terça-feira, 3 de dezembro de 2024

OS 250 ANOS DE "OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER", DE GOETHE, E MINHAS VIAGENS AO ENCONTRO DO AUTOR


   

                                        Fonte: Youtube


      Em Porto Alegre, está em cartaz uma peça inspirada na obra de Goethe, "Os sofrimentos do jovem Werther". São comemorados os 250 anos da publicação dessa obra em 2024. A USP realizou um seminário no dia 06 de novembro passado, devidamente divulgado pela newsletter da ANPOF, e a Revista Contingentia, do setor de Alemão da UFRGS, publicou um número especial sobre o livro de Goethe no início deste ano. Não fiquei ciente de outro evento celebrando a efeméride...

      O livro em questão, de 1774,  relata, em forma de cartas e em tom confessional, a paixão não correspondida do jovem Werther, que se suicida ao final. Na vida real, Goethe apaixonou-se, perdidamente, por Charlotte Buff, já comprometida, que se casou logo em seguida com Christian Kestner. Com ele, teve sete gestações, mas apenas três vingaram. O livro narra um amor arrebatador e impossível, o que tornou Goethe muito popular e encarado como um grande best seller na época. Conheço mais de dez traduções dessa obra, mas existem mais de 20 para o Português no Brasil. Tenho a tradução de Erlon José Paschoal, que foi lançada pela Estação Liberdade, em 1999.

       Tornei-me tradutora do Alemão em 2016, quando lancei a primeira tradução bilíngue. De lá para cá, foram três livros de traduções de A. Schopenhauer publicados. Saí da universidade em 2017 e fui morar na Itália para obter a minha cidadania, não sem problemas, dificuldades no inverno e maus-tratos sofridos no serviço público italiano. Superado o passado, cá estou hoje, nostálgica, relembrando minhas viagens à procura de Goethe e revendo algumas fotos. A cada viagem, uma inspiração. Em 2015, inverno europeu, fui à Sicília e a Malta: 'Ao Encontro de Caravaggio'. Nesse ano, eu estava estudando, como autodidata, a pintura do mestre italiano. Nessa viagem, chegando em Palermo, conheci um motorista siciliano, que fazia traslados e servia de guia. Paguei-o para passear comigo por três dias inteiros. Até hoje somos amigos e pretendo retornar à Sicília em 2025, dez anos depois de conhecê-lo.

    Na ocasião, Camillo Guarneri levou-me a locais preciosos na antiga Palermo e em igrejas e templos emblemáticos no entorno da capital siciliana. Foram dias de erudição, eu diria, de parte de alguém modesto. A tela "Natividade com São Francisco e São Lourenço", de Caravaggio, avaliada em 20 milhões de dólares, que estava em uma igreja de Palermo, foi furtada pela Máfia em 1969. Camillo comentou-me toda a 'novela' ouvida de familiares. Não encontrei Caravaggio em Palermo; no entanto, aproximei-me de Goethe pelos olhos e narrativas de meu amigo.

      Foi ele quem me mostrou onde Goethe teria se hospedado  na capital siciliana, por onde teria passado, montado em um burrico. Fiquei pasmada com as estórias que ele me relatou e somente no ano subsequente, 2016, li "Viagem à Itália", de Goethe, publicada entre 1813 e 1817. Daí, apoderei-me de uma série de informações sobre a trajetória de Goethe na Itália e na Sicília, "a rainha das ilhas", como o alemão a chamava. Na Sicília, Goethe terminou de escrever a peça "Torcato Tasso".

     Conferi telas de Caravaggio em Siracusa e em La Valetta, Malta, mas voltei dessa viagem hiperfocada no trajeto que Goethe havia realizado na Itália, chegando em Roma, descendo a Nápoles, visitando os templos greco-romanos de Paestum, indo de barco até a Sicília e viajando pelo interior da ilha em um burrico.

     Tenho duas gravuras das casas em que Goethe viveu em Weimar; fui ao Museu Goethe e ao Museu Schiller; visitei sua casa em sua cidade natal,  Frankfurt, em 2011. O ponto alto desta busca pelos caminhos de Goethe foi visitar Roma, em uma outra viagem, em 2016, e conhecer a "Casa di Goethe", um palacete localizado na Via del Corso, 18, defronte à Piazza del Popolo, fácil de encontrá-la. É o único museu alemão fora da Alemanha. O patrimônio passou por várias mãos, abriu, fechou e reabriu restaurado como um museu. Ali Goethe teria vivido por 20 meses (foram dois anos viajando, de 1786 a 1788). Chegando lá, conheceu o pintor com quem já trocava epístolas há um bom tempo, Johann W. Tischbein. Em Roma, Goethe terminou a peça "Ifigênia na Táurida". 

   Na entrada da "Casa di Goethe", no salão principal, encontra-se a tela que Tischbein pintou de escritor, usando um enorme chapéu e uma capa. No site do museu, aparecem os detalhes das instalações e da tela.

   Como Goethe saíra escondido da Alemanha, sem comunicar a ninguém que iria para a Itália, pois deixara para trás suas obrigações administrativas como conselheiro e ministro no ducado de Weimar, viajou com um nome falso: Johan Philipp Möller. Na volta, em 1788, Charlotte não se dirigiu mais a ele. Em 1806, Goethe casou-se com Christiane Vulpius e teve um único filho, que, ao falecer, foi enterrado na 'cidade eterna', a pedido do pai.

       Fui a Paestum (ou Pesto) também, na Campânia. Saí de Nápoles de trem em uma segunda-feira de manhã e fiz um percurso de mais de duas horas. Parei na Estação de Paestum, em pleno inverno, sem câmera fotográfica (fui furtada em Nápoles e levaram o meu celular. Não tenho registros fotográficos dessa viagem, lamentavelmente). Não havia uma viva alma por perto. Fiquei com um certo receio, mas saí caminhando em direção à entrada do parque arqueológico, famoso pelas ruínas de templos greco-romanos imortalizados por Goethe no livro "Viagem à Itália" e pelos desenhos feitos por Tischbein.

    Foi uma grande emoção vislumbrar ao vivo o que eu já havia memorizado na imaginação, através dos desenhos. Havia mais cinco turistas caminhando pela área. Fiquei menos de 60 minutos no parque. Estava muito frio e eu queria retornar a Nápoles antes do anoitecer.

      Foram várias viagens para dar conta do que eu planejara. Viajar é sempre maravilhoso e memorável, além do conhecimento e cultura agregados. Há quem não suporte, como Nelson Rodrigues, que dizia que "viajar é a mais empobrecedora e burra das experiências humanas"!

OS 40 ANOS DE FALECIMENTO DE MICHEL FOUCAULT EM 2024

    

                                             Fonte: Youtube

   Sou uma usuária atenta do Substack, desde o início de 2024. Desativei minhas contas no Instagram após dez anos. O processo de divórcio foi semelhante ao do falecido Orkut e ao do Facebook. Dez anos é um período longo; cheguei à conclusão de que perdia o meu precioso tempo com o Instagram e suas frações.

