Meu amigo e ex-aluno Fabiano Felten, que, como eu, também gerencia um blog, diga-se de passagem inteligente e atual, escreveu neste final de semana sobre o tema que eu já havia decidido para esta coluna: o aumento dos salários dos parlamentares.
A crônica do Fabiano intitula-se ‘presente de grego’, reportando-se ao cavalo de madeira que os aqueus ofertaram aos troianos, na epopeia de Homero. O episódio da diplomação da semana passada, das manifestações de alguns de nossos representantes, associadas à notícia do aumento de seus salários, deixou-me demasiadamente chocada que, confesso, escrevo estas linhas mais por obrigação formal que por prazer.
A realidade da política nacional lembra-me dos personagens e das observações astutas dos contos de Machado de Assis, especialmente os reunidos em “Histórias sem data”, “Papéis avulsos” e “Várias Histórias”. Um bom presente de Natal, leitor, para quem quer presentear alguém que, além de ler boa literatura, é perspicaz para compreender a profundidade e a atualidade da narrativa ficcional de Machado enquanto um inequívoco libelo contra, sobretudo, a mediocridade humana.
Deixo-lhe, leitor, de presente de Natal (não é um presente de grego, não!), uma singela recomendação de leitura, o conto ‘A Teoria do Medalhão’, que está no livro “Papéis avulsos”, de Machado de Assis, publicado em 1882.
O conto utiliza-se da engenhosa imagem do medalhão, que tem uma face que é opaca, suada e sem atrativos, colada à pele do usuário. A outra, entretanto, a que fica como alvo dos olhos dos outros, é brilhante, vistosa, constituída de atrativos como metais ou pedras.
Fica aí uma provocação para que, neste final de ano, todos reflitamos sobre os “medalhões” que nos representam e sobre aqueles, em particular, que cada cidadão referendou. Um Feliz Natal a todos, muita paz interior e muita saúde a todos os leitores do Diário Regional.
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