No domingo, fui a Porto Alegre novamente. Os ingressos estavam comprados há dois meses para a montagem de "Macbeth", de William Shakespeare, direção do Gabriel Villela, figurino do próprio Villela em parceria com o inventivo Shicó do Mamulengo (assisti à montagem de "Hécuba", de Eurípides, dessa mesma dupla, no TSP neste ano, e o figurino era muito interessante: econômico e muito criativo!), e cenografia do Márcio Vinicius. No elenco, Marcello Antony, como "Macbeth", e Cláudio Fontana, como Lady Macbeth, integrando um grupo exclusivamente masculino no palco. "Macbeth", no cinema, de 1948, com Orson Welles no papel principal, e direção dele mesmo, é um arraso! Certamente, todos os outros Macbeths que surgiram no cinema e no teatro tentaram mimetizar a representação singular de Welles. O texto original dessa peça é relativamente curto e foi escrito no início do século XVII, cuja estreia ocorreu em 1606. Segundo A. W. Schlegel, um dos teóricos do Romantismo Alemão, não há nada mais grandioso, nem mais terrível que "Macbeth", depois de Ésquilo e sua "Orestíada". A tragédia é ambientada na Escócia e trata da ambição humana, do livre arbítrio e do destino, ao passo que "Hamlet" trata da dúvida; "Othello", dos ciúmes. A montagem de Gabriel Villela tem pontos altos como o enxugamento de mais de três horas de montagem, na versão clássica, para exatos 90 minutos, com várias cenas distintas construídas no mesmo espaço cênico. Além do figurino econômico, constituído de coletes, véus, bordados a mão, e tecelagens - que lembram muito a obra de Arthur Bispo do Rosário, com seus estandartes, seu jogo lúdico nos bordados e seus assemblages -, o cenário contém um painel transparente com uma imagem de Duncan, o Rei da Escócia, uma escada, algumas cadeiras de madeira, tipo assentos antigos de cinema desativado, e uma espécie de tapume de construção civil, alto e cheio de objetos pendurados na parte interna, representando a fortaleza de Macbeth, após o assassinato de Duncan. Para mim, as Três Moiras ou Fúrias, vaticinando o futuro de Macbeth e de Banquo, também um militar, representadas por três atores na pele de três 'bibas', totalmente afetadas, rindo alto e em coro, tecendo o destino dos mortais com antenas de televisão nas mãos, como se tecessem um fio, foi demais! Muito bom e hilário, momentos únicos de riso na tragédia. O folder com a ficha técnica da montagem também é de alto nível, com textos seletos sobre a peça, mais um mosaico de depoimentos da imprensa. Ao final do espetáculo, após o suicídio de Lady Macbeth e do assassinato de Macbeth, ouve-se The Doors, "The End"! Lembrei-me muito do "Apocalypse Now", do F. F. Coppola. Na saída do Theatro São Pedro, fomos procurar um restaurante aberto no domingo às 20h30. Missão quase impossível em uma capital que sediará jogos da Copa do Mundo, em 2014. Encontramos fechados o Lola e o Lorita, ambos na Castro Alves, o Sharin, na Felipe Néri, o Bar da Mata, na Matta Bacellar, o Bar do Nitto, na Lucas de Oliveira, e o La Villa Amalfi, na Dona Leonor. Só encontramos abertos os bares e restaurantes da 'calçada da fama', da Padre Chagas e da Dinarte Ribeiro. Então, optamos por voltar ao Press, da Hilário Ribeiro, no qual estivemos em 7 de outubro.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
domingo, 18 de novembro de 2012
CROSSOVER DE MÚSICA ERUDITA E ROCK: ORQUESTRA DA UCS E A HARD ROCKERS BAND, DE CAXIAS DO SUL
Estivemos agora à noite no auditório da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC para prestigiar um concerto comemorativo aos 50 anos de sua mantenedora, a APESC, com a Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul - UCS -, sob a regência do simpático maestro Manfredo Schmiedt, acompanhada de uma banda de rock, a 'Hard Rockers', com cinco componentes da mesma cidade. Os arranjos, que compatibilizaram o rock com a música erudita, foram obra de estirpe do musicista e arranjador Alexandre Ostrovski Jr. O repertório era composto de temas do rock progressivo da década de 70 mesclados a alguns outros dos anos 80 e 