segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO

Na semana que passou, fiquei muito preocupada com minha família, que vive no Rio de Janeiro. A cidade “maravilhosa” encanta aqueles que a veem apenas com os olhos, com fome estetizante, mas para aqueles que a encaram com a ‘alma’ – e refletem – há uma ordem de coisas que tem de mudar por lá há muito tempo.

Já estive no RJ em momentos de exceção, com tanques do Exército estacionados na esquina do Botafogo, antes de a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) conquistar o Morro de Santa Marta. Há um medo constante que paira sobre os residentes, sejam da zona Sul ou de áreas de confronto. Já senti isso, estando lá, e pude conversar com cariocas que são assolados por tiroteios entre facções do tráfico há anos.

O problema no Complexo do Alemão parece que foi resolvido. Não houve ações após o domingo à noite. Resgatei Maquiavel novamente, tema de minha reflexão na última coluna, no sentido de que um ‘príncipe’, mesmo que não possua todas as qualidades adequadas a quem governa, tem de parecer que as possui. Nessa dialética da essência/aparência, vimos o arsenal de guerra que foi colocado na rua, para gringo ver em jornais internacionais e se admirar.

Por que o Governo só age em situações-limite? E as medidas preventivas e permanentes que deveriam se instalar no corpo das comunidades cariocas? Sabe-se que eliminando as ‘cabeças graúdas’ do tráfico não se extirpará a rede de violência e criminalidade instituída na sociedade.

E o papel da mídia nisso tudo? Novamente, viu-se nas fotos da imprensa escrita e nas imagens das redes televisivas um ‘espetáculo’ trágico, que, a alguns, nem sensibiliza mais, tal a banalização da violência a que chegamos em nossa sociedade. O ‘coro’? Sempre presente...

O Rio de Janeiro deveria se orgulhar por abrigar intelectuais de peso, como o Ruben Cesar Fernandes, fundador da ONG Viva Rio, ou o Luiz Eduardo Soares, docente da UERJ e ex-Secretário Nacional de Segurança. Alguém os ouviu falar na TV ou leu alguma entrevista na imprensa na semana que passou sobre as ‘invasões’ previstas das comunidades do tráfico? Eu rastreei, mas não encontrei nada.

Nos estertores do governo estadual do RJ, fica-se a impressão – e trágica – de que não estamos assistindo ao avant première do Tropa de Elite III, mas ao preview de Avatar II: mexendo na ‘caixa de Pandora’!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

NEONAZISTAS DE SANTA CRUZ DO SUL PLANEJANDO ATAQUE!

Pessoal, li esta matéria do Jornal do Brasil hoje cedo, dia 24.11:

"Um grupo de defesa dos direitos dos travestis no Rio Grande do Sul recebeu, na segunda-feira, ameaças por telefone de um suposto neonazista, que disse preparar uma ação na 14ª Parada Livre, evento marcado para o próximo domingo no Parque da Redenção, em Porto Alegre. As informações são do jornal Zero Hora. De acordo com o jornal, o interlocutor procurou por Marcelly Malta, presidente do Igualdade - Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul e organizadora da Parada Livre, e afirmou que neonazistas de Santa Cruz do Sul, município do interior gaúcho, estavam se organizando para o evento. 'Vocês já se aprontem para domingo', teria dito o homem. Em edição anterior da Parada Livre, cartazes que pregavam a morte de homossexuais foram afixados no bairro Bom Fim, onde ocorre a passeata (...)".

Que coisa! Isso saiu em um jornal nacional, de matriz carioca, de respeito! Moro e trabalho em Santa Cruz do Sul. Na medida em que já fui Presidente do Movimento de Direitos Humanos da cidade e ativista da Anistia Internacional, durante dez anos, fico totalmente chocada com esse tipo de matéria e de repercussão!

Aguardo comentários neste blog! Abraço a todos!


terça-feira, 23 de novembro de 2010

A VERGONHA QUE TENHO DE NOSSOS POLÍTICOS!

