O filósofo suíço Alain de Botton em "A arte de viajar" (2012, da Editora Intrínseca) relaciona de um modo poético-estético a arte de viajar ao que os antigos gregos denominavam de eudaimonia (felicidade ou o 'desabrochar humano'). Introduz em seu texto os relatos de um personagem, Des Esseintes, que resolve abdicar da realidade empírica do ato de viajar e em prol de cultivar em casa uma coleção pletórica de quadros, mapas, objetos, afirmando que a imaginação é "capaz de proporcionar um substituto mais do que adequado à realidade vulgar da experiência concreta" (p. 33). Interessante esse argumento! Todavia, em meu entender, os quadros, os mapas, os guias, a leitura de relatos em sites e blogs, as dicas de especialistas e a troca de experiência com amigos próximos fazem parte, sim, de um exercício fundamental de imaginação estágio da pré-viagem, mas, mais que isso, funciona como um dispositivo que aguça os sentidos e potencializa o olhar estético! Esse é o meu enfoque e é nisso que acredito, inclusive, como docente de Filosofia. Já comprei meu bilhete para a Europa; a viagem será em dezembro. Desta vez vou viajar sozinha e no inverno, com o destino de passar o Ano-Novo com amigos em Hamburg, na Alemanha. Comprei hoje um enorme guia que, para mim, é o melhor deles traduzido para o Português e o que apresenta uma diagramação dinâmica, com informações relevantes e dicas de roteiros pela Europa do Leste: Lonely Planet, "Leste Europeu" (da Globo Livros). Leio, metodicamente, cada tópico de cada cidade pela qual passarei, vejo suas imagens na WEB, leio relatos de outros viajantes e, mais adiante, em agosto, começarei, a partir de recomendações de blogueiros, a fazer as reservas em hotéis ou rede de hostel, dependendo do número de dias em que ficarei em casa cidade. Iniciarei minha viagem, em homenagem ao Botton, por Zürich (Zurique, em Português), sua cidade natal. Tornou-se capital imperial no século XIII e é hoje o centro financeiro da Suíça. Já li sobre a cidade, preços, passeios, distâncias, sempre levando em conta que o roteiro é uma viagem mental 'preliminar', que pode ser boicotado por uma fatalidade. É preciso ter coragem e desprendimento para viajar sozinha, em se tratando de uma mulher e tendo em vista de que o trajeto a ser realizado é, predominantemente, por cidades de língua alemã e no auge do inverno. Pretendo fazer uma imersão no Alemão, posto que estou em vias de ascender ao estágio intermediário de meu aprendizado e já estou traduzindo textos filosóficos concebidos nessa língua. É uma satisfação imensa imaginar-me caminhando sob a neve e me expressando em mais uma nova língua, que resolvi aprender tardiamente. Após uma noite e um dia em Zurique, pretendo pegar um trem e ir até Basel (Basileia, em Português e Basilia, em Latim), fundada pelos romanos, para dar uma caminhada pelo centro e conhecer a Basel Universität, na qual Nietzsche ministrou aulas de Filologia por cerca de nove anos. Seguindo para a Alemanha, ficarei três dias em München (Munique, em Português), no coração da Alta Baviera, fundada no século XII e destruída pela metade na Segunda Guerra Mundial. Nessa cidade, visitarei dois enormes museus, a Alte e a Neue Pinakothek, a sede da Bauhaus, o Museu Arqueológico e o que restou do bunker do Terceiro Reich. De München, irei de trem a Wien (Viena, em Português) já na Áustria, para mais três dias de passeios. Viena surgiu de uma vila militar romana chamada Vindobona e, no século XIX, tornou-se a capital do Império Austríaco. Ali, quero visitar a Ópera de Viena, a Filarmônica, o Museu Judaico, o Palácio de Schönbrum, a galeria de arte do Belvedere (Klimt e as obras de Egon Schiele e de Oskar Kokoschka, em especial) e visitarei os túmulos de Beethoven, Schubert e Mozart no cemitério municipal da cidade. De Viena, passarei apenas um dia pelo centro de Bratislava (Pressburg, em Alemão; Pozsony, em Húngaro), capital da Eslováquia, que, há 20 anos, desenvolveu-se extraordinariamente, após a divisão da Tchecoeslováquia. Como já conheço Praga, não poderia deixar de dar uma passada em Bratislava; é muito perto de Viena! Seu primeiro assentamento deve-se a uma tribo celta. Mais adiante, fez parte do Império Romano até os eslavos chegarem, no século V. Em Bratislava, quero apenas passear pela cidade velha e fotografar a arquitetura bizarra, legado herdado do comunismo. À noite, seguirei para Leipzig/Weimar, retornando, então, à Alemanha. Nessas cidades, tenho uma pequena lista de pérolas para fotografar e visitar rapidamente, porque terei de estar na véspera de Natal em Berlim, cidade que já conheço e na qual estive por quase sete dias em 2011. Em Berlim, vou conhecer três pontos culturais que ficaram para trás na viagem anterior. Após, embarcarei para Hamburg na tarde de 29 de dezembro. Meus queridos amigos alemães levar-me-ão, no dia 30, a Lübeck, a 70 quilômetros de Hamburg, para conhecer a casa na qual viveu Thomas Mann, escritor alemão que muito aprecio. Passado o revéillon com meus amigos, no dia 1º de janeiro farei o último trajeto do roteiro, rumo a Varsóvia (Warzsawa, em polaco) capital da Polônia, terra natal de Chopin. Cidade quase totalmente destruída na Segunda Guerra Mundial e, hoje, patrimônio cultural da humanidade, quero visitar os museus de Chopin e do Holocausto, além de conferir sua produção artística. Saindo de Varsóvia, meu destino será o aeroporto internacional de Frankfurt, de volta ao Brasil. As fotos e relatos empíricos virão em janeiro de 2015. Aguardem!
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