90, mais ao estilo do hard rock, nacionais e internacionais. O casamento do erudito e do rock não é algo novo. No início da década de 80, eu apreciava muito ouvir as composições da banda holandesa "Focus", fundada em 1969, pelo tecladista e flautista Thijs van Leer. Eles sofriam influência de uma outra banda, a "Traffic", que eu também ouvia e amava, mas acabaram se inclinando pela forte referência à música erudita, ao barroco, em especial, e às improvisações instrumentais, que marcaram uma geração posterior, que enfatizou a fusion entre rock, funk e jazz. Poucos anos depois da aparição da "Focus", surge no cenário do rock progressivo o "Queen", banda britânica fundada em 1971 com Freddie Mercury à frente. O álbum "A Night at the Opera", que saiu em 1975, o white album, para os fãs de carteirinha, continha um tema inclassificável do ponto de vista do gênero musical: a Bohemian Rhapsody. Dali para a frente, nunca mais deixei de cantar os versos: "Is this te real life?/ Is this just fantasy?/ Caught in a landslide/ No escape from reality (...)". Por fim, eu não poderia deixar de mencionar a 'Scorpions', uma de minhas bandas prediletas, que o regente da orquestra da UCS destacou, porque era o tema da finaleira do setlist. A 'Scorpions' é uma banda de origem alemã e desenvolveu um álbum com a Orquestra Sinfônica de Berlim, uma das mais prestigiosas do mundo. Subiram ao palco na cidade natal da banda, Hannover, em 2000, em um show magistral, "Moment of Glory, uma década após a queda do Muro de Berlim, do qual se tem como registro um DVD. Procurem temas no You Tube, porque são demais: Still Loving You ou Wind of Change. Hey, Ho, rock'n roll.
UM POEMA
CONTAS A PAGAR
Estou em dívida com meu ‘mestre’,
Que de minha vida não cuidou,
Superficialmente participou
Até transbordá-la de desamor.
Aquilo que não quis ser,
Que não pude acolher,
Recusei-me a entender,
Ainda assim, em meu ‘mestre’, me abasteci.
Lembrei-me das viagens,
Dos passeios culturais
Dos poemas que sem ele eu sorvi.
Para além do que ficou para trás
Para aquém do que me está reservado
Devo muito a quem foi meu 'mestre'!
Que de minha vida
Não mais participou.
Anuncio aqui,
Há pouco instalado,
Meu desafeto e, de devedor, meu extrato!
Rô Candeloro - out. 2012 (do livro inédito, "Viagem abissal")
terça-feira, 13 de novembro de 2012
FEIRA DO LIVRO, MÚSICA NO ODEON, LITERATURA E CHINA NOVAMENTE...
(post re-revisado. Meu blog está atingindo hoje 14 mil acessos aos posts!)
Neste finde, voltei à Feira do Livro de Porto Alegre. No sábado à tarde, havia filas longas em direção ao estande dos autógrafos, sob um imenso calorão! Fotografei um grupo de umas 15 pessoas, do Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça, que faziam uma manifestação com cartazes nas mãos, denunciando a impunidade de um militar torturador, ainda vivo. Antes de ir à Feira, estive no cinema. Fui ao Cine Guion assistir à produção franco-libanesa, "Aonde vamos agora?" (Et Maintenaint, On Va Où?, de 2011), da diretora libanesa Nadine Labaki, conhecida pelo longa "Caramel", de 2007. O filme retrata uma aldeia distante no interior do Líbano, cujas mães e esposas, de luto pelos filhos e esposos mortos nos conflitos religiosos entre muçulmanos e cristãos, visitam o cemitério na cena inicial. Algumas delas, lideradas pelas mais maduras, resolvem boicotar as notícias sobre os conflitos na única TV pública do povoado e em um impresso, que lhes chega de moto, diariamente, de uma cidade maior, nas proximidades. O modo pelo qual as líderes deliberam, no sentido de distrair seus maridos em relação ao que ocorre no país e ao seu inexorável destino, dá uma atmosfera de fábula à narrativa e um tom surreal ao desenrolar do filme, sem contar que se trata de um semi-musical, cantado em libanês, claro! Não comentarei o desfecho aqui! Muito bom! Recomendo-o! No domingo, optei pelo Irã, na visão hollywoodiana de Ben Affleck, o incensado "Argo", de 2012, com o próprio diretor como protagonista (que também é produtor com George Clooney, além de roteirista! Uau!), o caricato