Fui assistir no domingo à noite ao remake do Tron, um filme futurista realizado com o suporte tecnológico, que, na época, final da década de 80, era possível acessar. Assisti ao filme-matriz em VHS, não me lembro em que ano. Os críticos comentam que o Tron original não fez o sucesso esperado porque tinha uma linguagem nova, avant la lettre!
O remake do Tron é carregado de efeitos digitais, simulações visuais, movimentos geometrizados fantásticos, que deixariam um cientista do início do século XX eletrizado... O roteiro é interessante e pode ser alvo de uma leitura metafísico-sociopolítica. Os programas dos falecidos videogames da década de 80, encarnados em personagens, rebelam-se contra a tirania do usuário que os criou, o Criador.
Dá para compreender a engenhoca? É como se, na era da robótica, os robôs atingissem uma perfeição tal que pudessem questionar e se insurgir contra seus usuários. Mais longe ainda, é como se os obsoletos I-Pods (traduzindo: ‘os portáteis que todos nós, Eu/vocês, desejamos’) pudessem ter vida própria e criar um tipo de conflito civil contra os mentores/criadores dos celulares de alta tecnologia, equipamentos que os absorveram, os smarthphones e toda a geração hightech de comunicação digital dos noughties, a primeira década dos anos 2000, como os americanos a batizaram.
Muito interessante refletir sobre a ficção em que os personagens de programas de videogame, dos 80, revoltam-se contra seus ‘controladores’. É fácil e automático admirar-se com a ficção tecnológica. Difícil, mazela de nossos tempos, é espantar-se com a nossa própria realidade e reagir, coletivamente, contra ela.
Na vida real, que, não raras vezes, até parece ficção, uma Matrix, referindo-me ao primeiro longa da trilogia, de 1999, o que fazer quando o grupo dos Morpheus (do Mal) ministra instruções e logística aos ‘mocinhos’ liderados por Neo (do Bem)? Neste jogo de lasers, neons e espelhamentos, não sabemos mais quem é de cá e quem é de lá.
Que em 2011, fiquemos mais ligados na essência dos eventos e menos nas aparências!