Assistir ao documentário "Pina", de 2011, com a tecnologia 3D, que Wim Wenders dedicou à sua amiga pessoal, a coreógrafa Pina Bausch, falecida em 2009, é uma arrebatadora aventura sensorial e estética! Não vou entrar em detalhes neste comentário sobre a trilha, que desfila Louis Armstrong, várias performances de orquestras alemãs, Tchaikovsky etc. O longa é resultado de filmagens de três trabalhos distintos: Café Müller, Le Sacre du Printemps e Vollmond.
Na cena inicial, os bailarinos estão se movimentando por detrás de um fino véu. Com o efeito 3D, parece que o véu esvoaça sobre a plateia de espectadores e cria uma antítese entre aquilo que os espectadores, de óculos, podem enxergar, através do Véu de Maya, e aquilo que a dança é capaz de revelar, tendo como suporte o corpo.
Nos primeiros 15 minutos de filme, há uma menção ao grande bailarino da dança tradicional japonesa, o Butô, Kazuo Ohno, que faleceu em 1º de junho de 2010, no ano subsequente à morte de Pina.
Como esse elemento sutil, pode-se perscrutar a dimensão do universo de Pina, que traz como um de seus legados a tradição do Butô. No final de semana de 19 de março, esteve em Brasília Tadashi Endo (vive em Göttingen, na Alemanha, e foi aluno do mestre Kazuo Ohno), com um espetáculo intitulado "Ikiru - Réquiem para Pina Baush", em que a proposta do bailarino é de obter um máximo de tensão com um mínimo de movimentos.
É isso, em parte, o que encontramos no longa sobre a estética de Pina Bausch: pequenos padrões de movimentos repetitivos com uma estrondosa força dramatúrgica, pedra-de-toque do mosaico de cenas que Wim Wenders 'costurou', enquanto diretor e roteirista.
Nietzsche teria ficado estufefato com a ousadia de seus conterrâneos, em expressarem o caráter transformador da dança e seu trabalho de mimetizar pensamento e linguagem. Indo além, a música e a poesia não são nada separadas da dança, que, na obra de Nietzsche, é a expressão fundamental da estética dionisíaca.
Assim, tendo em vista tais elementos, é possível compreender o sentido da fala de uma das bailarinas em seu depoimento no longa, que reproduz um dos conselhos que Pina lhe dera, em um determinado momento: - Você tem de ser mais louca!
"Louca", dionisíaca ou submetida a uma certa hybris, um descomedimento, tomada de uma vertigem, é justamente a dimensão metafísica que perpassa várias das cenas coreográficas capturadas por Wenders.
Destaco o momento epifânico do longa quando os bailarinos estão em um cenário escuro, com uma grande rocha assentada à direita do enquadramento. De repente, um jato de água começa a verter do teto e um volume d'água, pelo chão, vai redimensionando a cena. Bailarinos atravessam o cenário quase que a nado; outros de pé encharcados dançam de um modo tenso, primitivo, tribal.
As bacantes de Pina, as bacantes do "Tanztheater" de Wuppertal ou as bacantes de Wim Wenders... Quando um artista entra em contato com as profundidades da criação de outro artista, e consegue desvelá-lo e transmutá-lo em uma outra expressão, é difícil de demarcar o que é território de um e de outro.
"Ikiru", em Japonês, quer dizer Vida. Que todos os que prezam a Vida pulsante e estetizante, mesmo sob o jugo do Véu de Maya, assistam ao "Pina"!
Precisamos assisti-lo Rô! Teu texto - lindo texto! - torna isso uma obrigação. Percebo aí um eco de qualquer coisa do Maiakóvski que postei:são essas as nossas armas contra as misérias do cotidiano.
ResponderExcluirBeijos. Confirmaremos o almoço!
Que bom, Aninha, que o leste. Tenho concebido textos bem-trabalhados e tenho sempre o cuidado de não ler as críticas de analistas de cinema antes. Procuro apenas os dados informativos na WEB, durante a confecção do texto, mas não me contamino pelo que já foi escrito antes. Um beijo e obrigada! Estou com saudades de ti e do Fá!
ResponderExcluirOlá, me chamo Filipa e estou na faculdade, tenho uma disciplina que se chama filosofia da arte e da imagem e estou com algumas dificuldades. Vi este texto lindo e então resolvi escrever pode ser que me ajude. tenho um trabalho onde tenho de visualizar o filme Pina e nesse filme arranjar um problema que se relacione com a teoria de Nietzsche e não estou a conseguir de todo. Será que me pode ajudar. muito obrigada.
ResponderExcluirOi, Filipa! Por favor, envia-me o teu e-mail para que eu possa te escrever sobre o tema. Sou docente de Filosofia na Universidade e conheço bastante a estética de Nietzsche. Diz-me onde moras, que curso fazes e em que instituição. Pelo teu texto, parece-me que tu és Portuguesa. Acertei? Abraços! prof. Rosana J. Candeloro
ResponderExcluirMuito obrigada pela resposta. Sim sou Portuguesa. O meu curso é Fotografia e Cultura Visual e estudo no IADE, Escola superior de design - creative university e tenho a disciplina de Filosofia da arte e da imagem, como já referi. Meu mail é fifa_karras@hotmail.com, a primeira proposta do trabalho é para apresentar dia 10 de abril então estou assim aguardando sua resposta.
ExcluirObrigada, bjs
Filipa Carrasquinho
Aqui é feriadão de Páscoa, Filipa. Estou em viagem. Outro aluno de Portugal me procurou, via e-mail, sobre a abordagem do documentário Pina. Bem, para te ajudar, rapidamente, tens de procurar no texto de Nietzsche, 'A Origem da tragédia', justamente a concepção que ele tem de dança. Para ele, foi a dança das bacantes, associada a um tipo de ritmo, que forneceu a dimensão dionisíaca à tragédia grega, que, por força das alterações implantadas por Eurípides e a forte influência que o dramaturgo sofreu do Racionalismo de Sócrates, sumiu da cultura grega em menos de 100 anos.
ResponderExcluirPortanto, a dança é uma expressão estética fundamental para Nietzsche porque ela resgata a porção dionisíaca (referência ao deus Dionísio. Lê sobre ele na WEB), para ele, perdida com a morte da expressão trágica dos gregos.
Não tenho como te ajudar mais agora. Estou em uma lan house. Faz contato e continua me escrevendo. Irei a Portugal em julho para um congresso. Abraços! Rosana Candeloro
Boa tarde professora Rosana Candeloro.
ResponderExcluirO meu nome é Gonçalo e sou estudante de Design em Portugal. Estou a fazer um trabalho de pesquisa acerca do tema Pina Bausch e Nietzsche. Já reparei que alguns colegas da mesma faculdade estão a recorrer a si para ajuda neste trabalho. O objectivo do trabalho é relacionar a obra de Pina com a filosofia de Nietzsche. Será que me podia ajudar com o trabalho, fornecendo-me alguma informação? Estou um bocado perdido na disciplina de Filosofia, pelo que precisava de ajuda de quem realmente perceba do assunto. Deixo o meu contacto para o caso de me poder ajudar: goncalo.de.sousa@hotmail.com
Antes de mais, obrigado pela compreensão.
Gonçalo Sousa