John Goodman e um bom elenco. Apreciei o ritmo, o suspense, a ação, o roteiro, as imagens documentais, a construção de época, a fotografia, com imagens de Teerã. No entanto, considerei-o nacionalista demasiado, americanófilo de doer. Foi difícil de suportar, fora o fato de que há uma cena que mostra o reflexo do tórax do Affleck em um espelho de hotel, vestindo uma camisa! Totalmente dispensável! De qualquer modo, penso que todos têm de conferir, independente de meu ponto de vista. O episódio retratado pelo longa é verídico, foi realmente uma perigosa missão da CIA, protagonizando a produção de um filme 'fake', o "Argo", ficção científica, que deu certo e salvou a vida de seis funcionários da Embaixada dos EUA, em Teerã. À noite, no sábado, fomos ao Odeon, um bar no centro de Porto Alegre, fundado há 27 anos, na Andrade Neves. Aos sábados à noite, às 21h30, com couvert a módicos 10 reais, o notável guitarrista James Liberato toca com seu power trio, o Mig Trio, constituído pelo Fernando Petry, um baixista animal, bom pra caramba, e o Jua Ferreira na batera (esse batera eu não conhecia). O som deles é uma fusão de rock, jazz e umas pegadas de funk. Ora lembrou-me o Pat Metheny brincando na guita com o baixo de Charlie Haden; ora o som da banda do virtuoso Jeff Beck. O Odeon mantém um cardápio enxuto: chopp, fritas e maravilhosos (e verdadeiros, pasmem!) bolinhos de bacalhau! Faltou no cardápio o "rim ao óleo e alho", mas o garçon-patrimônio-da-casa estava à procura de um doador para superar a carência. Quanto à literatura, neste finde, li as preliminares do romance que minha filha está escrevendo, no gênero chick lit. Mais uma vez, discutimos sobre a trilogia fanfic "50 tons de cinza", da Erika James. Eu fazendo a crítica; minha filha, a defesa (ela explica que a James apenas ressignificou o universo do vampirismo e o dignificou como sadismo nos '50 tons de cinza')! Ela (a filha) aprecia o gênero representado atualmente pelas obras da Lauren Weisenberg, da Sophie Kinsella e da Marian Keyes. Para terminar, comprei na Cultura Os Analectos, de Confúcio, relançados há pouco, e a segunda edição do belo volume de poemas chineses clássicos, traduzidos pelo Haroldo de Campos, e ampliados pelo Trajano Vieira, em uma edição belíssima da Ateliê Editorial. Atrevi-me a fotocopiar uma das odes, do "Livro das Odes", compiladas pelo próprio Confúcio, no século VI a. C., e levei-a para a aula de "Filosofia e Cultura Oriental" de hoje, para meus alunos sentirem a musicalidade da transcriação pilotada pelo saudoso e querido Haroldo de Campos, que nos deixou há quase uma década. Continuo parada na China (ou avant la lettre?)....
Neste finde, voltei à Feira do Livro de Porto Alegre. No sábado à tarde, havia filas longas em direção ao estande dos autógrafos, sob um imenso calorão! Fotografei um grupo de umas 15 pessoas, do Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça, que faziam uma manifestação com cartazes nas mãos, denunciando a impunidade de um militar torturador, ainda vivo. Antes de ir à Feira, estive no cinema. Fui ao Cine Guion assistir à produção franco-libanesa, "Aonde vamos agora?" (Et Maintenaint, On Va Où?, de 2011), da diretora libanesa Nadine Labaki, conhecida pelo longa "Caramel", de 2007. O filme retrata uma aldeia distante no interior do Líbano, cujas mães e esposas, de luto pelos filhos e esposos mortos nos conflitos religiosos entre muçulmanos e cristãos, visitam o cemitério na cena inicial. Algumas delas, lideradas pelas mais maduras, resolvem boicotar as notícias sobre os conflitos na única TV pública do povoado e em um impresso, que lhes chega de moto, diariamente, de uma cidade maior, nas proximidades. O modo pelo qual as líderes deliberam, no sentido de distrair seus maridos em relação ao que ocorre no país e ao seu inexorável destino, dá uma atmosfera de fábula à narrativa e um tom surreal ao desenrolar do filme, sem contar que se trata de um semi-musical, cantado em libanês, claro! Não comentarei o desfecho aqui! Muito bom! Recomendo-o! No domingo, optei