       No Substack, encontrei poucos escritores do mainstream literário atual, mas vários escritores jovens e promissores, poetas, docentes, pesquisadores e psicanalistas. Tenho dedicado duas horas por dia para ler as newsletters dos substackers dessa plataforma, que, na verdade, agrega escritores e leitores, de um modo geral. Nessa rede, encontrei uma postagem sobre Foucault assinada pelo Prof. Márcio Tavares d'Amaral, da Escola de Comunicação da UFRJ. Pude me deliciar com um relato que revelava seu encontro auspicioso com Michel Foucault, quando de sua estada no Rio de Janeiro em 1973. Nesse ano, eu tinha 12 anos ainda, mas, no decorrer de minha vida intelectual, degustei algumas publicações que saíram após a fértil estada do intelectual francês por lá. Em 1984, Foucault desaparece devido às complicações desencadeadas pela AIDS. São 40 anos de sua morte! Ele deixou não apenas no Rio de Janeiro, mas em outras escolas e cursos de Filosofia e Psicologia do país, um exército de seguidores, admiradores e pesquisadores que ressoam suas abordagens publicadas ao longo de sua brilhante carreira  docente na Sorbonne, em Paris. Tenho um especial apreço pela sua crítica da verdade e pelas aulas sobre o cuidado de si, cujo ponto de partida são os diálogos platônicos "Alcibíades" (que revela o ser da alma) e o "Laques" (que prega a maneira de viver). Tenho uma tatuagem em grego na parte posterior de meu braço esquerdo, que sinaliza a minha admiração por esses textos foucaultianos: "Epimeleia Heautou",  cuidar de si mesmo ou a ética do cuidado de si.

      Nos dias 28 e 29 de novembro, na semana passado, realizou-se um seminário internacional por conta da efeméride dos 40 anos de morte de Michel Foucault no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, intitulado "Foucault em Transe". Para os interessados, a íntegra das comunicações estará disponível no Youtube, no canal do próprio fórum.

       

terça-feira, 16 de abril de 2024

UMA DÉCADA SEM GABO, GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ




        
                               Fonte: Youtube


O  rico e multifacetado legado da literatura de García Márquez não pertence apenas aos colombianos. Pertence também a todos os latinos-americanos, que compartilham de um modo de existir tão similar, de uma imagética povoada de heróis, de cavaleiros, de manobras na Cordilheira dos Andes e de deuses estabelecidos pelos povos originários.

Gabo tinha uma estreita relação com Cuba. Faleceu no México, capital,  e nasceu em Aracataca, na Colômbia. Amanhã, 17 de abril de 2024, a Feira Internacional do Livro da Colômbia abrirá uma série de eventos para celebrar os dez anos de falecimento de Gabo, que completaria 100 anos em 2027, uma outra efeméride a ser amplamente festejada.

Cedo, li alguns de seus livros, que estão inscritos dentro da perspectiva denominada de realismo mágico na América Latina. Quem não se emocionou com a família Buendía na fictícia cidade de Macondo, em "Cem anos de solidão"?

Na medida em que sua obra é atemporal, vou começar a reler alguns livros dele como forma de homenagear sua memória e honrar o seu legado de escritor, jornalista, ativista político e apaixonado pelo cinema.

Salve, García Márquez, para sempre entre nós!

domingo, 22 de outubro de 2023

Ana Cristina César: 40 anos de seu desaparecimento

                           

      


                         Fonte: Youtube.

             Quando Ana Cristina César jogou-se do oitavo andar do apartamento de seus pais em Copacabana, aos 31 anos, em meio a um grave quadro de depressão profunda, eu ainda era uma menina de 22 anos, estudando na Universidade, amando, engendrando-me como leitora voraz de Poesia, das mulheres de peso como Florbela, Emily, Sylvia, Catherine, Cecília e Ana.

       Vi a notícia em um telejornal e fiquei muito afetada. Em 29 de outubro de 2023, a comunidade poética brasileira vai resgatar, com amor, a pessoa da Ana - e aquilo que ela fazia com maestria.

       Segue abaixo um poema dela, do volume de "A teus pés" (1982), como forma de celebrar a existência dessa escritora, que amava viajar:

     "Queria falar da morte

     e sua juventude me afagava.

     Uma estabanada, alvíssima, um palito.

     Entre dentes, não maldizia a distração

     elétrica, beleza ossuda al mare.

     Afogava-me"         

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

DALTON TREVISAN: O VAMPIRO DE CURITIBA


                                                        
                   Fonte: Youtube

 

Estive em Curitiba, novamente, neste mês de setembro de 2023. As temperaturas estavam acima dos 30 graus C, um calor estranho, fora de época, para uma capital que possui microclimas e está a mil metros de altitude.

Fico imaginando o escritor curitibano Dalton Trevisan, um flâneur idoso e geminiano arisco de 98 anos, recluso em seu novo apartamento no Centro de Curitiba, com um split ligado a todo o vapor... Caminho pelas ruas de Curitiba atenta, louca para reconhecer algum escritor ou tradutor escondidos debaixo de um boné e de um óculos-de-sol. Hoje, ele vive como um ermitão, mas já foi muito ativo no teatro curitibano, além de cinéfilo amador. Quando viajava ao RJ para acertar detalhes com seu editor José Olympio, tecia muitas horas de conversas com outros dois escritores famosos, Rubem Braga e Otto Lara Rezende. Trocava epístolas com o último e chegou a doar mais de 500 cartas para o arquivo do Instituto Moreira Salles.

Visitei a livraria e editora Arte e Letra. Conheço-a desde 2007. Tive o privilégio de encontrar ali seu proprietário, o escritor Thiago Tizzot, que possui no catálogo da editora quatro títulos no gênero fantasia. Contou-me Thiago que relançará em outubro, em edição artesanal, um livro de Dalton Trevisan intitulado "Sonata ao luar" (1945). Nunca tinha ouvido falar desse livro de contos, parece que um tanto renegado pelo autor.

Li o autor lá no final dos anos 80, na época de meu mestrado em Literatura Brasileira. Comecei pelo clássico "O vampiro de Curitiba", de 1965. Hoje, tenho no Kindle o e-book "O beijo na nuca", livro de contos que encerrou a carreira literária de Trevisan, em 2014. 

Curitiba é terra literária de escritores saudosos como Paulo Leminski e Wilson Bueno. Seguem por lá ou lá viveram um tempo Alice Ruiz e Cristovão Tezza, os tradutores Caetano Galindo, Adriano Scandolara, Rodrigo Garcia Lopes, Guilherme Gontijo Flores, Giovana Madalosso, Luci Collin e Eduardo Ribeiro da Fonseca, nem todos curitibanos, quase todos poetas... 

