Na semana que passou, fiquei muito preocupada com minha família, que vive no Rio de Janeiro. A cidade “maravilhosa” encanta aqueles que a veem apenas com os olhos, com fome estetizante, mas para aqueles que a encaram com a ‘alma’ – e refletem – há uma ordem de coisas que tem de mudar por lá há muito tempo.
Já estive no RJ em momentos de exceção, com tanques do Exército estacionados na esquina do Botafogo, antes de a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) conquistar o Morro de Santa Marta. Há um medo constante que paira sobre os residentes, sejam da zona Sul ou de áreas de confronto. Já senti isso, estando lá, e pude conversar com cariocas que são assolados por tiroteios entre facções do tráfico há anos.
O problema no Complexo do Alemão parece que foi resolvido. Não houve ações após o domingo à noite. Resgatei Maquiavel novamente, tema de minha reflexão na última coluna, no sentido de que um ‘príncipe’, mesmo que não possua todas as qualidades adequadas a quem governa, tem de parecer que as possui. Nessa dialética da essência/aparência, vimos o arsenal de guerra que foi colocado na rua, para gringo ver em jornais internacionais e se admirar.
Por que o Governo só age em situações-limite? E as medidas preventivas e permanentes que deveriam se instalar no corpo das comunidades cariocas? Sabe-se que eliminando as ‘cabeças graúdas’ do tráfico não se extirpará a rede de violência e criminalidade instituída na sociedade.
E o papel da mídia nisso tudo? Novamente, viu-se nas fotos da imprensa escrita e nas imagens das redes televisivas um ‘espetáculo’ trágico, que, a alguns, nem sensibiliza mais, tal a banalização da violência a que chegamos em nossa sociedade. O ‘coro’? Sempre presente...
O Rio de Janeiro deveria se orgulhar por abrigar intelectuais de peso, como o Ruben Cesar Fernandes, fundador da ONG Viva Rio, ou o Luiz Eduardo Soares, docente da UERJ e ex-Secretário Nacional de Segurança. Alguém os ouviu falar na TV ou leu alguma entrevista na imprensa na semana que passou sobre as ‘invasões’ previstas das comunidades do tráfico? Eu rastreei, mas não encontrei nada.
Nos estertores do governo estadual do RJ, fica-se a impressão – e trágica – de que não estamos assistindo ao avant première do Tropa de Elite III, mas ao preview de Avatar II: mexendo na ‘caixa de Pandora’!
Gostei muito do texto, e adorei a conclusão, cheia de intertextos.
ResponderExcluirGrande abraço!