pelo Irã, na visão hollywoodiana de Ben Affleck, o incensado "Argo", de 2012, com o próprio diretor como protagonista (que também é produtor com George Clooney, além de roteirista! Uau!), o caricato John Goodman e um bom elenco. Apreciei o ritmo, o suspense, a ação, o roteiro, as imagens documentais, a construção de época, a fotografia, com imagens de Teerã. No entanto, considerei-o nacionalista demasiado, americanófilo de doer. Foi difícil de suportar, fora o fato de que há uma cena que mostra o reflexo do tórax do Affleck em um espelho de hotel, vestindo uma camisa! Totalmente dispensável! De qualquer modo, penso que todos têm de conferir, independente de meu ponto de vista. O episódio retratado pelo longa é verídico, foi realmente uma perigosa missão da CIA, protagonizando a produção de um filme 'fake', o "Argo", ficção científica, que deu certo e salvou a vida de seis funcionários da Embaixada dos EUA, em Teerã. À noite, no sábado, fomos ao Odeon, um bar no centro de Porto Alegre, fundado há 27 anos, na Andrade Neves. Aos sábados à noite, às 21h30, com couvert a módicos 10 reais, o notável guitarrista James Liberato toca com seu power trio, o Mig Trio, constituído pelo Fernando Petry, um baixista animal, bom pra caramba, e o Jua Ferreira na batera (esse batera eu não conhecia). O som deles é uma fusão de rock, jazz e umas pegadas de funk. Ora lembrou-me o Pat Metheny brincando na guita com o baixo de Charlie Haden; ora o som da banda do virtuoso Jeff Beck. O Odeon mantém um cardápio enxuto: chopp, fritas e maravilhosos (e verdadeiros, pasmem!) bolinhos de bacalhau! Faltou no cardápio o "rim ao óleo e alho", mas o garçon-patrimônio-da-casa estava à procura de um doador para superar a carência. Quanto à literatura, neste finde, li as preliminares do romance que minha filha está escrevendo, no gênero chick lit. Mais uma vez, discutimos sobre a trilogia fanfic "50 tons de cinza", da Erika James. Eu fazendo a crítica; minha filha, a defesa (ela explica que a James apenas ressignificou o universo do vampirismo e o dignificou como sadismo nos '50 tons de cinza')! Ela (a filha) aprecia o gênero representado atualmente pelas obras da Lauren Weisenberg, da Sophie Kinsella e da Marian Keyes. Para terminar, comprei na Cultura Os Analectos, de Confúcio, relançados há pouco, e a segunda edição do belo volume de poemas chineses clássicos, traduzidos pelo Haroldo de Campos, e ampliados pelo Trajano Vieira, em uma edição belíssima da Ateliê Editorial. Atrevi-me a fotocopiar uma das odes, do "Livro das Odes", compiladas pelo próprio Confúcio, no século VI a. C., e levei-a para a aula de "Filosofia e Cultura Oriental" de hoje, para meus alunos sentirem a musicalidade da transcriação pilotada pelo saudoso e querido Haroldo de Campos, que nos deixou há quase uma década. Continuo parada na China (ou avant la lettre?)....
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
WALLERSTEIN, CHINA, CONFÚCIO E TUDO O MAIS QUE ME INTERESSA!
(alcançando hoje quase 13 mil e 500 leituras de meus posts!)
(Re-revisado em 4 de novembro!)
Para quem é transdisciplinar como eu, é difícil de os outros imaginarem como faço para internalizar as leituras que realizo de áreas diversas e literatura de gêneros distintos! Leio poesia todos os dias (desde a semana passada, poemas franceses e ensaios sobre Arte, de Rilke, e uma coletânea da Estação Liberdade da poeta polonesa, Nobel de Literatura, que faleceu neste ano, a Szymborska (pronuncia-se algo como Schemborska!). Também estou terminando o livro "Arriscar o impossível", do Zizek (pronuncia-se Jijek!). Neste momento, estou finalizando o esquema de uma aula sobre a phronesis (o justo meio), na ética de Aristóteles, para hoje à noite, e deixei há pouco de lado uma leitura in progress para a aula de Filosofia e Cultura Oriental, no dia 5 de novembro, no curso de Relações Internacionais, sobre o Taoísmo e o Confucionismo na China, do Marcel Graner (da editora Contraponto). Ganhei um livro da Oxford University Press, Indian Philosophy in English, comprado dentro