Dalton Trevisan é o maior baluarte literário vivo do Paraná, especialmente, de Curitiba. Foi agraciado com vários prêmios ainda em seu início de carreira, quando usava pseudônimos: Prêmio Jabuti (1959) e I Concurso Nacional de Contos do Estado do Paraná (1968). Mais tarde, já traduzido para vários idiomas e consagrado como contista, recebeu o Prêmio Camões, no valor de cem mil Euros, em 2012. No mesmo ano, foi laureado pela Academia Brasileira de Letras com o Prêmio Machado de Assis.

A seguir, deixarei um pequeno trecho da fala de Nelsinho, o vampiro de Curitiba, herói gestado por Dalton Trevisan, que engendra a figura arquetípica de Dom Juan e que necessita de performances teatrais para retroalimentar sua virilidade (suspeita), em uma Curitiba de homens perversos no pós-golpe de 64 (quão atual esta leitura ressignificada permanece!):


(...) "Em despedida - oh, curvas, oh delícias - concede-me a mulherzinha que aí vai.

Em troca da última fêmea, pulo no braseiro - os pés em carne viva. Ai, vontade de morrer até. A boquinha pedindo beijo - beijo de virgem é mordida de bicho-cabeludo. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz" (...) (1974, p. 15).


Recomendação:

Documentário "Daltonismo" (2006), de Célio Yano - Youtube

quarta-feira, 19 de julho de 2023

OS 20 ANOS DE MORTE DE ROBERTO BOLAÑO

                                       Fonte: Youtube


Há dias, venho pensando na efeméride dos 20 anos de falecimento do escritor chileno Roberto Bolaño, além do fato de que teria de retomar as escrituras deste blog. Na verdade, o dia 15 de julho de 2003 ficou na memória daqueles que amam a literatura hispânica, que apreciam a boa literatura em geral, pois perdemos um grande trabalhador da escrita. Nicanor Parra, matemático e grande poeta chileno, falecido somente em 2018, comentou, quando da perda de Bolaño, que ficaram "devendo um fígado ao escritor", por conta de uma doença hepática severa que o acometeu. Bolaño estava em uma lista para receber um transplante de fígado, o que não ocorreu a tempo, falecendo, precocemente, aos 50 anos.

A obra de Roberto Bolaño não é para qualquer leitor. Os textos são longos, elaborados e caudalosos! Iniciei de trás para frente a lê-los, ou seja, devorei o grande volume de "2666", publicado postumamente em 2004. Depois dele, só fui voltando na cronologia... A emoção que a leitura de "2666" causou-me foi semelhante ao assombro do livro "Graça Infinita", de 1996, de David Foster Wallace (tenho uma postagem sobre ele neste blog).

Estou a quase 90 dias de viajar novamente para o exterior. Irei à Islândia visitar minha filha; depois, passarei uns dias em Barcelona, Madrid, Andorra-a-Velha e Istambul. Quando eu estiver em Barcelona, pretendo pegar um trem e ir até a cidade litorânea de Blanes, província de Girona, cidade na qual Bolaño viveu desde os anos 80 até falecer.

Encontrei vários sites que tratam de um suposto "Circuito Bolaño" em Blanes. No site de turismo da Costa Brava, há uma "Ruta Bolaño". No final deste ano, de 2023, postarei fotos e impressões desse passeio literário.

Salve Bolaño! Que viva em nossos corações para sempre!

Até mais!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

LUCAS ARRUDA E SEU LEITMOTIV: VISITANDO E FRUINDO AS TELAS DO ARTISTA BRASILEIRO NA FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO

                                               






                                                  Preâmbulo 

 

       Tenho o hábito de ler blogs, bons blogs, diga-se de passagem. Talvez, por isso, decidi alimentar um também há 11 anos. Há seis meses que não postava um texto. Não sei explicar, exatamente, o motivo deste desleixo ou silêncio. A Arte consegue me silenciar por um tempo considerável, quando me sinto arrebatada por ela. Viajei para a Europa em 1º de agosto de 2021. Retornei de Lisboa no dia 8 de setembro e, daí, passei uma semana em São Paulo, visitando mostras, com um especial destaque para a 34ª Bienal de Arte de São Paulo. Tudo o que visitei em Portugal somado ao que eu conferi em São Paulo deixaram-me em um estado taciturno. Eu havia escrito um rascunho sobre as telas do artista indígena Jaider Esbell, da etnia macuxi, que sorvi avidamente no terceiro andar do pavilhão; a notícia de seu suicídio, todavia, quase dois meses depois de minha visita à Bienal de SP, deixou-me pouco à vontade para finalizar o meu comentário, além de muito triste.


                                                           Primeiro Ato


            Em outubro de 2021, foi inaugurada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, a primeira mostra individual do artista plástico Lucas Arruda, paulistano nascido em 1983. Deixei para conferi-la nos últimos dias da temporada. Estive na Fundação Iberê Camargo Fundação em uma tarde quente de janeiro de 2022. Eu havia lido sobre a obra de Arruda, através da leitura de blogs, de sites de galerias internacionais, de galerias online e de alguns esparsos textos em Português. Pelo que entendi, as telas de Lucas Arruda são reconhecidas e apreciadas no mercado de arte do exterior; entretanto, ele ainda é pouco conhecido dos brasileiros. Portanto, entre a primeira quinzena de setembro de 2021 e a primeira de janeiro de 2022, passaram-se quatro meses. Já em Porto Alegre, eu havia visitado as mostras do Museu de Arte do Rio Grande do Sul e da Casa de Cultura Mario Quintana neste interregno. Ontem, dia 30 de janeiro de 2022, conferi as peças de Sírio Braz, um artista pernambucano que vive em São Paulo e que trouxe algumas obras  de seu acervo pessoal e da coleção particular de Carlos Trevi à Fundação Ecarta em uma mostra intitulada Casa Brasileira com curadoria de André Venzon (muito lindas suas peças! Ficarão expostas até março). Senti-me, pois, mais preparada e estimulada hoje, esteticamente, para escrever sobre o que vi nas telas de Lucas Arruda.


                                       Segundo Ato


       A mostra "Lugar sem Lugar", de Lucas Arruda, inaugurada no início de outubro de 2021, na Fundação Iberê Camargo, teve como curadora Lilian Tone, quem assina o texto de abertura da exposição  (divulgado no formato de artigo no jornal Correio do Povo e publicado em 2 de outubro). Nesse texto, a curadora  destaca a "incansável experimentação pictórica de suas pinturas", que abrangem 14 anos de trabalho, desde as obras iniciais até o ano de 2021, inclusive criações em outros suportes como instalação de luz e vídeo.

