(2ª parte)
Ainda no final de semana em Porto Alegre, assisti na companhia de amigos, especialmente a Rebeca e a Camila, ao longa francês "A filha do Pai", com direção do grande e carismático ator Daniel Auteuil, cujo roteiro foi adaptado do romance homônimo de Marcel Pagnol. Como eu havia assistido aos filmes em que ele atua, "A vingança de Manon" e "Jean de Florette", ambos dirigidos por Claude Berri, quem foi conferir a estreia de Auteuil na direção já estava relativamente familiarizado com o leitmotiv da ficção de Pagnol. O pai da trama, um poceiro viúvo, trabalhando decente e duramente no Sul da França para manter cinco filhas, é vivido pelo próprio diretor. Sua filha mais velha, a personagem que desafia as severas convenções sociais e morais da época, é a atriz e modelo catalã conhecida pelo quarto filme da série "Piratas do Caribe", Àstrid Bergès-Frisbey, e em filmes para a TV francesa que não chegaram até nós. Eu queria mesmo conferir a direção de Daniel Auteuil em sua estreia. Demorei para assisti-lo por incompatibilidade nos horários das sessões desse longa com os meus em Porto Alegre. A personagem Patricia Amoretti, filha do poceiro vivido por Auteuil, envolve-se com um rapaz da aldeia mais velho, rico e piloto da Aeronáutica francesa, à beira da eclosão da guerra. Considerei o envolvimento entre ambos muito rápido e logo a menina já aparece grávida em cena. É aí que os holofotes se desviam para o pai, menos para a filha que vive o drama de ser solteira, pobre, de estar grávida e de ser o arrimo da família. O pai é obsessivo pela autodeclaração permanente de que é pobre, porém honesto, de que é pobre, porém honrado, de que é pobre, porém um pai amoroso. Ele manda a filha embora para não servir de exemplo às quatro irmãs mais novas; a mesma vai viver com sua tia paterna, que já havia passado pela mesma situação quando jovem. Passados os noves meses e talvez mais uns três, o pai visita a filha na propriedade da irmã. Vê-se um lindo bebê em um cesto, batizado de André, e o avô, naquele momento, altera a sua conduta para com a filha e a sua posição sobre o caso. Leva-a de volta para sua casa, juntamente com o neto. Desde então, sofre assédio dos avós paternos do bebê, que estavam convictos de que seu filho, o pai da criança, havia morrido no front. O jogo antitético do bem e do mal, do pobre e do rico, do honrado e do desonrado fica mais forte nas falas das personagens, nesta terceira parte do longa. A avó paterna é interpretada pela grande atriz francesa, Sabine Azéma, esposa e antiga parceira dos projetos de Alain Resnais. A avó é a vilã da narrativa que sabota o contato de seu filho, quando vai para a guerra, com a menina pobre com a qual ele se envolveu. Tão-logo os pais recebem um comunicado oficial de que o filho militar havia morrido em combate, tentam se aproximar do neta, sob a custódia do poceiro. Em um dos encontros de aproximação entre as famílias, o piloto reaparece e pede a filha do poceiro em casamento, além de assumir de imediato o filho. O poceiro agradece por reaver a honra da família. Um belo filme, com uma história de amor idealizada, porém, a que se ter cuidado para não internalizar aqueles valores, daquela sociedade, daquele período histórico e social, como 'corretos'. Também interpretar o contexto do filme de modo anacrônico, à la interpretação whig, não vai nos ajudar a compreender melhor a trama.
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