do aeroporto internacional de Cingapura por um querido aluno meu dessa disciplina, de RI, que é inteligente, interessado e resolveu me brindar com uma pequena preciosidade, além de ter-me emprestado dois volumes sobre a China e sua expansão marítima no século XV. Ele é o executivo Ericson Fensterseifer. Aí inicia-se a narrativa do insight que tive há pouco. Li alguns trechos dos livros emprestados sobre a China e ontem à noite assisti, no Canal Futura, por acaso (que não é bem por acaso, né?), a um documentário sobre os mapas de navegações do século XV e a expansão marítima protagonizada pela China e, depois, pela Europa. Fiquei pasmada com os mapas com os quais a China, há mais de 600 anos, já singrava os mares com centenas de naus. Sempre apreciei a História, mas não para estudá-la sistematicamente. Assim, já conhecia as aventuras de Marco Polo desde menina e as contribuições do império de Gengis Khan. No entanto, não sabia nada sobre o famoso navegador Zheng Ke (1371-1433), que, durante 28 anos, desbravou os mares a serviço dos imperadores da dinastia Ming. Subitamente, quando a China decidiu não investir mais na expansão marítima, a Europa começa a ser proeminente no ramo. Alguns estudiosos afirmam que os confucionistas dão ênfase ao 'interior' e, por isso, em um determinado momento do século XV, dependendo de quem estava no poder, os chineses voltaram-se para o próprio império; houve um tipo de "contração" e, então, deixaram de lado o impulso pela conquista de terras exóticas e incógnitas. Dizem que Colombo teria chegado à América 87 anos após Zheng Ke já ter aportado por lá. Os portugueses eram misteriosos em relação às suas conquistas, porque insistiram muito para que o Tratado de Tordesilhas tivesse sua linha imaginária deslocada para o Oeste, o máximo possível. Já sabiam de algo, certamente, talvez, pelos chineses. Associado a isso tudo, lembrei-me que, conversando com o Airton Mueller (conhecido em Berlim como "Érton"!), doutorando em Ciências Sociais na Freie Universität Berlin e orientando do eminente sociólogo brasileiro Sérgio Costa, diretor do Latinamerika-Institut dessa instituição, o mesmo indicou-me um tal de Immanuel Wallerstein e sua Teoria dos Sistemas-Mundo. Não deu outra! Desde aquele sábado, dia 20 de outubro, em que conversamos, entre almoço e cafés durante quatro horas, fui atrás do Wallerstein. Esse cientista político, da geração de Apel, Habermas e Bauman, é norteamericano e deu aula na Columbia University até 1971. Desde 2000, é pesquisador sênior na Yale University e expert em pós-colonialismo na África. Esse pensador tem apenas um livro traduzido para o Português, de 2001, "Capitalismo histórico e civilização capitalista", da Contraponto. O Airton contou-me que Sérgio Costa e seu grupo estão estudando o modelo de Wallerstein, que se inscreve na seara dos escritos críticos pós-marxistas e faz uma crítica mordaz aos teóricos da globalização, aqueles que defendem que o atual sistema não tem precedentes na história (sic). Foi uma descoberta para mim, porque a Teoria dos Sistemas-Mundo - que pretende oferecer uma via intermediária entre as narrativas singulares e as diretivas universais do campo social, dialogizando a matéria idiográfica da História e o domínio nomotético da sociedade (isso é dos comentadores do Wallerstein) -, é utilizada por várias ciências, inclusive pela Arqueologia e fiquei imaginando-a nos domínios da Filosofia, como no Idealismo Alemão ou, antes, na Nova História de Vico. Se a Teoria dos Sistemas-Mundo explica os longos ciclos que determinam a configuração socioeconômica atual dos países altamente industrializados, uma vez a China fora de cena, no século XV, vê-se que ela está voltando com toda a força ao palco principal. E os países periféricos e semiperiféricos, em decorrência, deveriam ser agregados à Teoria dos Sistemas-Mundo, suponho, por dedução. Assim, continuarei a estudar a China e suas filosofias. Quem sabe, ainda estudarei, daqui a alguns anos, Mandarim? A China está com tudo...
(Re-revisado em 4 de novembro!)