      Li há alguns anos sobre a pintura de Arruda. No blog da Brazilian Contemporary Art, encontra-se uma observação estética interessante, que alude à tradição pictórica do Ocidente, sugerindo ao leitor e apreciador das telas do artista paulistano que "his paintings represent timeless landscapes wich could remind the renowed artistic works by Romantic Painter such as Capar David Friedrich and William Turner" (Ken Johnson, 2016. In: www.braziliancontemporaryart.altervista.org). Em outras palavras, suas telas representam paisagens atemporais, não localizáveis geograficamente, mas que evocariam memórias de uma intensidade emocional, que poderiam lembrar os pintores românticos como o alemão Caspar David Friedrich (1774-1840) e o britânico William Turner (1775-1851).

        Diante do exposto, eu já havia engendrado um grau de expectativa para a visitação  das telas de Arruda, dado o fato de que conheço a 'Turner Collection' da Tate Britain, em Londres, e visitei três vezes a sala dedicada ao pintor Caspar David Friedrich na Hamburg Kunsthalle, em Hamburgo. No repertório pictórico de Friedrich, há ruínas, brumas, paisagens invernais e montanhas, uma estética situada no bojo do movimento do Romantismo Alemão, cujo quartel-general era Dresden, no final do século XVIII. Urgia, naquele momento histórico, plasmar uma identidade, genuinamente, germânica por conta das guerras napoleônicas, que devastavam a Europa.

          Em referência à obra do pintor Turner, foi a arte sobre papel, a aquarela e o desenho, que contribuíram para que ele configurasse sobremaneira suas telas a óleo e entregasse ao público algumas imagens com uma grande carga cósmica plasmadas por turbilhões de luz. Como professor, William Turner lutou para que a pintura de paisagem adquirisse um status mais elevado dentro do cânone da pintura ocidental. Schopenhauer, em sua Estética, no livro III de O  mundo como vontade e representação (1818/1819), não categoriza a pintura de paisagem; analisa a produção das pinturas históricas e de animais. Todavia, dimensiona o belo natural junto ao belo artístico. Quem flui o belo é o "olho cósmico", afirma Schopenhauer, não importando aqui o lugar do qual se contempla, tampouco a classe social do fruidor. Ele comenta as pinturas paisagísticas dos neerlandeses, mas as considera "extremamente insignificantes" (BARBOSA, J. Os pintores de Nietzsche e Schopenhauer. Cadernos Nietzsche, n. 31, 2012).


                                       Terceiro ato


        Assim, considerar a pintura de Lucas Arruda como um expoente do Romantismo, uma releitura do Romantismo clássico ou uma prática que emula a estética do Romantismo, no meu entender, é empobrecer sua experimentação. Essa tensiona-se na volatilidade do Figurativo e da Abstração, ao passo que as pinturas românticas eram, majoritariamente, norteadas pelo Figurativo e desconheciam os suportes utilizados pela contemporaneidade.

       O apreciador das telas de Arruda pode, sim, se entronizar como parte da obra, na medida em que ressignifica a luz abundante da composição e faz com que qualquer ponto de apoio, como uma linha no horizonte ou um cromatismo na parte superior, se dissipe e se reconstrua de acordo com sua subjetividade, suas memórias e sua carga emocional.

       Movimentei minhas mãos, suavemente, diante das telas de dimensão reduzida de Arruda. Eu ri. Parecia que luz estava se deslocava, simulando que o limite da tela e o suporte também continham parte da composição pictórica. Esse jogo de ilusão, distinto daquele do Barroco, sob a expressão de novos suportes e veículos, afeitos ao século XXI, fazem de Lucas Arruda um artista que sabe de seu lugar de criação, que já orou no jazigo da tradição romântica da pintura de paisagem (embora conheça o defunto e sua causa mortis) e, tendo em vista a segunda mostra paralela, de obras tardias de Iberê Camargo, curada por ele (Lucas Arruda), denota-se o quanto as guaches e desenhos de Iberê também influenciaram sua poética, marcada por um tipo de fantasmagoria, que só os que conhecem a Fundação Iberê Camargo, desde a sua abertura, e acompanham as várias fases do artista homônimo, podem compreender. Muito lindo o teu trabalho, Lucas Arruda, visceral e necessário!

domingo, 25 de julho de 2021

DEIVID BIZER AND HIS TWENTY YEARS OF GRAFFITI ART IN BRAZIL, PORTO ALEGRE




Files: DEIVID BIZER, BRAZIL


       When I had been in the ruins of Pompeii, Napoli (Italy), for the first time, in 2017, and I came across    inscriptions on the walls   of   the   Roman        city's house of prostitution, called "Lupanar", I realized the Graffiti is  much  older  than what we know in contemporary society. In fact, Graffiti Art has ancestry dating back to time immemorial, in the caves of our ancestors.

     I really appreciate the mural paintings by Gêmeos, Kobra, Speto, Cranio and Toz, however as I live in Porto Alegre, today I would like to highlight the two-decade trajectory of visual artist Deivid Bizer: he is 33, humble origins, resident of the outskirts and cultural agent, who has been notable for taking his art to hospitals in our capital.

     The chromaticity of Bizer's graffiti and the dolls in the third image, his trademark, fill the environment in which they are raised with Beauty and Peace, in addition to empowering women from the outskirts, specially black women.

  


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

THE LIFE WITHOUT JOHN LENNON - 40 YEARS OF HIS DEATH (1980, December 8th)

          Fonte: Youtube                  
 
       I woke up today thinking particulary of Lennon. I was 19 years old when he was murdered in New York. What a sadness! I am listening to Imagine now! Below, I will  share his lyrics as a way to honor this man, artist and peace activist!

  

                            R.I.P. John Lennon!

 

 Imagine (1971)

 Imagine there's no heaven

It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people living life in peace, you
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people sharing all the world, you
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will be as one

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

OS 120 ANOS DE MORTE DE OSCAR WILDE - 30 DE NOVEMBRO DE 1900

               
                         
 Canal de Tatiana Feltrin: Youtube, 2020.

               

          A morte de Oscar Wilde foi muito triste, no completo abandono, desacreditado, com sua saúde debilitada, afastado de seus filhos e desorientado, na Paris de 1900. A blogueira Tatiana Feltrin, acima, comenta a monumental biografia de Oscar Wilde, escrita por Richard Ellmann. Vale a pena ouvi-la.
       Não tenho fôlego, nem vontade de escrever hoje, neste final de 2020, ano de perdas, mortes e pobreza para muitos.
        Segue um trecho do longo poema epistolar, escrito na prisão de Reading, UK, intitulado "De Profundis", e destinado ao seu amante, Alfred Douglas, apelidado de "Bosie".

              R.I.P., Wilde, um de meus grandes ídolos!


