(alcançando hoje quase 13 mil e 500 leituras de meus posts!)
(Re-revisado em 4 de novembro!)
Para quem é transdisciplinar como eu, é difícil de os outros imaginarem como faço para internalizar as leituras que realizo de áreas diversas e literatura de gêneros distintos! Leio poesia todos os dias (desde a semana passada, poemas franceses e ensaios sobre Arte, de Rilke, e uma coletânea da Estação Liberdade da poeta polonesa, Nobel de Literatura, que faleceu neste ano, a Szymborska (pronuncia-se algo como Schemborska!). Também estou terminando o livro "Arriscar o impossível", do Zizek (pronuncia-se Jijek!). Neste momento, estou finalizando o esquema de uma aula sobre a phronesis (o justo meio), na ética de Aristóteles, para hoje à noite, e deixei há pouco de lado uma leitura in progress para a aula de Filosofia e Cultura Oriental, no dia 5 de novembro, no curso de Relações Internacionais, sobre o Taoísmo e o Confucionismo na China, do Marcel Graner (da editora Contraponto). Ganhei um livro da Oxford University Press, Indian Philosophy in English, comprado dentro do aeroporto internacional de Cingapura por um querido aluno meu dessa disciplina, de RI, que é inteligente, interessado e resolveu me brindar com uma pequena preciosidade, além de ter-me emprestado dois volumes sobre a China e sua expansão marítima no século XV. Ele é o executivo Ericson Fensterseifer. Aí inicia-se a narrativa do insight que tive há pouco. Li alguns trechos dos livros emprestados sobre a China e ontem à noite assisti, no Canal Futura, por acaso (que não é bem por acaso, né?), a um documentário sobre os mapas de navegações do século XV e a expansão marítima protagonizada pela China e, depois, pela Europa. Fiquei pasmada com os mapas com os quais a China, há mais de 600 anos, já singrava os mares com centenas de naus. Sempre apreciei a História, mas não para estudá-la sistematicamente. Assim, já conhecia as aventuras de Marco Polo desde menina e as contribuições do império de Gengis Khan. No entanto, não sabia nada sobre o famoso navegador Zheng Ke (1371-1433), que, durante 28 anos, desbravou os mares a serviço dos imperadores da dinastia Ming. Subitamente, quando a China decidiu não investir mais na expansão marítima, a Europa começa a ser proeminente no ramo. Alguns estudiosos afirmam que os confucionistas dão ênfase ao 'interior' e, por isso, em um determinado momento do século XV, dependendo de quem estava no poder, os chineses voltaram-se para o próprio império; houve um tipo de "contração" e, então, deixaram de lado o impulso pela conquista de terras exóticas e incógnitas. Dizem que Colombo teria chegado à América 87 anos após Zheng Ke já ter aportado por lá. Os portugueses eram misteriosos em relação às suas conquistas, porque insistiram muito para que o Tratado de Tordesilhas tivesse sua linha imaginária deslocada para o Oeste, o máximo possível. Já sabiam de algo, certamente, talvez, pelos chineses. Associado a isso tudo, lembrei-me que, conversando com o Airton Mueller (conhecido em Berlim como "Érton"!), doutorando em Ciências Sociais na Freie Universität Berlin e orientando do eminente sociólogo brasileiro Sérgio Costa, diretor do Latinamerika-Institut dessa instituição, o mesmo indicou-me um tal de Immanuel Wallerstein e sua Teoria dos Sistemas-Mundo. Não deu outra! Desde aquele sábado, dia 20 de outubro, em que conversamos, entre almoço e cafés durante quatro horas, fui atrás do Wallerstein. Esse cientista político, da geração de Apel, Habermas e Bauman, é norteamericano e deu aula na Columbia University até 1971. Desde 2000, é pesquisador sênior na Yale University e expert em pós-colonialismo na África. Esse pensador tem apenas um livro traduzido para o Português, de 2001, "Capitalismo histórico e civilização capitalista", da Contraponto. O Airton contou-me que Sérgio Costa e seu grupo estão estudando o modelo de Wallerstein, que se inscreve na