Para quem é transdisciplinar como eu, é difícil de os outros imaginarem como faço para internalizar as leituras que realizo de áreas diversas e literatura de gêneros distintos! Leio poesia todos os dias (desde a semana passada, poemas franceses e ensaios sobre Arte, de Rilke, e uma coletânea da Estação Liberdade da poeta polonesa, Nobel de Literatura, que faleceu neste ano, a Szymborska (pronuncia-se algo como Schemborska!). Também estou terminando o livro "Arriscar o impossível", do Zizek (pronuncia-se Jijek!). Neste momento, estou finalizando o esquema de uma aula sobre a phronesis (o justo meio), na ética de Aristóteles, para hoje à noite, e deixei há pouco de lado uma leitura in progress para a aula de Filosofia e Cultura Oriental, no dia 5 de novembro, no curso de Relações Internacionais, sobre o Taoísmo e o Confucionismo na China, do Marcel Graner (da editora Contraponto). Ganhei um livro da Oxford University Press, Indian Philosophy in English, comprado dentro do aeroporto internacional de Cingapura por um querido aluno meu dessa disciplina, de RI, que é inteligente, interessado e resolveu me brindar com uma pequena preciosidade, além de ter-me emprestado dois volumes sobre a China e sua expansão marítima no século XV. Ele é o executivo Ericson Fensterseifer. Aí inicia-se a narrativa do insight que tive há pouco. Li alguns trechos dos livros emprestados sobre a China e ontem à noite assisti, no Canal Futura, por acaso (que não é bem por acaso, né?), a um documentário sobre os mapas de navegações do século XV e a expansão marítima protagonizada pela China e, depois, pela Europa. Fiquei pasmada com os mapas com os quais a China, há mais de 600 anos, já singrava os mares com centenas de naus. Sempre apreciei a História, mas não para estudá-la sistematicamente. Assim, já conhecia as aventuras de Marco Polo desde menina e as contribuições do império de Gengis Khan. No entanto, não sabia nada sobre o famoso navegador Zheng Ke (1371-1433), que, durante 28 anos, desbravou os mares a serviço dos imperadores da dinastia Ming. Subitamente, quando a China decidiu não investir mais na expansão marítima, a Europa começa a ser proeminente no ramo. Alguns estudiosos afirmam que os confucionistas dão ênfase ao 'interior' e, por isso, em um determinado momento do século XV, dependendo de quem estava no poder, os chineses voltaram-se para o próprio império; houve um tipo de "contração" e, então, deixaram de lado o impulso pela conquista de terras exóticas e incógnitas. Dizem que Colombo teria chegado à América 87 anos após Zheng Ke já ter aportado por lá. Os portugueses eram misteriosos em relação às suas conquistas, porque insistiram muito para que o Tratado de Tordesilhas tivesse sua linha imaginária deslocada para o Oeste, o máximo possível. Já sabiam de algo, certamente, talvez, pelos chineses. Associado a isso tudo, lembrei-me que, conversando com o Airton Mueller (conhecido em Berlim como "Érton"!), doutorando em Ciências Sociais na Freie Universität Berlin e orientando do eminente sociólogo brasileiro Sérgio Costa, diretor do Latinamerika-Institut dessa instituição, o mesmo indicou-me um tal de Immanuel Wallerstein e sua Teoria dos Sistemas-Mundo. Não deu outra! Desde aquele sábado, dia 20 de outubro, em que conversamos, entre almoço e cafés durante quatro horas, fui atrás do Wallerstein. Esse cientista político, da geração de Apel, Habermas e Bauman, é norteamericano e deu aula na Columbia University até 1971. Desde 2000, é pesquisador sênior na Yale University e expert em pós-colonialismo na África. Esse pensador tem apenas um livro traduzido para o Português, de 2001, "Capitalismo histórico e civilização capitalista", da Contraponto. O Airton contou-me que Sérgio Costa e seu grupo estão estudando o modelo de Wallerstein, que se inscreve na seara dos escritos críticos pós-marxistas e faz uma crítica mordaz aos teóricos da globalização, aqueles que defendem que o atual sistema não tem precedentes na história (sic). Foi uma descoberta para mim, porque a Teoria dos Sistemas-Mundo - que pretende oferecer uma via intermediária entre as narrativas singulares e as diretivas universais do campo social, dialogizando a matéria idiográfica da História e o domínio nomotético da sociedade (isso é dos comentadores do Wallerstein) -, é utilizada por várias ciências, inclusive pela Arqueologia e fiquei imaginando-a nos domínios da Filosofia, como no Idealismo Alemão ou, antes, na Nova História de Vico. Se a Teoria dos Sistemas-Mundo explica os longos ciclos que determinam a configuração socioeconômica atual dos países altamente industrializados, uma vez a China fora de cena, no século XV, vê-se que ela está voltando com toda a força ao palco principal. E os países periféricos e semiperiféricos, em decorrência, deveriam ser agregados à Teoria dos Sistemas-Mundo, suponho, por dedução. Assim, continuarei a estudar a China e suas filosofias. Quem sabe, ainda estudarei, daqui a alguns anos, Mandarim? A China está com tudo...
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