terça-feira, 8 de dezembro de 2020

THE LIFE WITHOUT JOHN LENNON - 40 YEARS OF HIS DEATH (1980, December 8th)

          Fonte: Youtube                  
 
       I woke up today thinking particulary of Lennon. I was 19 years old when he was murdered in New York. What a sadness! I am listening to Imagine now! Below, I will  share his lyrics as a way to honor this man, artist and peace activist!

  

                            R.I.P. John Lennon!

 

 Imagine (1971)

 Imagine there's no heaven

It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people living life in peace, you
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people sharing all the world, you
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will be as one

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

OS 120 ANOS DE MORTE DE OSCAR WILDE - 30 DE NOVEMBRO DE 1900

               
                         
 Canal de Tatiana Feltrin: Youtube, 2020.

               

          A morte de Oscar Wilde foi muito triste, no completo abandono, desacreditado, com sua saúde debilitada, afastado de seus filhos e desorientado, na Paris de 1900. A blogueira Tatiana Feltrin, acima, comenta a monumental biografia de Oscar Wilde, escrita por Richard Ellmann. Vale a pena ouvi-la.
       Não tenho fôlego, nem vontade de escrever hoje, neste final de 2020, ano de perdas, mortes e pobreza para muitos.
        Segue um trecho do longo poema epistolar, escrito na prisão de Reading, UK, intitulado "De Profundis", e destinado ao seu amante, Alfred Douglas, apelidado de "Bosie".

              R.I.P., Wilde, um de meus grandes ídolos!


[...] The gods had given me almost everything. But I let myself be lured into long spells of senseless and sensual ease. I amused myself with being a FLANEUR, a dandy, a man of fashion. I surrounded myself with the smaller natures and the meaner minds. I became the spendthrift of my own genius, and to waste an eternal youth gave me a curious joy. Tired of being on the heights, I deliberately went to the depths in the search for new sensation. What the paradox was to me in the sphere of thought, perversity became to me in the sphere of passion. Desire, at the end, was a malady, or a madness, or both. I grew careless of the lives of others. I took pleasure where it pleased me, and passed on. I forgot that every little action of the common day makes or unmakes character, and that therefore what one has done in the secret chamber one has some day to cry aloud on the housetop. I ceased to be lord over myself. I was no longer the captain of my soul, and did not know it. I allowed pleasure to dominate me. I ended in horrible disgrace. There is only one thing for me now, absolute humility [...].  (In: www.dominiopublico.gov.br)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

160 ANOS DE MORTE DE ARTHUR SCHOPENHAUER (21 DE SETEMBRO DE 2020)

                                                   

                                              Fonte: Youtube

                                      Arthur Schopenhauer (1788-1860)

 

         Meu filósofo predileto, aquele que é considerado pela crítica filosófica de "irracionalista" e de "budista". Parece que nunca praticou a meditação, mas conseguiu compreender a essência da indestrutibilidade do ser após a putrefação cadavérica.
         Aprecio sua metafísica a tal ponto, que comecei a estudar Alemão em 2011 para lançar meu primeiro livro de tradução: seis ensaios de Parerga e Paralipomena, de 1851, que ainda não haviam sido publicados em Português no formato de livro. O trabalho foi editado pela Editora Zouk, de Porto Alegre, em 2016, e ainda está em seu catálogo. Existem dois volumes: o bilíngue e a edição apenas em Português, bem mais acessível. Encomendei a imagem da capa para um fotógrafo, o Erion Lara, quem produziu a expressão pictórica exatamente como a sonhei. Ficou muito linda e está relacionada com o conceito de Vontade na Natureza! A supervisão da tradução foi realizada por meu professor de Alemão, entre 2011 e 2015, Gilson Klemz, e pelo tradutor mineiro e professor de Estudos Clássicos da UFPR, Guilherme Gontijo Flores.
        Tive uma imensa alegria quando os seis ensaios foram traduzidos e finalizados para a edição. Meu trabalho é imperfeito; eu alteraria e corrigiria vários trechos, quatro anos depois. Todavia, foi minha primeira tentativa e tenho orgulho da coragem e do esforço investidos no projeto.
        No ano de 2011, estive em sua sepultura, no Cemitério Municipal de Frankfurt, na companhia de Rafael Trapp. Foi logo após essa experiência emocional, quase uma epifania, que decidi aprender mais um idioma, a de Goethe, e embrenhar-me nos originais do Parerga und Paralipomena, de Arthur Schopenhauer.