seara dos escritos críticos pós-marxistas e faz uma crítica mordaz aos teóricos da globalização, aqueles que defendem que o atual sistema não tem precedentes na história (sic). Foi uma descoberta para mim, porque a Teoria dos Sistemas-Mundo - que pretende oferecer uma via intermediária entre as narrativas singulares e as diretivas universais do campo social, dialogizando a matéria idiográfica da História e o domínio nomotético da sociedade (isso é dos comentadores do Wallerstein) -, é utilizada por várias ciências, inclusive pela Arqueologia e fiquei imaginando-a nos domínios da Filosofia, como no Idealismo Alemão ou, antes, na Nova História de Vico. Se a Teoria dos Sistemas-Mundo explica os longos ciclos que determinam a configuração socioeconômica atual dos países altamente industrializados, uma vez a China fora de cena, no século XV, vê-se que ela está voltando com toda a força ao palco principal. E os países periféricos e semiperiféricos, em decorrência, deveriam ser agregados à Teoria dos Sistemas-Mundo, suponho, por dedução. Assim, continuarei a estudar a China e suas filosofias. Quem sabe, ainda estudarei, daqui a alguns anos, Mandarim? A China está com tudo...
(Re-revisado em 4 de novembro!)
Para quem é transdisciplinar como eu, é difícil de os outros imaginarem como faço para internalizar as leituras que realizo de áreas diversas e literatura de gêneros distintos! Leio poesia todos os dias (desde a semana passada, poemas franceses e ensaios sobre Arte, de Rilke, e uma coletânea da Estação Liberdade da poeta polonesa, Nobel de Literatura, que faleceu neste ano, a Szymborska (pronuncia-se algo como Schemborska!). Também estou terminando o livro "Arriscar o impossível", do Zizek (pronuncia-se Jijek!). Neste momento, estou finalizando o esquema de uma aula sobre a phronesis (o justo meio), na ética de Aristóteles, para hoje à noite, e deixei há pouco de lado uma leitura in progress para a aula de Filosofia e Cultura Oriental, no dia 5 de novembro, no curso de Relações Internacionais, sobre o Taoísmo e o Confucionismo na China, do Marcel Graner (da editora Contraponto). Ganhei um livro da Oxford University Press, Indian Philosophy in English, comprado dentro do aeroporto internacional de Cingapura por um querido aluno meu dessa disciplina, de RI, que é inteligente, interessado e resolveu me brindar com uma pequena preciosidade, além de ter-me emprestado dois volumes sobre a China e sua expansão marítima no século XV. Ele é o executivo Ericson Fensterseifer. Aí inicia-se a narrativa do insight que tive há pouco. Li alguns trechos dos livros emprestados sobre a China e ontem à noite assisti, no Canal Futura, por acaso (que não é bem por acaso, né?), a um documentário sobre os mapas de navegações do século XV e a expansão marítima protagonizada pela China e, depois, pela Europa. Fiquei pasmada com os mapas com os quais a China, há mais de 600 anos, já singrava os mares com centenas de naus. Sempre apreciei a História, mas não para estudá-la sistematicamente. Assim, já conhecia as aventuras de Marco Polo desde menina e as contribuições do império de Gengis Khan. No entanto, não sabia nada sobre o famoso navegador Zheng Ke (1371-1433), que, durante 28 anos, desbravou os mares a serviço dos imperadores da dinastia Ming. Subitamente, quando a China decidiu não investir mais na expansão marítima, a Europa começa a ser proeminente no ramo. Alguns estudiosos afirmam que os confucionistas dão ênfase ao 'interior' e, por isso, em um determinado momento do século XV, dependendo de quem estava no poder, os chineses voltaram-se para o próprio império; houve um tipo de "contração" e, então, deixaram de lado o impulso pela conquista de terras exóticas e incógnitas. Dizem que Colombo teria chegado à América 87 anos após Zheng Ke já ter aportado por lá. Os portugueses eram misteriosos em relação às suas conquistas, porque insistiram muito