Ontem, foi quarta-feira! Como todas as quartas, almoço com o Samuel Machado (ex-aluno meu de Filosofia, professor de Filosofia no ensino médio privado e lacaniano) no café da Livraria Iluminura, em Santa Cruz do Sul (RS) e, às 16h, tenho sempre encontro de meditação com o Nattaniel Piva, o Natta, meu aluno de Filosofia e mestre de Meditação. É indescritível a minha alegria quando converso durante quase duas horas com o Samu e depois quase uma hora e meia com o Natta. Só aqueles que têm uma vida intelectual ativa e produtiva podem compreender o que esses encontros disseminam na mente, agregam ao conhecimento e o quanto validam a interlocução entre amigos! Hoje, eu e Samu conversamos sobre Hegel, inicialmente, depois sobre a poética de Augusto dos Anjos e, por fim, sobre Lacan - sempre Lacan na saideira! Ele estava com algumas questões irresolutas concernentes à pedagogia política de Hegel. O que mais estudei em minha formação na UFRGS foram as obras de Hegel e Heidegger. Sobre elas, tenho firmeza ao explicar, discutir ou tergiversar. O Samu comentou várias passagens dos "escritos" de Lacan comigo sobre cultura e destacou a distinção entre a psicanálise intensiva e extensiva, que bem compreendi. Em um de seus comentários, compartilhou algumas ideias do filósofo e psicanalista esloveno, Slavoj Zizek (pronuncia-se "Gigek"), profundo conhecedor de Hegel e de Lacan. Peguei na biblioteca da universidade o livro "Arriscar o impossível: conversas com Zizek", publicado há seis anos pela Martins Fontes, em co-autoria com Glyn Daly. Como não conheço esse texto de Zizek, resolvi lê-lo antes do recém-lançado no Brasil, o "Vivendo no fim dos tempos", editado pela Boitempo, com introdução de Emir Sader. O que chamou a minha atenção, e ficou em minha mente durante horas, até o momento de eu conceber este pequeno post que publico agora em meu blog, é sua ideia de 'visão em paralaxe' ("A visão em paralaxe", livro dele lançado no Brasil também pela Boitempo, em 2008. Paralaxe = "deslocamento aparente de um objeto, quando se muda o ponto de observação" - Houaiss). Associei essa percepção de "deslocamento", em consonância com a mudança da posição do observador, à Meditação, que tenho tentado praticar sob a orientação do Nattaniel. Se a consciência só existe na minha ânsia pelo "hic et nunc", apelando para uma visão em paralaxe, meus pensamentos movimentam-se à medida que minha consciência os observa e, igualmente, desloca-se. Observar os pensamentos é a pedra-de-toque da Meditação. Pensar os pensamentos é uma das estratégias da psicanálise. Não estou interessada nos argumentos de Zizek para reabilitar a filosofia do materialismo dialético, tampouco suas remissões às antinomias kantianas. O que me interessou, e será objeto de algumas reflexões até a próxima semana, é se o que ele denomina de "lacuna paraláctica" (uma espécie de "intermezzo, que, no meu entender, se estabeleceria entre os pensamentos e a consciência) pode contribuir para que eu compreenda mais detidamente o processo de meditar, o percurso do afastamento dos pensamentos de nossa consciência e o almejado convívio mais intenso com um silêncio profundo. Fica aqui apenas uma provocação e, mais adiante, voltarei a esse tema. Namaste!
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