                            



                                           

                            


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

MEU QUERIDO BUKOWSKI

                                                   Fonte: Youtube

 

      Deixei passar a data, mas ainda está em tempo. O mundo literário comemorou a passagem dos 100 anos de nascimento de Charles Bukowski (seu alterego era Henry Chinaski) no dia 16 de agosto de 2020. Nascido na Alemanha, foi levado para os EUA aos três anos. Cresceu na Califórnia e testemunhou uma série de eventos que marcaram sua carreira de escritor. Foi contemporâneo da geração Beatnik, mas não participou do grupo e não comungou de seus pressupostos. Pelas mãos de uma grande amiga, há 40 anos, li, pela primeira vez, a prosa de Bukowski no original, muito tempo antes de as traduções de suas obras surgirem vertidas para o português. Há alguns poemas que me tocam até hoje e, abaixo, selecionei um deles para o ensejo. Espero que gostem e que leiam o mestre.

 

Os melhores da raça

(tradução livre do original)

Não há nada para
discutir
Não há nada para
rememorar
Não há nada para
olvidar

É triste
e
não é

Parece que a
coisa mais
acertada
que uma pessoa pode
realizar é se sentar com um drink
na mão
enquanto as paredes
emanam sorrisos
de adeus

Uns passam por
tudo isso
com eficácia e
bravura
e então
vão embora

Alguns acatam
a possibilidade de
Deus lhes ajudar a suportar

Outros
aguentam no osso

E, para esses,
Eu bebo esta noite.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

ESTÉTICA E SOCIEDADE DE CONSUMO: AS 'ILUSÕES PERDIDAS' DE BALZAC





                      OS 170 ANOS DE MORTE DE
                            HONORÉ DE BALZAC

                En l'honneur d'un grand artiste, Balzac



                                     Para Marcelo R. Lucas, com admiração e afeto


    Reluto ao escrever que Balzac (1799-1850) foi um romancista e jornalista "francês". Ele é do mundo, meu e teu também. Como o é Machado de Assis, brasileiro e patrimônio pertencente à humanidade.  Um dos autores modernos que mais amo é Honoré, se me permitem a intimidade, na medida em que o li bastante ao longo de minha vida. A universalidade de sua narrativa realista irrompe fronteiras e confere-lhe um lugar em um púlpito, iluminado e inatacável, dentre as celebridades da literatura moderna.
      Balzac, juntamente com Stendhal (batizado com o nome de Marie-Henry Beyle, 1783-1842), é um dos pilares do romance moderno. Com a queda do Antigo Regime, na França, a aristocracia sobreviveu alinhada à lógica da burguesia ascendente. O próprio Balzac era um aristocrata conservador, que tinha uma profunda consciência das forças conflitivas que operavam na sociedade francesa do século XIX.
      Uma das "ilusões perdidas" - reportando-me a um de seus romances no âmbito do conjunto de sua obra monumental intitulada "A comédia humana" -, a que faz referência no título do livro, é o desvanecimento do valor estético da obra artística, em detrimento do valor econômico.
       O inventário que Balzac constrói da intrincada rede dos costumes do universo francês, seja da "fauna e da flora parisienses", como da tipologia provinciana, alçaram-no à condição de analista, voltando seu olhar arguto às contradições da classe burguesa e de todos os estratos sociais em que vidas humanas se manifestem e se refestelem, em um período que vai, aproximadamente, de 1829 a  1847, perfazendo 88 títulos de romances, novelas e contos.    
    Escrevia com voracidade e rapidez, muitas vezes sem um maior apuro formal, o que lhe rendia críticas de parte de seus contemporâneos, especialmente do escritor Gustave Flaubert (autor de "Madame Bovary", publicação de 1856, fortemente influenciada pela obra do próprio Balzac).
    Balzac fazia dinheiro com sua obra e ele compreendia que a regularidade nas trocas, chancelada por uma economia monetária, configurava e garantia a manutenção da sociedade burguesa, cujas relações eram mediadas pelo dinheiro. Anotava com pressa - e levantava uma fortuna!
    Recomendo a leitura de um de seus romances, "O pai Goriot", o que mais aprecio, para quem nunca se iniciou no universo balzaquiano. Abaixo, segue um aperitivo da narrativa dos costumes de Balzac, extraído desse livro:

     [...] "No dia seguinte, Rastignac vestiu-se com toda a elegância e foi, por volta das três horas da tarde, à casa da Sra. de Restaud (...). Chegou afinal à Rue du Helder e perguntou pela condessa de Restaud. Com a raiva fria de um homem seguro de triunfar um dia, recebeu o olhar de desprezo das pessoas que o tinham visto atravessar o pátio a pé, sem terem ouvido o ruído de um veículo na porta. Tal olhar magoou-o ainda mais porque já compreendera sua inferioridade ao entrar naquele pátio, no qual bufava um belo cavalo ricamente atrelado a um desses cabriolés engalanados, que ostentam o luxo de uma existência dissipadora e subentendem o hábito de todas as felicidades parisienses". [...]


        É possível, pois, compreender a admiração que Marx e Engels nutriam pela obra balzaquiana. Em uma carta, já muitas vezes resgatada pela crítica da literatura, Engels comenta que Balzac descreveu, quase que ano após ano, de 1816 a 1848, a ascensão progressiva da burguesia sobre a sociedade de nobres, que sucumbia, gradualmente, ante a invasão dos "vulgares arrivistas endinheirados" (excerto da carta de Engels a Margaret Harkness, abril de 1888).
       Marx, por outro lado, apreciava um dos contos de Balzac, "A obra-prima ignorada", que perscruta a alma de um artista em sua obcecada busca pela perfeição formal (em um pano de fundo no qual se brandia contra a arte pela arte), alegoria com a qual, suponho, o escritor alemão se identificava 
    Segundo György Lukács (1885-1971), um marxista e crítico literário húngaro (considerado o Marx da Estética), a arte realista, utilizando a obra de Balzac como paradigma, é a que engendra uma práxis social capaz de reabilitar a aura da obra de arte, sob os auspícios de uma sociedade fetichizada e assentada em forças reificadoras. A proeminência da narrativa realista sobre outras existentes é sua tese abordada no livro de ensaios "Marxismo e teoria da literatura", um enfoque materialista da História da Literatura Moderna.
     Dissecando o conto de Balzac, que Marx admirava, Lukács desvela, analiticamente, a busca do artista pela Beleza e pela perfeição, além de sua luta contra a decadência da sociedade burguesa e o consequente arrefecimento do fazer estético-artístico. O enaltecimento do Realismo, enquanto única narrativa possível, promove o gênero literário a um método revolucionário, abrilhantando Balzac, em seus 170 anos de morte, em 18 de agosto, e atualizando sua "comédia humana", que pode nos dar subsídios para avaliar a tragédia humana, que assola a humanidade neste sagrado ano de 2020.

                           Merci beaucoup, Honoré!

        
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

BALZAC. O pai Goriot (1835) e o conto "A obra-prima ignorada" (1831)
LUKÁCS. O romance histórico.
LUKÁCS. Ensaios sobre a literatura.
MARX E ENGELS. Correspondência.

 




terça-feira, 9 de junho de 2020

CHARLES DICKENS E AS COMEMORAÇÕES PELA PASSAGEM DE SEUS 150 ANOS DE MORTE



                                 (Fonte: You Tube)

Hoje, os amantes da literatura universal lembrar-se-ão do aniversário de 150 anos de morte de Charles Dickens (1812-1870). Ele foi um dos maiores escritores britânicos da era vitoriana. Aprendeu o Inglês e o Latim com sua própria mãe e tornou-se um fervoroso leitor na adolescência, prática interrompida pelo trabalho em uma fábrica aos 12 anos. Por conta do convívio com a classe trabalhadora, pôde observar, analisar e eternizar em suas obras a pobreza, a criminalidade, a injustiça, as ruas de Londres enegrecidas pelo carvão, a violência e as péssimas condições de trabalho durante a Revolução Industrial, na Inglaterra.
No sábado à noite, em Londres, a Abadia de Westminster, em parceria com o Museu Charles Dickens, promoveu um espetáculo, sem plateia por conta do coronavírus: efeitos visuais coloridos projetados na West Tower da abadia, associados a uma trilha sonora dramática, protagonizaram uma grande homenagem ao escritor (Fonte: www.westminster-abbey.org).
Para quem não conhece a obra de Dickens, uma boa dica é começar pelo "Um Conto de Natal", muito popular no mundo todo, em que o velho e avaro Scrooge recebe uma visita inesperada na véspera de Natal e sua vida muda para sempre.
Os livros protagonizados por crianças também atraem o público de todas as idades, como "Oliver Twist" e David Copperfield", essa considerada a obra-prima do escritor britânico mesclada por dados autobiográficos.
Por fim, talvez o de maior repercussão no final do século XIX, porque publicado em partes, semanalmente,  em uma revista entre 1860 e 1861, mas, hoje, um pouco esquecido, o texto "Grandes Esperanças", o livro que eu mais amo de Dickens e no qual encontrei o protagonista Pip, cheio de bondade e de culpa, que perpassa um caminho de aventuras e de dores entre a pobreza e a ascensão social.