[...] The gods had given me almost everything. But I let myself be lured into long spells of senseless and sensual ease. I amused myself with being a FLANEUR, a dandy, a man of fashion. I surrounded myself with the smaller natures and the meaner minds. I became the spendthrift of my own genius, and to waste an eternal youth gave me a curious joy. Tired of being on the heights, I deliberately went to the depths in the search for new sensation. What the paradox was to me in the sphere of thought, perversity became to me in the sphere of passion. Desire, at the end, was a malady, or a madness, or both. I grew careless of the lives of others. I took pleasure where it pleased me, and passed on. I forgot that every little action of the common day makes or unmakes character, and that therefore what one has done in the secret chamber one has some day to cry aloud on the housetop. I ceased to be lord over myself. I was no longer the captain of my soul, and did not know it. I allowed pleasure to dominate me. I ended in horrible disgrace. There is only one thing for me now, absolute humility [...].  (In: www.dominiopublico.gov.br)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

160 ANOS DE MORTE DE ARTHUR SCHOPENHAUER (21 DE SETEMBRO DE 2020)

                                                   

                                              Fonte: Youtube

                                      Arthur Schopenhauer (1788-1860)

 

         Meu filósofo predileto, aquele que é considerado pela crítica filosófica de "irracionalista" e de "budista". Parece que nunca praticou a meditação, mas conseguiu compreender a essência da indestrutibilidade do ser após a putrefação cadavérica.
         Aprecio sua metafísica a tal ponto, que comecei a estudar Alemão em 2011 para lançar meu primeiro livro de tradução: seis ensaios de Parerga e Paralipomena, de 1851, que ainda não haviam sido publicados em Português no formato de livro. O trabalho foi editado pela Editora Zouk, de Porto Alegre, em 2016, e ainda está em seu catálogo. Existem dois volumes: o bilíngue e a edição apenas em Português, bem mais acessível. Encomendei a imagem da capa para um fotógrafo, o Erion Lara, quem produziu a expressão pictórica exatamente como a sonhei. Ficou muito linda e está relacionada com o conceito de Vontade na Natureza! A supervisão da tradução foi realizada por meu professor de Alemão, entre 2011 e 2015, Gilson Klemz, e pelo tradutor mineiro e professor de Estudos Clássicos da UFPR, Guilherme Gontijo Flores.
        Tive uma imensa alegria quando os seis ensaios foram traduzidos e finalizados para a edição. Meu trabalho é imperfeito; eu alteraria e corrigiria vários trechos, quatro anos depois. Todavia, foi minha primeira tentativa e tenho orgulho da coragem e do esforço investidos no projeto.
        No ano de 2011, estive em sua sepultura, no Cemitério Municipal de Frankfurt, na companhia de Rafael Trapp. Foi logo após essa experiência emocional, quase uma epifania, que decidi aprender mais um idioma, a de Goethe, e embrenhar-me nos originais do Parerga und Paralipomena, de Arthur Schopenhauer.

                            



                                           

                            


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

MEU QUERIDO BUKOWSKI

                                                   Fonte: Youtube

 

      Deixei passar a data, mas ainda está em tempo. O mundo literário comemorou a passagem dos 100 anos de nascimento de Charles Bukowski (seu alterego era Henry Chinaski) no dia 16 de agosto de 2020. Nascido na Alemanha, foi levado para os EUA aos três anos. Cresceu na Califórnia e testemunhou uma série de eventos que marcaram sua carreira de escritor. Foi contemporâneo da geração Beatnik, mas não participou do grupo e não comungou de seus pressupostos. Pelas mãos de uma grande amiga, há 40 anos, li, pela primeira vez, a prosa de Bukowski no original, muito tempo antes de as traduções de suas obras surgirem vertidas para o português. Há alguns poemas que me tocam até hoje e, abaixo, selecionei um deles para o ensejo. Espero que gostem e que leiam o mestre.

 

Os melhores da raça

(tradução livre do original)

Não há nada para
discutir
Não há nada para
rememorar
Não há nada para
olvidar

É triste
e
não é

Parece que a
coisa mais
acertada
que uma pessoa pode
realizar é se sentar com um drink
na mão
enquanto as paredes
emanam sorrisos
de adeus

Uns passam por
tudo isso
com eficácia e
bravura
e então
vão embora

Alguns acatam
a possibilidade de
Deus lhes ajudar a suportar

Outros
aguentam no osso

E, para esses,
Eu bebo esta noite.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

ESTÉTICA E SOCIEDADE DE CONSUMO: AS 'ILUSÕES PERDIDAS' DE BALZAC





                      OS 170 ANOS DE MORTE DE
                            HONORÉ DE BALZAC

                En l'honneur d'un grand artiste, Balzac



                                     Para Marcelo R. Lucas, com admiração e afeto


    Reluto ao escrever que Balzac (1799-1850) foi um romancista e jornalista "francês". Ele é do mundo, meu e teu também. Como o é Machado de Assis, brasileiro e patrimônio pertencente à humanidade.  Um dos autores modernos que mais amo é Honoré, se me permitem a intimidade, na medida em que o li bastante ao longo de minha vida. A universalidade de sua narrativa realista irrompe fronteiras e confere-lhe um lugar em um púlpito, iluminado e inatacável, dentre as celebridades da literatura moderna.
      Balzac, juntamente com Stendhal (batizado com o nome de Marie-Henry Beyle, 1783-1842), é um dos pilares do romance moderno. Com a queda do Antigo Regime, na França, a aristocracia sobreviveu alinhada à lógica da burguesia ascendente. O próprio Balzac era um aristocrata conservador, que tinha uma profunda consciência das forças conflitivas que operavam na sociedade francesa do século XIX.
      Uma das "ilusões perdidas" - reportando-me a um de seus romances no âmbito do conjunto de sua obra monumental intitulada "A comédia humana" -, a que faz referência no título do livro, é o desvanecimento do valor estético da obra artística, em detrimento do valor econômico.
       O inventário que Balzac constrói da intrincada rede dos costumes do universo francês, seja da "fauna e da flora parisienses", como da tipologia provinciana, alçaram-no à condição de analista, voltando seu olhar arguto às contradições da classe burguesa e de todos os estratos sociais em que vidas humanas se manifestem e se refestelem, em um período que vai, aproximadamente, de 1829 a  1847, perfazendo 88 títulos de romances, novelas e contos.    
    Escrevia com voracidade e rapidez, muitas vezes sem um maior apuro formal, o que lhe rendia críticas de parte de seus contemporâneos, especialmente do escritor Gustave Flaubert (autor de "Madame Bovary", publicação de 1856, fortemente influenciada pela obra do próprio Balzac).
    Balzac fazia dinheiro com sua obra e ele compreendia que a regularidade nas trocas, chancelada por uma economia monetária, configurava e garantia a manutenção da sociedade burguesa, cujas relações eram mediadas pelo dinheiro. Anotava com pressa - e levantava uma fortuna!
    Recomendo a leitura de um de seus romances, "O pai Goriot", o que mais aprecio, para quem nunca se iniciou no universo balzaquiano. Abaixo, segue um aperitivo da narrativa dos costumes de Balzac, extraído desse livro:

     [...] "No dia seguinte, Rastignac vestiu-se com toda a elegância e foi, por volta das três horas da tarde, à casa da Sra. de Restaud (...). Chegou afinal à Rue du Helder e perguntou pela condessa de Restaud. Com a raiva fria de um homem seguro de triunfar um dia, recebeu o olhar de desprezo das pessoas que o tinham visto atravessar o pátio a pé, sem terem ouvido o ruído de um veículo na porta. Tal olhar magoou-o ainda mais porque já compreendera sua inferioridade ao entrar naquele pátio, no qual bufava um belo cavalo ricamente atrelado a um desses cabriolés engalanados, que ostentam o luxo de uma existência dissipadora e subentendem o hábito de todas as felicidades parisienses". [...]