para que o Tratado de Tordesilhas tivesse sua linha imaginária deslocada para o Oeste, o máximo possível. Já sabiam de algo, certamente, talvez, pelos chineses. Associado a isso tudo, lembrei-me que, conversando com o Airton Mueller (conhecido em Berlim como "Érton"!), doutorando em Ciências Sociais na Freie Universität Berlin e orientando do eminente sociólogo brasileiro Sérgio Costa, diretor do Latinamerika-Institut dessa instituição, o mesmo indicou-me um tal de Immanuel Wallerstein e sua Teoria dos Sistemas-Mundo. Não deu outra! Desde aquele sábado, dia 20 de outubro, em que conversamos, entre almoço e cafés durante quatro horas, fui atrás do Wallerstein. Esse cientista político, da geração de Apel, Habermas e Bauman, é norteamericano e deu aula na Columbia University até 1971. Desde 2000, é pesquisador sênior na Yale University e expert em pós-colonialismo na África. Esse pensador tem apenas um livro traduzido para o Português, de 2001, "Capitalismo histórico e civilização capitalista", da Contraponto. O Airton contou-me que Sérgio Costa e seu grupo estão estudando o modelo de Wallerstein, que se inscreve na seara dos escritos críticos pós-marxistas e faz uma crítica mordaz aos teóricos da globalização, aqueles que defendem que o atual sistema não tem precedentes na história (sic). Foi uma descoberta para mim, porque a Teoria dos Sistemas-Mundo - que pretende oferecer uma via intermediária entre as narrativas singulares e as diretivas universais do campo social, dialogizando a matéria idiográfica da História e o domínio nomotético da sociedade (isso é dos comentadores do Wallerstein) -, é utilizada por várias ciências, inclusive pela Arqueologia e fiquei imaginando-a nos domínios da Filosofia, como no Idealismo Alemão ou, antes, na Nova História de Vico. Se a Teoria dos Sistemas-Mundo explica os longos ciclos que determinam a configuração socioeconômica atual dos países altamente industrializados, uma vez a China fora de cena, no século XV, vê-se que ela está voltando com toda a força ao palco principal. E os países periféricos e semiperiféricos, em decorrência, deveriam ser agregados à Teoria dos Sistemas-Mundo, suponho, por dedução. Assim, continuarei a estudar a China e suas filosofias. Quem sabe, ainda estudarei, daqui a alguns anos, Mandarim? A China está com tudo...
De meu aluno de Relações Internacionais:
ResponderExcluirMinha cara professora, fico feliz em perceber que fui de alguma ajuda. No tocante a China, passado e presente, a mim, tudo fascina, e hoje mais ainda, devido a proeminência que ela esta alcançando no cenário mundial. Até o início da década de 1990, pouco se sabia ou se falava a respeito da China. E, de certa forma, quando tínhamos alguma notícia/informação, normalmente já nos era apresentada até de forma a menosprezar a China e ou sua cultura. Muito pouco sabíamos de sua história e feitos. Sabíamos que a China era lá do outro lado do mundo... que tinha um povo estranho, meio amarelo... de olhos puxados e com uma língua dificílima e incompreensível... Bueno... hoje são outros tempos... antes quase tudo girava em torno dos “americanos”, hoje..., já mais perto do que longe... será o tempo dos “chineses”.
E por aqui me despeço, mas não sem antes te cumprimentar pela iniciativa de teu blog, que entendo como uma “porta aberta”, a tudo que valorizas. Parabéns, e se me permites... a meu modo de ver és uma “VIRTUOSA”!
Ao finalizar, me ocorreu deixar uma outra pequena mensagem: ...aqueles que entenderem os “valores” para os chineses, se sairão muito melhor em suas interações com a China.
Ericson Fensterseifer
Rô, sua busca e paixão pelo conhecimento é admirável e contagiante! Me lembra uma menina encantada descobrindo a magia e os mistérios da vida, te vejo com uma "Alice no País das Maravilhas". Obrigada por seu exemplo, vou levar para sempre os minutos eternos que passamos em aula.
ResponderExcluirBeijo
Sheyla