Uma boa oportunidade para adentrar a obra de Dickens nesta quarentena! #fiqueemcasa#
                                           #leialivros#

sábado, 4 de abril de 2020

OS 500 ANOS DE MORTE DE RAFFAELLO (1483-1520)

      
No início de março de 2020, antes da pandemia e das normativas para o isolamento social, italianos e estrangeiros que estavam em Roma tiveram o privilégio de visitar a grande mostra dos 500 anos de morte de Raffaello ou Rafael Sanzio, como o conhecemos em língua portuguesa. Acompanhei as matérias na imprensa italiana e fiz um percurso virtual pela mostra. Já testemunhei, ao vivo, o esplendor da produção pictórica da Renascença, uma vez que passei por alguns museus italianos que albergam as telas do artista.

Uma espécie de gozo estético arrebatou-me quando deparei-me, na Galleria degli Uffizi (estive lá, pela segunda vez, em 2017), com as telas Retrato do Papa Leão X com dois cardeais (1517-1518), Retrato do Papa Júlio II (1512) e Autorretrato (1505-1506). Esses dois papas, dentre outros,  incentivaram e financiaram a produção artística renascentista, especialmente a partir de 1506, quando a Basílica de São Pedro começou a ser construída sobre a de Constantino, que precisou ser demolida. Na Galeria Borghese, contemplei a tela A dama do unicórnio (1505-1506) e, em Nápoles, no Museu Nacional Capodimonte, o Retrato do Cardeal Alessandro Farnese (1512).

Rafael fez parte do Triunvirato da Alta Renascença, constituído também por Miguelangelo (1475-1564) e Leonardo Da Vinci (1452-1519). Com apenas 21 anos, ainda estava perscrutando seu caminho na pintura, uma escolha entre o Classicismo e a Arte Acadêmica. Logo, Rafael caiu nas graças do Papado e foi contratado para criar vários afrescos para uma das salas do Palácio Apostólico, local em que o Papa Júlio II fazia seus despachos. Denomina-se Stanza della Segnatura e é nela que se encontra o afresco que eu mais desejava ver e dele desfrutar: Escola de Atenas (1510-1511), medindo 5 metros por 7,7 metros. 

A obra impressionou-se muito pela dimensão. Eu não imaginava que era monumental! O que eu buscava na tela eram os sábios, que tinham relação direta com a minha vida acadêmica na área filosófica. Estavam lá Sócrates, Heráclito, Parmênides, Platão, Aristóteles e outros. O núcleo do afresco está pontuado por Platão e Aristóteles. O primeiro segura a obra Timeu, que aborda a origem do universo. Platão aponta uma mão para o alto, em busca de seu mundo das ideias, no qual se localiza, segundo ele, o verdadeiro conhecimento. Aristóteles, não concordando com o mestre, alonga seu braço e sua mão em direção do chão, no qual estão dispostos os objetos sensíveis. Ele carrega na outra mão sua Ética a Nicômaco. Há uma tensão entre as duas figuras, espraiada pelos outros sábios que se encontram à direita e à esquerda do centro. Não é possível fotografar na sala de Rafael; assim, abaixo, deixo a vocês um pequeno vídeo de uma professora portuguesa:

                                    Scuola di Atene, Raffaello  (Fonte: You Tube)         

Na mesma sala da Stanza, estão outros afrescos. Dois deles são especialmente belos para mim: A Filosofia (1509-1511) e A Poesia (1509-1511). A visita aos Museus do Vaticano levou horas. Passei quase dois turnos lá dentro até a finalização do percurso na Capela Sistina, uma emoção indescritível!