        É possível, pois, compreender a admiração que Marx e Engels nutriam pela obra balzaquiana. Em uma carta, já muitas vezes resgatada pela crítica da literatura, Engels comenta que Balzac descreveu, quase que ano após ano, de 1816 a 1848, a ascensão progressiva da burguesia sobre a sociedade de nobres, que sucumbia, gradualmente, ante a invasão dos "vulgares arrivistas endinheirados" (excerto da carta de Engels a Margaret Harkness, abril de 1888).
       Marx, por outro lado, apreciava um dos contos de Balzac, "A obra-prima ignorada", que perscruta a alma de um artista em sua obcecada busca pela perfeição formal (em um pano de fundo no qual se brandia contra a arte pela arte), alegoria com a qual, suponho, o escritor alemão se identificava 
    Segundo György Lukács (1885-1971), um marxista e crítico literário húngaro (considerado o Marx da Estética), a arte realista, utilizando a obra de Balzac como paradigma, é a que engendra uma práxis social capaz de reabilitar a aura da obra de arte, sob os auspícios de uma sociedade fetichizada e assentada em forças reificadoras. A proeminência da narrativa realista sobre outras existentes é sua tese abordada no livro de ensaios "Marxismo e teoria da literatura", um enfoque materialista da História da Literatura Moderna.
     Dissecando o conto de Balzac, que Marx admirava, Lukács desvela, analiticamente, a busca do artista pela Beleza e pela perfeição, além de sua luta contra a decadência da sociedade burguesa e o consequente arrefecimento do fazer estético-artístico. O enaltecimento do Realismo, enquanto única narrativa possível, promove o gênero literário a um método revolucionário, abrilhantando Balzac, em seus 170 anos de morte, em 18 de agosto, e atualizando sua "comédia humana", que pode nos dar subsídios para avaliar a tragédia humana, que assola a humanidade neste sagrado ano de 2020.

                           Merci beaucoup, Honoré!

        
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

BALZAC. O pai Goriot (1835) e o conto "A obra-prima ignorada" (1831)
LUKÁCS. O romance histórico.
LUKÁCS. Ensaios sobre a literatura.
MARX E ENGELS. Correspondência.

 




terça-feira, 9 de junho de 2020

CHARLES DICKENS E AS COMEMORAÇÕES PELA PASSAGEM DE SEUS 150 ANOS DE MORTE



                                 (Fonte: You Tube)

Hoje, os amantes da literatura universal lembrar-se-ão do aniversário de 150 anos de morte de Charles Dickens (1812-1870). Ele foi um dos maiores escritores britânicos da era vitoriana. Aprendeu o Inglês e o Latim com sua própria mãe e tornou-se um fervoroso leitor na adolescência, prática interrompida pelo trabalho em uma fábrica aos 12 anos. Por conta do convívio com a classe trabalhadora, pôde observar, analisar e eternizar em suas obras a pobreza, a criminalidade, a injustiça, as ruas de Londres enegrecidas pelo carvão, a violência e as péssimas condições de trabalho durante a Revolução Industrial, na Inglaterra.
No sábado à noite, em Londres, a Abadia de Westminster, em parceria com o Museu Charles Dickens, promoveu um espetáculo, sem plateia por conta do coronavírus: efeitos visuais coloridos projetados na West Tower da abadia, associados a uma trilha sonora dramática, protagonizaram uma grande homenagem ao escritor (Fonte: www.westminster-abbey.org).
Para quem não conhece a obra de Dickens, uma boa dica é começar pelo "Um Conto de Natal", muito popular no mundo todo, em que o velho e avaro Scrooge recebe uma visita inesperada na véspera de Natal e sua vida muda para sempre.
Os livros protagonizados por crianças também atraem o público de todas as idades, como "Oliver Twist" e David Copperfield", essa considerada a obra-prima do escritor britânico mesclada por dados autobiográficos.
Por fim, talvez o de maior repercussão no final do século XIX, porque publicado em partes, semanalmente,  em uma revista entre 1860 e 1861, mas, hoje, um pouco esquecido, o texto "Grandes Esperanças", o livro que eu mais amo de Dickens e no qual encontrei o protagonista Pip, cheio de bondade e de culpa, que perpassa um caminho de aventuras e de dores entre a pobreza e a ascensão social.

Uma boa oportunidade para adentrar a obra de Dickens nesta quarentena! #fiqueemcasa#
                                           #leialivros#

sábado, 4 de abril de 2020

OS 500 ANOS DE MORTE DE RAFFAELLO (1483-1520)

      
No início de março de 2020, antes da pandemia e das normativas para o isolamento social, italianos e estrangeiros que estavam em Roma tiveram o privilégio de visitar a grande mostra dos 500 anos de morte de Raffaello ou Rafael Sanzio, como o conhecemos em língua portuguesa. Acompanhei as matérias na imprensa italiana e fiz um percurso virtual pela mostra. Já testemunhei, ao vivo, o esplendor da produção pictórica da Renascença, uma vez que passei por alguns museus italianos que albergam as telas do artista.

Uma espécie de gozo estético arrebatou-me quando deparei-me, na Galleria degli Uffizi (estive lá, pela segunda vez, em 2017), com as telas Retrato do Papa Leão X com dois cardeais (1517-1518), Retrato do Papa Júlio II (1512) e Autorretrato (1505-1506). Esses dois papas, dentre outros,  incentivaram e financiaram a produção artística renascentista, especialmente a partir de 1506, quando a Basílica de São Pedro começou a ser construída sobre a de Constantino, que precisou ser demolida. Na Galeria Borghese, contemplei a tela A dama do unicórnio (1505-1506) e, em Nápoles, no Museu Nacional Capodimonte, o Retrato do Cardeal Alessandro Farnese (1512).

Rafael fez parte do Triunvirato da Alta Renascença, constituído também por Miguelangelo (1475-1564) e Leonardo Da Vinci (1452-1519). Com apenas 21 anos, ainda estava perscrutando seu caminho na pintura, uma escolha entre o Classicismo e a Arte Acadêmica. Logo, Rafael caiu nas graças do Papado e foi contratado para criar vários afrescos para uma das salas do Palácio Apostólico, local em que o Papa Júlio II fazia seus despachos. Denomina-se Stanza della Segnatura e é nela que se encontra o afresco que eu mais desejava ver e dele desfrutar: Escola de Atenas (1510-1511), medindo 5 metros por 7,7 metros. 

