaria apenas de descrever como me senti, vítima de uma violência desse tipo: se eu fosse de origem judaica, como vários amigos queridos que possuo, eu diria que me acordei na quinta-feira e constatei que minha loja, no distrito comercial de Berlin, havia sido destruída - e uma estrela amarela reluzia na parede externa de meu patrimônio; ou que me acordei de manhã, na quinta-feira, e um enorme muro, de aproximadamente três metros de altura, passara a existir a uma quadra do edifício de meus pais, na RDA, no ano em que eu nasci: 1961. Obrigada pela atenção, meus amigos, alunos e ex-alunos!
Oi Rô, eu tinha lido teu texto qdo vc me citou no post do face, mas não pude comentar naquele momento... Eu tive o meu perfil alterado já há mais de mês, eles avisaram em um dado momento que todos perfis seriam alterados e que não poderíamos migrar para o perfil antigo... também achei super arbitrário e nunca tinha visto isso numa rede social, mas todos estão aceitando, mesmo com diversas reclamações no próprio face (vários amigos meus brasileiros e estrangeiros reclamaram), acredito que exista até um grupo `odeio o timeline´, ou coisa que o valha... o problema é não termos a opção de escolha, e o fato que essa rede se tornou parte da vida de muuuiita gente....
ResponderExcluirQuando ao episódio do Assange, nunca vi tamanha injustiça em nível mundial, e, poucos tem coragem de sair em defesa do wikileaks e do Assange, esse sim, pessoa corajosa. Eu coloquei dois posts no meu face com entrevista Noam Chonsky, e artigo de Oliver Stone e Michael Moore, em defesa de Assange e da ordem e justiça internacionais. A situação parece ato de ditadura, e ditadura interncional.
Não li o post do Michael Moore. Vou procurá-lo em tua página. Obrigada, amiga, pelo comentário. Um beijo!
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