Na segunda-feira, 6 de abril, o mundo das Artes comemorará a efeméride dos 500 anos de morte desse grande artista. A megaexposição está acontecendo no Palácio Le Scuderie del Quirinale. É uma promoção conjunta com a Galleria degli Uffizi, de Florença. Tem o apoio da Galleria Borghese, Musei Vaticano e Parco Archeologico del Colosseo. A mostra seguirá, inicialmente, até o dia 2 de junho, mas espera-se que seja prorrogada por força do momento que todos vivenciamos. A curadoria é de Marzia Faietti e Matteo Lafranconi.

segunda-feira, 23 de março de 2020

PESTES E PANDEMIAS AO LONGO DA HISTÓRIA

   
  (O Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel, o Velho. Fonte: Google)

        No site da Live Science, em colaboração com All About History (www.livescience.com), encontrei um artigo muito interessante sobre as pestes, epidemias e pandemias, que devastaram a população mundial ao longo da História, assinado por Owen Jarus, jornalista científico com formação na Universidade de Toronto. Verti para o Português alguns trechos, em tradução livre, e as costurei com informações que obtive em outras leituras, na perspectiva diacrônica, para tentar compreender que possíveis mudanças (ou não) podem ser detectadas nas sociedades no período pós-epidêmico.
  Foram encontrados esqueletos humanos de, aproximadamente, cinco mil anos no Nordeste da China. Esse sítio arqueológico bem-conservado chama-se Hamin Mangha e sugere que uma epidemia tenha feito muitas vítimas - homens, mulheres, crianças, jovens e idosos -, em um povoado "pré-histórico", considerando que o material humano estava confinado em uma espécie de casa, que sofreu um incêndio no mesmo período da datação.
     Tucídides (460 a. C - 400 a. C.), um dos grandes historiadores da Grécia Antiga, relata em sua obra A História da Guerra do Peloponeso, que, por volta de 430 a. C., uma epidemia assolou Atenas por cinco anos, vitimando 100 mil pessoas, ocorrida durante a vigência da guerra contra Esparta. Os doentes apresentavam calores violentos na cabeça, segundo o historiador, e suas gargantas e línguas sangravam, provocando uma respiração ofegante e um odor fétido. Os estudiosos não chegaram a uma conclusão definitiva por falta de evidências; todavia, aludem à Febre Tifóide ou mesmo ao Ebola. Atenas foi enfraquecendo suas defesas e acabou perdendo a guerra para Esparta.
    A Peste Antonina matou mais de cinco milhões de pessoas no Império Romano (entre 27 a. C e 180 d. C), no retorno das legiões romanas para casa, conforme pesquisa acadêmica conduzida pela Prof. April Pudsay, da Universidade Metropolitana de Manchester.  As perdas e mortes causaram uma profunda instabilidade ao império, que viu crescer as invasões de povos "bárbaros" e a consolidação do Cristianismo em seu território. 
   O Império Bizantino foi quase aniquilado por uma epidemia, que vitimou cerca de 10% da população mundial à época. A doença recebeu o nome do Imperador Justiniano I (527 d. C. - 565 d. C.), a Praga de Justiniano, que governava  Constantinopla no auge de sua expansão geopolítica. Foi Justiniano quem mandou construir a catedral Hagia Sophia, para se ter uma ideia da dimensão de suas realizações. Ele acabou contaminado pela peste, porém, recuperou-se. O momento pós-doença no império marcou o declínio paulatino do poder de Bizâncio e a consequente perda de seus territórios, nos séculos subsequentes, até sua derrocada definitiva no século XV.
    A Peste Negra ou Peste Bubônica (1346 - 1353)  deslocou-se da Ásia para a Europa, deixando destruição em seu rastro. Foi causada por uma cepa da bactéria Yersinia Pestis, espalhada por pulgas de roedores contaminados. Estima-se que 25 milhões de europeus tenham morrido em um período que varia de cinco a sete anos. A Peste Negra mudou o rumo da história europeia, uma vez que, com uma mão de obra escassa, o Feudalismo foi entrando em ruína, o sistema de servidão foi colapsando e uma inovação tecnológica instalou-se entre os trabalhadores, que passaram a ter uma remuneração maior, o que garantiu que se alimentassem melhor.  
     Por fim, a Gripe Espanhola (1918-1920), que não se originou na Espanha, surgiu no último ano da Primeira Guerra Mundial (a Espanha não participou do confronto) e alastrou-se, rapidamente, pelo planeta. Seu alto grau de contágio e letalidade infectou 500 milhões de pessoas, aproximadamente, através de três ondas de proliferação, e matou quase 50 milhões no mundo. O nome da gripe, talvez, tenha se difundido porque a imprensa espanhola foi muito atuante na divulgação da doença e não esteve sob a censura dos países em guerra. Fake News da década de 20 comprometeram o país, batizando a peste com o seu nome. Essa pandemia é considerada a "mãe das pandemias"; lamentavelmente, a primeira vacina contra essa doença  foi produzida somente em 1944.
        Em dezembro de 2019, surgem os primeiros indícios de um surto na China, que viria a se tornar uma pandemia global batizada de Covid-19, alarmando o mundo e exigindo os esforços conjuntos dos governos de países ricos e em desenvolvimento. O tom surrealístico, derivado das medidas de confinamento social, que o coronavírus desencadeou no planeta, será, futuramente, explorado pelo cinema e pela literatura. 