Ontem, assistindo ao CQC, programa de teor cultural-político-social-econômico, carregado de humor inteligente, acompanhei a entrevista que a Mônica Iozes, a única repórter mulher da equipe, perguntando aos parlamentares o nome do Ministro da Educação. Apenas um deles respondeu à questão corretamente! Isso é um absurdo e eu morri de vergonha com o resultado da reportagem. Um deles sequer sabia o que era o "Enem"! Pode??????????
Alguém de vocês assistiu ao programa também? Algum comentário?
Não é por acaso que deixei de votar há oito anos...
Acompanhem na imprensa internacional o lançamento do livro com entrevistas concedidas pelo papa Bento XVI (que para mim é Benedito!), lançado hoje na Europa! Namaste!

OS ‘PRÍNCIPES’ DO PAPA E O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL


Na semana passada, acompanhamos pela imprensa que Dom Raymundo D. Assis, arcebispo de Aparecida (SP), foi nomeado cardeal pelo Papa Bento XVI (Benedito, originalmente). A América Latina, portanto, possui um enorme colegiado de “príncipes” nomeados pelo papado, contando com mais de 20 deles.

Além disso, dia 23 de novembro, está sendo lançado um livro na Europa intitulado “Light of the World: the Pope, the Church and the Signs of the Times”, algo como, em tradução para o Português, “Luz do mundo: o Papa, a Igreja e os sinais dos tempos”. Trata-se de um conjunto de entrevistas concedidas pelo Papa Bento XVI a um repórter europeu. Em uma delas, e deu o que falar neste final de semana, o Papa admite que o uso de preservativo pode ser importante na luta contra a disseminação de doenças, como a AIDS, no mundo.

Coincidência ou não, neste final de semana acabei de reler “O príncipe” de Maquiavel, por conta do ofício de docente. Publicado em 1532, que leitura maravilhosa e instigante ela é e quão atual! O cerne da análise de Maquiavel dá-se na tensão entre Fortuna (as circunstâncias, expressas pelas forças pagãs da Sorte e do Acaso) e a Virtù (a racionalidade instrumental, ditada pela necessidade e separada das virtudes que conhecemos através da tradição platônica-cristã).

Durante séculos, Maquiavel foi detratado e, poucas vezes, resgatado e reabilitado no meio erudito. A ideia de que o governante perverso, que não mede as consequências, em detrimento de determinados fins, configurando, com isso, um certo maquiavelismo é falaciosa! Prefiro comungar da posição de Norberto Bobbio, que, ainda no final do século XX, vai afirmar que “O Príncipe” apresenta magistralmente a propriedade específica da atividade política. Assim, difere-se do que é moral e religião.

Ler “O príncipe” de Maquiavel, certamente, é uma aventura diferente de assistir ao filminho do Harry Porter, lançamento em cartaz, que tem arrebatado multidões pelo mundo. Todavia, o empoderamento de suas lições nos dá condições de compreender a nossa própria realidade ideológico-política, com mais consistência, e perceber que há muitos mais ‘príncipes’ por aí governando, algo em que a nossa vã filosofia, raras vezes, é capaz de acreditar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

VANUSA, VOCÊ CONHECE O HINO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA?

Não sou gaúcha, sou paulistana. Ao longo de minha educação formal, éramos obrigados a saber vários hinos de cor. Havia aulas de Educação Cívica e, em algumas ocasiões, todos nos reuníamos com o professor de música e cantávamos vários hinos, inclusive o da Proclamação da República e o da Bandeira.

Aqui no Sul, a galera não conhece esses hinos, mas eles existem. Aliás, o Dia da Bandeira é em 19 de novembro. Alguém se lembra disso? Vanusa, você sabe cantar o Hino à Bandeira?

Neste feriado, aproveitei para ler os jornais internacionais. Em Madrid, ocorreu no domingo uma iniciativa muito interessante: o bookcrossing. Trata-se de uma ação ímpar, através da qual 600 voluntários espalharam-se pela capital e colocaram, em pontos aleatórios, até sobre árvores, livros usados e doados para o happening.

Cada transeunte passaria e levaria um livro, de seu interesse, para casa. Ao final da leitura, aguardaria para o próximo evento, no sentido de devolver o livro desfrutado e pegar um outro título. O evento tem o propósito de incentivar a leitura dos madrilenhos e de estabelecer uma grande rede de leitura.

Obviamente, os coordenadores estão contando com o fato de que alguns volumes não serão devolvidos, mas poucos, tendo em vista a natureza humana. O importante é lê-los e, após um tempo, devolvê-los.