A obra impressionou-se muito pela dimensão. Eu não imaginava que era monumental! O que eu buscava na tela eram os sábios, que tinham relação direta com a minha vida acadêmica na área filosófica. Estavam lá Sócrates, Heráclito, Parmênides, Platão, Aristóteles e outros. O núcleo do afresco está pontuado por Platão e Aristóteles. O primeiro segura a obra Timeu, que aborda a origem do universo. Platão aponta uma mão para o alto, em busca de seu mundo das ideias, no qual se localiza, segundo ele, o verdadeiro conhecimento. Aristóteles, não concordando com o mestre, alonga seu braço e sua mão em direção do chão, no qual estão dispostos os objetos sensíveis. Ele carrega na outra mão sua Ética a Nicômaco. Há uma tensão entre as duas figuras, espraiada pelos outros sábios que se encontram à direita e à esquerda do centro. Não é possível fotografar na sala de Rafael; assim, abaixo, deixo a vocês um pequeno vídeo de uma professora portuguesa:

                                    Scuola di Atene, Raffaello  (Fonte: You Tube)         

Na mesma sala da Stanza, estão outros afrescos. Dois deles são especialmente belos para mim: A Filosofia (1509-1511) e A Poesia (1509-1511). A visita aos Museus do Vaticano levou horas. Passei quase dois turnos lá dentro até a finalização do percurso na Capela Sistina, uma emoção indescritível!

Na segunda-feira, 6 de abril, o mundo das Artes comemorará a efeméride dos 500 anos de morte desse grande artista. A megaexposição está acontecendo no Palácio Le Scuderie del Quirinale. É uma promoção conjunta com a Galleria degli Uffizi, de Florença. Tem o apoio da Galleria Borghese, Musei Vaticano e Parco Archeologico del Colosseo. A mostra seguirá, inicialmente, até o dia 2 de junho, mas espera-se que seja prorrogada por força do momento que todos vivenciamos. A curadoria é de Marzia Faietti e Matteo Lafranconi.

segunda-feira, 23 de março de 2020

PESTES E PANDEMIAS AO LONGO DA HISTÓRIA

   
  (O Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel, o Velho. Fonte: Google)

        No site da Live Science, em colaboração com All About History (www.livescience.com), encontrei um artigo muito interessante sobre as pestes, epidemias e pandemias, que devastaram a população mundial ao longo da História, assinado por Owen Jarus, jornalista científico com formação na Universidade de Toronto. Verti para o Português alguns trechos, em tradução livre, e as costurei com informações que obtive em outras leituras, na perspectiva diacrônica, para tentar compreender que possíveis mudanças (ou não) podem ser detectadas nas sociedades no período pós-epidêmico.
  Foram encontrados esqueletos humanos de, aproximadamente, cinco mil anos no Nordeste da China. Esse sítio arqueológico bem-conservado chama-se Hamin Mangha e sugere que uma epidemia tenha feito muitas vítimas - homens, mulheres, crianças, jovens e idosos -, em um povoado "pré-histórico", considerando que o material humano estava confinado em uma espécie de casa, que sofreu um incêndio no mesmo período da datação.
     Tucídides (460 a. C - 400 a. C.), um dos grandes historiadores da Grécia Antiga, relata em sua obra A História da Guerra do Peloponeso, que, por volta de 430 a. C., uma epidemia assolou Atenas por cinco anos, vitimando 100 mil pessoas, ocorrida durante a vigência da guerra contra Esparta. Os doentes apresentavam calores violentos na cabeça, segundo o historiador, e suas gargantas e línguas sangravam, provocando uma respiração ofegante e um odor fétido. Os estudiosos não chegaram a uma conclusão definitiva por falta de evidências; todavia, aludem à Febre Tifóide ou mesmo ao Ebola. Atenas foi enfraquecendo suas defesas e acabou perdendo a guerra para Esparta.
    A Peste Antonina matou mais de cinco milhões de pessoas no Império Romano (entre 27 a. C e 180 d. C), no retorno das legiões romanas para casa, conforme pesquisa acadêmica conduzida pela Prof. April Pudsay, da Universidade Metropolitana de Manchester.  As perdas e mortes causaram uma profunda instabilidade ao império, que viu crescer as invasões de povos "bárbaros" e a consolidação do Cristianismo em seu território. 
   O Império Bizantino foi quase aniquilado por uma epidemia, que vitimou cerca de 10% da população mundial à época. A doença recebeu o nome do Imperador Justiniano I (527 d. C. - 565 d. C.), a Praga de Justiniano, que governava  Constantinopla no auge de sua expansão geopolítica. Foi Justiniano quem mandou construir a catedral Hagia Sophia, para se ter uma ideia da dimensão de suas realizações. Ele acabou contaminado pela peste, porém, recuperou-se. O momento pós-doença no império marcou o declínio paulatino do poder de Bizâncio e a consequente perda de seus territórios, nos séculos subsequentes, até sua derrocada definitiva no século XV.
    A Peste Negra ou Peste Bubônica (1346 - 1353)  deslocou-se da Ásia para a Europa, deixando destruição em seu rastro. Foi causada por uma cepa da bactéria Yersinia Pestis, espalhada por pulgas de roedores contaminados. Estima-se que 25 milhões de europeus tenham morrido em um período que varia de cinco a sete anos. A Peste Negra mudou o rumo da história europeia, uma vez que, com uma mão de obra escassa, o Feudalismo foi entrando em ruína, o sistema de servidão foi colapsando e uma inovação tecnológica instalou-se entre os trabalhadores, que passaram a ter uma remuneração maior, o que garantiu que se alimentassem melhor.  
     Por fim, a Gripe Espanhola (1918-1920), que não se originou na Espanha, surgiu no último ano da Primeira Guerra Mundial (a Espanha não participou do confronto) e alastrou-se, rapidamente, pelo planeta. Seu alto grau de contágio e letalidade infectou 500 milhões de pessoas, aproximadamente, através de três ondas de proliferação, e matou quase 50 milhões no mundo. O nome da gripe, talvez, tenha se difundido porque a imprensa espanhola foi muito atuante na divulgação da doença e não esteve sob a censura dos países em guerra. Fake News da década de 20 comprometeram o país, batizando a peste com o seu nome. Essa pandemia é considerada a "mãe das pandemias"; lamentavelmente, a primeira vacina contra essa doença  foi produzida somente em 1944.
        Em dezembro de 2019, surgem os primeiros indícios de um surto na China, que viria a se tornar uma pandemia global batizada de Covid-19, alarmando o mundo e exigindo os esforços conjuntos dos governos de países ricos e em desenvolvimento. O tom surrealístico, derivado das medidas de confinamento social, que o coronavírus desencadeou no planeta, será, futuramente, explorado pelo cinema e pela literatura. 