    Que mudanças o capitalismo vigente apresentará (ou não), após o enfraquecimento da pandemia? Haverá um fortalecimento do sistema bancário e das megacorporações, como preveem alguns analistas? O momento é de reflexão e cautela.

        Fiquem em casa, fiquem bem e aproveitem para LER!
             Go home and stay home! Enjoy reading a Book!

sábado, 15 de fevereiro de 2020

MALCOLM-X E AS NOVAS PROVAS DE SEU ASSASSINATO

     
                                        Fonte: Google

    No início de fevereiro deste ano, estreou na plataforma da Netflix uma série documental, "Who killed Malcolm X", direção de Rachel Dretzine e Phil Bertelsen, de 2020, produzida pela própria Netflix. Assisti a todos os capítulos em apenas um dia porque fiquei muito tocada com as imagens de arquivo e com as novas provas encontradas, que poderão elucidar, de vez, quem foram os muçulmanos que executaram o ativista Malcolm-X na tarde de 21 de fevereiro de 1965, aos 39 anos. Foi um homem consciente de sua negritude e de sua pobreza, bem como da violência policial a que a população afro-americana era submetida todos os dias nos EUA, nas décadas de 50 e 60.  

    Batizado Malcolm Little, em 1925, em Nebrasca, ironicamente, de 'pequeno', não tinha nada: era alto, magro, bonito e um altivo orador, que se expressava muito bem, de modo articulado, embora não tenha tido a oportunidade de ingressar em uma universidade. Perdeu seu pai aos seis anos de idade, assassinado por representantes da supremacia branca, possivelmente, ligados à seita paramilitar racista, a Klu Klux Klan, fundada em 1865. Ainda muito jovem, apaixonou-se pelo Harlem em uma visita a Nova York e para lá se mudou. Estive no Harlem duas vezes e pude caminhar pela Boulevard Malcolm-X.

     Segundo o The Washington Post, em uma reportagem assinada por Meagan Flynn, a Procuradoria Pública do distrito de Manhattan, comunicou o jornal por e-mail  que estaria providenciando uma "revisão" no processo de Malcolm-X, no sentido de decidir ou não por uma reinvestigação, considerando-se que, nos EUA, assassinatos não prescrevem. Parece que o New York Times já havia noticiado a possível revisão do caso, antes de a série da Netflix estar disponível na plataforma. Não consegui localizar tal matéria no site do jornal.

     Malcolm, chegando ao Harlem, tornou-se um "fora da lei": foi traficante e cafetão, até ser preso em 1946. Na prisão, teve a chance de ler muito. Fiz uma pesquisa em alguns blogs e encontrei várias listagens de obras. De forma resumida, Malcolm leu textos selecionados de Kant, Schopenhauer e Nietzsche, perscrutou a obra do geneticista Mendel e mergulhou em Sex and Race, de J. A. Rogers, e Negro History, de Carter G. Woodson. Esse último autor foi um historiador negro, fundador da 'Associação para os Estudos da Vida e da História Negra' nos EUA e precursor da semana da história negra, transformada depois no Mês da História Negra, comemorado todos os anos em fevereiro, nos EUA.