Imaginem uma iniciativa dessas em São Paulo ou em Porto Alegre mesmo. Haveria uma única edição do evento! A maior parte dos livros ficaria à disposição dos usuários e, na edição subsequente, não apareceriam mais!

Em um país em que quase não se lê, pouco se visita a rede de museus e pouco se prestigia as produções teatrais e cinematográficas, resta-me ‘rezar, acreditar e esperar’, alusão ao longa que está em cartaz em cinema da cidade (Rezar, Comer e Amar), o ano de 2011 e aguardar para ver se as coisas melhoram - e se a CPMF não volta, não!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

NÃO FUI AO PAUL...


Ontem, não fui ao show do Paul McCartney... Recebi dois torpedos de amigas que estavam no Beira-Rio e avisavam-me do momento exato em que ele entrou no palco.

Nunca gostei do Paul, mas amava o John. A relação entre um e outro me lembra um pouco a de Raul Seixas e Paulo Coelho. O que ficou vivo enriqueceu, fez fama e seguiu arrebatando multidões, cada um em seu segmento.

Toquei uma canção dos Beatles, pela primeira vez, em meu pequeno violão, aos sete anos de idade: “Yellow Submarine”. Até os meus alunos, do alto de seus vinte e poucos anos, conhecem-na. Que poder tem a música!

Se parte da renda do show fosse benemerente, já seriam alguns milhares de reais destinados a alguma nobre causa. Se o show fosse de um ativista de direitos humanos ou de um militante de alguma entidade ecológica relevante, certamente, eu teria pensado em me agilizar para comprar o ingresso.

Ver e ouvir Paul McCartney, no meu entendimento, hoje, 2010, seria pura veleidade, uma vez que sua música continua presa no tempo, não se atualizou e faz menção direta à veia poética e incomparável de John Lennon, que teria completado 70 anos no mês que passou.

O déficit no Reino Unido alcançou uma situação tão feroz, que uma turnê desta envergadura faz sentido para um britânico; todavia o valor do ingresso que a galera jovem pagou é um nonsense exagerado, porque, certamente, nunca comprou livros no valor aproximado de um único ingresso.

Ser brasileiro é viver, a cada dia, as contradições que a mídia escancara. É também cultivar uma boa saúde para suportar as mazelas e os imprevistos que o cenário nacional nos impõe.

Lembrei-me da canção “End of The End” para encerrar a minha crônica e usar o argumento da galerinha que foi ao show: esta talvez seja a última oportunidade para os brasileiros... Nós, em geral, ficamos com a última oportunidade...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

VACAS E LIVROS EM PORTO ALEGRE!

Estive na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, neste feriadão de Finados. Chegando na capital, já na rodoviária, encontrava-se uma das vacas da coleção CowParade, a Vaxi, bem pertinho da parada de táxis do desembarque, concebida por vários artistas plásticos, e espalhadas por Porto Alegre com um tom de alegria e humor.

Já na Feira do Livro, evento declarado bem de natureza imaterial da cidade, não era possível se aproximar com tranquilidade das bancas de livros, muito menos procurar com calma algum saldo nos balaios das editoras e livrarias. Havia muita gente e, na medida em que a tarde caía, a atomização de pessoas – e o vento - aumentavam.

Aproveitei para entrar no Santander Cultural e acompanhar uma palestra sobre poesia polonesa. Após, dei uma checada rápida nas video portraits de Robert Wilson, dispostas no átrio do prédio, conhecido no cenário internacional com um dos grandes nomes do teatro experimental.

De volta à praça, fazendo os caminhos sugeridos pelas próprias bancas de livros, fui parar na área internacional, que, neste ano, estava encolhida. Deve ser caro um stand na Feira do Livro, mais caro ainda um espaço maior na ala internacional da feira! Ali, sim, era possível entrar, olhar, procurar e verificar os valores, porque havia menos pessoas circulando e assediando as prateleiras.

Mais adiante, fui até o setor infanto-juvenil, à beira do Rio Guaíba. Caminhei até o limite das bancas e fiquei sentada a namorar a vista do rio. Com o vento remanescente do ciclone sub-tropical, que acossava o Sul do país, desde o sábado, estava impraticável de se permanecer à margem do Guaíba.

Voltando lentamente, até o ponto de início da caminhada, dei-me conta de que a melhor parte desta feira é a festa que as crianças fazem e o happening, que deixa saudades quando a feira se vai!

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