    Que mudanças o capitalismo vigente apresentará (ou não), após o enfraquecimento da pandemia? Haverá um fortalecimento do sistema bancário e das megacorporações, como preveem alguns analistas? O momento é de reflexão e cautela.

        Fiquem em casa, fiquem bem e aproveitem para LER!
             Go home and stay home! Enjoy reading a Book!

sábado, 15 de fevereiro de 2020

MALCOLM-X E AS NOVAS PROVAS DE SEU ASSASSINATO

     
                                        Fonte: Google

    No início de fevereiro deste ano, estreou na plataforma da Netflix uma série documental, "Who killed Malcolm X", direção de Rachel Dretzine e Phil Bertelsen, de 2020, produzida pela própria Netflix. Assisti a todos os capítulos em apenas um dia porque fiquei muito tocada com as imagens de arquivo e com as novas provas encontradas, que poderão elucidar, de vez, quem foram os muçulmanos que executaram o ativista Malcolm-X na tarde de 21 de fevereiro de 1965, aos 39 anos. Foi um homem consciente de sua negritude e de sua pobreza, bem como da violência policial a que a população afro-americana era submetida todos os dias nos EUA, nas décadas de 50 e 60.  

    Batizado Malcolm Little, em 1925, em Nebrasca, ironicamente, de 'pequeno', não tinha nada: era alto, magro, bonito e um altivo orador, que se expressava muito bem, de modo articulado, embora não tenha tido a oportunidade de ingressar em uma universidade. Perdeu seu pai aos seis anos de idade, assassinado por representantes da supremacia branca, possivelmente, ligados à seita paramilitar racista, a Klu Klux Klan, fundada em 1865. Ainda muito jovem, apaixonou-se pelo Harlem em uma visita a Nova York e para lá se mudou. Estive no Harlem duas vezes e pude caminhar pela Boulevard Malcolm-X.

     Segundo o The Washington Post, em uma reportagem assinada por Meagan Flynn, a Procuradoria Pública do distrito de Manhattan, comunicou o jornal por e-mail  que estaria providenciando uma "revisão" no processo de Malcolm-X, no sentido de decidir ou não por uma reinvestigação, considerando-se que, nos EUA, assassinatos não prescrevem. Parece que o New York Times já havia noticiado a possível revisão do caso, antes de a série da Netflix estar disponível na plataforma. Não consegui localizar tal matéria no site do jornal.

     Malcolm, chegando ao Harlem, tornou-se um "fora da lei": foi traficante e cafetão, até ser preso em 1946. Na prisão, teve a chance de ler muito. Fiz uma pesquisa em alguns blogs e encontrei várias listagens de obras. De forma resumida, Malcolm leu textos selecionados de Kant, Schopenhauer e Nietzsche, perscrutou a obra do geneticista Mendel e mergulhou em Sex and Race, de J. A. Rogers, e Negro History, de Carter G. Woodson. Esse último autor foi um historiador negro, fundador da 'Associação para os Estudos da Vida e da História Negra' nos EUA e precursor da semana da história negra, transformada depois no Mês da História Negra, comemorado todos os anos em fevereiro, nos EUA.

      Ainda no período de encarceramento, aproximadamente seis anos cumprindo pena por roubo, Malcolm-X converteu-se ao Islamismo e aderiu à Nação Islã, presidida por Elijah Muhammad, um líder "muçulmano preto", expressão cunhada pelo grupo para diferenciar o "negro", remanescente da escravidão, do muçulmano preto, que era exortado a retornar à sua origem livre africana e muçulmana (dado do blog de Arthur Andrade, de 29 de fevereiro de 2016). Começou a se corresponder por cartas com Ellijah e, em 1952, sai da prisão e passa a "recrutar" jovens para as mesquitas dele, assinando seu nome com um X, porque Little, o pequeno, era entendido por ele como uma herança escravocrata.

     Daí em diante, trabalhou durante 11 anos para Ellijah, ampliou, significativamente, o número de integrantes da Nação Islã, consolidou sua militância separatista e sua estratégia radical de se opor à igualdade racial e ao pacifismo de outros movimentos negros, viajou pelo país como representante do líder, fundou mesquitas e tornou-se um ministro assistente, com mais poder que os próprios filhos do fundador do grupo. A recepção e o destaque que Malcolm foi alcançando no país gerou atritos entre os membros da cúpula da Nação Islã, entre ele e um dos filhos de Ellijah, que não simpatizava com ele, e, aos poucos, Malcolm foi tomando ciência da corrupção disseminada no grupo, dos filhos bastardos de Ellijah e da fortuna acumulada da família.

      Quando o presidente John F. Kennedy foi assassinado em 1963, Malcolm manifestou-se de um modo comprometedor aos olhos da Nação Islã. Dado o fato de que adquirira fama e respeito junto à imprensa, a outros líderes negros, como M. L. King Jr., e à população negra em geral,  tornou-se uma ameaça ao líder Ellijah Muhammad. Na época, Malcolm foi para a Flórida e aproximou-se do pugilista Cassius Clay, que também se converteu ao Islamismo,  imaginando que a iniciativa lhe traria prestígio junto à Nação Islã. Todavia, Malcolm foi silenciado, humilhado publicamente e afastado do grupo, além de proibido de falar em nome dos representantes da mesquita a qual frequentava.

       Rompendo, então, definitivamente com Ellijah em 1964, Malcolm aproveita para fazer uma viagem à Meca, na Arábia Saudita, e compreende o quanto o Islamismo havia sido deturpado em seu país. Em seu retorno aos EUA, funda seu próprio movimento, a Organização da Unidade Afro-Americana, de natureza laica e não sectária, manifestando um tom mais brando em seu ativismo. A Nação Islã reagiu brutalmente e, na tarde de 21 de fevereiro de 1965, Malcolm foi palestrar para algumas dezenas de pessoas em um auditório em Manhattan. Não havia policiamento, somente um segurança no local. Quatro homens apareceram armados e o executaram com tiros de calibres 38 e 45 e de uma espingarda; ninguém sabia quem eles eram. 

  Três homens foram presos; dois deles sempre se autoproclamaram inocentes. Descobriu-se há pouco tempo, revelação chocante feita pela série da Netflix, que o segurança pessoal de Malcolm era do FBI, que a Polícia nova-iorquina foi conivente com a injusta prisão de dois deles, que os assassinos eram negros muçulmanos de uma mesquita de Newark e que o próprio FBI esteve infiltrado na comunidade de Ellijah Muhammad o tempo todo, através de vários agentes. 

   Malcolm-X, ou Al Hajj Malik Al-Shabazz, deixou uma esposa grávida e quatro meninas, que presenciaram o assassinato do pai. Recomendo que vocês assistam à série e que tirem suas conclusões. Há muitos mais detalhes a serem descortinados neste ano, se houver uma séria reinvestigação sobre a trágica morte de Malcolm-X.

                     R.I.P., Malcolm-X (1925-1965)!



      

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