      Ainda no período de encarceramento, aproximadamente seis anos cumprindo pena por roubo, Malcolm-X converteu-se ao Islamismo e aderiu à Nação Islã, presidida por Elijah Muhammad, um líder "muçulmano preto", expressão cunhada pelo grupo para diferenciar o "negro", remanescente da escravidão, do muçulmano preto, que era exortado a retornar à sua origem livre africana e muçulmana (dado do blog de Arthur Andrade, de 29 de fevereiro de 2016). Começou a se corresponder por cartas com Ellijah e, em 1952, sai da prisão e passa a "recrutar" jovens para as mesquitas dele, assinando seu nome com um X, porque Little, o pequeno, era entendido por ele como uma herança escravocrata.

     Daí em diante, trabalhou durante 11 anos para Ellijah, ampliou, significativamente, o número de integrantes da Nação Islã, consolidou sua militância separatista e sua estratégia radical de se opor à igualdade racial e ao pacifismo de outros movimentos negros, viajou pelo país como representante do líder, fundou mesquitas e tornou-se um ministro assistente, com mais poder que os próprios filhos do fundador do grupo. A recepção e o destaque que Malcolm foi alcançando no país gerou atritos entre os membros da cúpula da Nação Islã, entre ele e um dos filhos de Ellijah, que não simpatizava com ele, e, aos poucos, Malcolm foi tomando ciência da corrupção disseminada no grupo, dos filhos bastardos de Ellijah e da fortuna acumulada da família.

      Quando o presidente John F. Kennedy foi assassinado em 1963, Malcolm manifestou-se de um modo comprometedor aos olhos da Nação Islã. Dado o fato de que adquirira fama e respeito junto à imprensa, a outros líderes negros, como M. L. King Jr., e à população negra em geral,  tornou-se uma ameaça ao líder Ellijah Muhammad. Na época, Malcolm foi para a Flórida e aproximou-se do pugilista Cassius Clay, que também se converteu ao Islamismo,  imaginando que a iniciativa lhe traria prestígio junto à Nação Islã. Todavia, Malcolm foi silenciado, humilhado publicamente e afastado do grupo, além de proibido de falar em nome dos representantes da mesquita a qual frequentava.

       Rompendo, então, definitivamente com Ellijah em 1964, Malcolm aproveita para fazer uma viagem à Meca, na Arábia Saudita, e compreende o quanto o Islamismo havia sido deturpado em seu país. Em seu retorno aos EUA, funda seu próprio movimento, a Organização da Unidade Afro-Americana, de natureza laica e não sectária, manifestando um tom mais brando em seu ativismo. A Nação Islã reagiu brutalmente e, na tarde de 21 de fevereiro de 1965, Malcolm foi palestrar para algumas dezenas de pessoas em um auditório em Manhattan. Não havia policiamento, somente um segurança no local. Quatro homens apareceram armados e o executaram com tiros de calibres 38 e 45 e de uma espingarda; ninguém sabia quem eles eram. 

  Três homens foram presos; dois deles sempre se autoproclamaram inocentes. Descobriu-se há pouco tempo, revelação chocante feita pela série da Netflix, que o segurança pessoal de Malcolm era do FBI, que a Polícia nova-iorquina foi conivente com a injusta prisão de dois deles, que os assassinos eram negros muçulmanos de uma mesquita de Newark e que o próprio FBI esteve infiltrado na comunidade de Ellijah Muhammad o tempo todo, através de vários agentes. 

   Malcolm-X, ou Al Hajj Malik Al-Shabazz, deixou uma esposa grávida e quatro meninas, que presenciaram o assassinato do pai. Recomendo que vocês assistam à série e que tirem suas conclusões. Há muitos mais detalhes a serem descortinados neste ano, se houver uma séria reinvestigação sobre a trágica morte de Malcolm-X.

                     R.I.P., Malcolm-X (1925-1965)!



      

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

GÉRARD DE NERVAL: A LOUCURA COMO MODO DE VIDA

    
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 Em uma de minhas caminhadas solitárias por Paris, em 2017, procurei, inutilmente, a antiga Rue de la Vieille-Lanterne, próxima à Praça Châtelet, no atual 4º arrondissement. Resgatando uma triste narrativa, nessa ruela, em uma madrugada fria de 25 de janeiro de 1855, Gérard de Nerval, um dos grandes poetas e novelistas de língua francesa, suicidou-se por enforcamento. Seu cadáver foi encontrado preso a uma grade de uma parede. De dentro do bolso de seu casaco, foram retirados os últimos capítulos da novela Aurélia (ou O Sonho e A Vida), publicada postumamente no mesmo ano. Seu amigo e também poeta francês Théophile Gautier foi quem pagou seu enterro no Cemitério Père-Lachaise, em Paris.
   Gérard de Nerval, para quem não sabe, é um pseudônimo de Gérard Labrunie, nascido em 1808 em uma família abastada. Era filho de um médico do exército napoleônico. Por isso, foi criado por um tio-avô nas dependências da propriedade da família em Mortefontaine, que fica, aproximadamente, a 50km de Paris. Em 1834, Nerval herda essa propriedade de seu pai e mais alguns milhares de francos. Ele viaja, então, pela França e pela Itália. Anos depois, visita a Alemanha na companhia de seu amigo Alexandre Dumas, um notório romancista francês à época. No final de sua vida, com pouco mais de 40 anos, fez uma viagem pelo Oriente, o que lhe causou profundas impressões e inspirou-lhe a escritura de um livro de narrativas de natureza mística.
   Gérard de Nerval também era tradutor e um apaixonado por óperas. Aos 19 anos, traduziu o Fausto, de Goethe, para o Francês, adaptado por Berlioz em 1829, ópera divulgada sob o título de Oito cenas de Fausto. Colaborou com Alexandre Dumas em dois libretos de óperas, Piquillo e O Alquimista, e em outras produções literárias. Também assinou sozinho outros libretos.
     Em tenra idade, dominava o Grego e o Latim, que aprendeu com seu pai. Muitos de seus textos, sejam poemas, contos ou peças teatrais, refletem sua formação em estudos clássicos. Nos 165 anos de morte, neste próximo final de semana de janeiro de 2020, gostaria de fazer uma singela homenagem a um visionário, que influenciou a produção textual de vários nomes da literatura universal. 
    Se a Psiquiatria e a saúde mental já tivessem evoluído no segundo quartel do século XIX, talvez, Nerval poderia ter sido salvo de suas crises psicóticas e de suas alucinações, quadro registrado nos internamentos aos quais fora submetido diversas vezes. Sorveu da loucura e enamorou-se da Morte, que o levou desta existência aos 46 anos. Abaixo, deixo um fragmento da novela Aurélia (dedicado a Alexandre Dumas), de 1855, retirado da publicação da Editora Iluminuras, de 1991.



                                      VERSOS DOURADOS                                                                                                                                          Céus! Tudo é sensível                                                                                       (Pitágoras)                                                                              
Homem! livre pensador! serás o único que pensa
Neste mundo onde a vida cintila em cada ente?
De tuas forças tua liberdade dispõe naturalmente,
Mas teus conselhos todos o universo dispensa.
Honra na fera o espírito que fermenta…
Cada flor é uma alma em Natura nascente;
Um mistério de amor no metal reside dormente;
“Tudo é sensível!” E poderoso em teu ser se apresenta.
Receia, no muro cego, um olhar curioso:
À própria matéria encontra-se um verbo unido…
Não te sirvas dela para qualquer fim impiedoso!
Quase sempre no ser obscuro mora um Deus escondido.
E, como um olho novo coberto por suas pálpebras,
Um espírito puro medra sob a crosta das pedras!

                                          VERS DORÉS
                                                                Eh quoi! tout est sensible!                                                                                                   (Pythagore)
Homme, libre penseur ! te crois-tu seul pensant
Dans ce monde où la vie éclate en toute chose?
Des forces que tu tiens ta liberté dispose,
Mais de tous tes conseils l’univers est absent.
Respecte dans la bête un esprit agissant:
Chaque fleur est une âme à la Nature éclose;
Un mystère d’amour dans le métal repose;
« Tout est sensible ! » Et tout sur ton être est puissant.
Crains, dans le mur aveugle, un regard qui t’épie:
À la matière même un verbe est attaché…
Ne la fais pas servir à quelque usage impie!
Souvent dans l’être obscur habite un Dieu caché;
Et comme un œil naissant couvert par ses paupières,
Un pur esprit s’accroît sous l’écorce des pierres!
   Tradução de Luís Augusto Contador Borges 

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